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2006/10/23

Resistirá o Ocidente? 

O Ocidente é o único bloco civilizacional que, actualmente, tolera e inflige sobre si próprio a fractura, a desmoralização e a auto-destruição.

Em países árabes e asiáticos, como o Irão, a Síria, a Coreia do Norte, etc., as mensagens que apelam à coesão e à unidade escorrem em uníssono nos meios de comunicação. Na Rússia, calam-se as vozes incómodas ao regime – como é hábito – com o célebre método do tiro na nuca.

Ainda bem que a jornalista foi assassinada na Rússia. Olhem se fosse na América? O mundo (jornalístico) carregaria o Presidente Bush com as culpas do sucedido, o que daria origem a documentários, filmes, relatórios, conspirações, o regabofe do costume. Assim, sendo na Rússia, não há qualquer suspeita. Putin continuará imperturbável a dirigir os seus destinos.

O Ocidente engole sôfrega e estupidamente os “dois pesos e duas medidas” que a propaganda mediática anti-ocidental lhe põe no prato. Acredita-se em tudo, desde que seja contra os americanos: que nunca foram à Lua, que os atentados de 11/9 foram preparados pelo governo americano, que previamente fez colocar cargas nas Torres Gémeas para implodirem com o impacto das aeronaves, etc.

Esse mesmo Ocidente – dito pacifista – ignora a brutalidade dos genocídios e deportações de Estaline e do Partido Comunista Soviético – devidamente ocultadas e branqueadas – tolerando, ainda hoje, formações políticas com a mesma ideologia, e até com o mesmo nome. Esse Ocidente condena apenas as “guerras imperialistas” mas esquece a violência revolucionária e repressiva “anti-imperialista” de Che Guevara, de Fidel Castro, do Irão de Ahmadinejad, ou da Coreia do Norte de Kim Jong Il.

No Ocidente a propaganda faz bons e maus ditadores, regimes sempre suspeitos de violar os direitos humanos e outros sempre insuspeitos, como o eixo China, Coreia do Norte, Rússia, Irão, Cuba, Venezuela e Bolívia.

O Ocidente queria que a intervenção no Iraque fosse breve. De acordo.

Mas esquece-se de que do outro lado há uma poderosa organização terrorista, para nós, que estamos à distância, invisível. Mas, alguém acredita que os atentados que diariamente acossam as cidades e vilas do Iraque decorrem espontaneamente da população civil? Era interessante saber em pormenor quem e quais as forças que ali dirigem o terrorismo, isto é, quem está por trás daquilo. E aí, talvez houvesse surpresas.

Quem sabe se a linha de guerra ao terrorismo não tivesse sido traçada no Médio Oriente, não estaria já na Europa?

O que espanta é o efeito da propaganda: os ocidentais acabam por desconfiar dos seus líderes políticos, como Bush ou Blair, e triturá-los, sem se importar com o que está do outro lado, nem que os destinos do mundo fiquem entregues a homens como Ahmadinejad, Putin, Kim Jong Il ou Hugo Chávez, que se divertem a provocar o Ocidente com testes nucleares e ameaças de “riscar” países e povos do mapa. Em troca, alguns ocidentais consignam-lhes grandes ideais.

É certo que os choques civilizacionais não se resolvem principalmente com intervenções militares e que outras soluções baseadas na diplomacia podem e devem ser ensaiadas.

Mas o que não podemos é confundir uns com os outros. Os ocidentais – americanos e europeus – não são melhores que os outros; estão sujeitos às mesmas fraquezas, limitações e canalhices que todos os outros homens. Mas, esses é que pertencem à minha civilização. É com esses que, cultural e historicamente, mais me identifico.

Porque é isso que está em jogo: uma questão civilizacional.

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

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