2006/03/27
VÃO-SE OS ANÉIS, FIQUEM OS DEDOS…
O choradinho que por aí foi, a semana que está a terminar, com a notícia de a República Checa nos ter ultrapassado, em 2005, na capitação da riqueza nacional, entre os 25 Países da União Europeia!
Até ao momento em que escrevo, que seja do meu conhecimento, não vi ou ouvi ninguém a chamar a atenção para algumas coisas simples, a esse respeito.
Primeiro, é preciso não esquecer que o território correspondente à República Checa foi durante séculos, diria que ao menos desde o séc. XVI, uma das regiões mais ricas, cultas e progressivas da Europa Central, portanto do Mundo.
Tudo isso que, numa região periférica como Portugal, não poderia durar ou só dificilmente.
O que foi que interrompeu o percurso de progresso aparentemente imparável do país checo, que durava há mais de cinco séculos?
Simplesmente isto: o regime de comunismo estatal, a partir de 1947, ou, visto de outra forma, a ocupação da Checoslováquia pela U.R.S.S..
A economia checoslovaca passou a funcionar mal e o país estagnou, terá mesmo regredido, perdeu o seu dinamismo; mas uma coisa é certa, o comunismo não conseguiu destruir as virtualidades do povo checo que, mal se libertou das cadeias políticas, ideológicas e institucionais do regime comunista – e muito, já antes, fizera por isso, desde a Primavera de Praga, pelo menos – logo foi capaz de retomar o seu ritmo antigo de iniciativa, empreendedorismo e desenvolvimento.
O resultado está à vista e não tem nada de misterioso ou humilhante.
Por isso, é imperativa uma segunda chamada de atenção.
Portugal e os Portugueses já provaram, por muito mais de uma vez, que não são alérgicos ao progresso nem incapazes de enfrentar o futuro com grande e decidida determinação visionária.
O que é, então, que parece manietar-nos?
Não, com certeza, nada de que seja tão difícil livrarmo-nos como o regime comunista marxista-leninista-estalinista de que os Checos se livraram.
Um diagnóstico a ter em conta fê-lo há dias a economista-chefe do BPI, Cristina Casalinho, em declarações ao Público.
“Tivemos meio século muito bom, em que Portugal foi das economias que mais cresceram a nível mundial” – disse.
Para logo acrescentar.
“Os agentes económicos terão de mudar as suas preferências. Nos últimos dez anos, tivemos um modelo de antecipação do consumo – o défice da balança externa e o endividamento crescente são manifestações disso.”
Quer dizer, precipitámo-nos a gastar o que ainda não tínhamos produzido.
Claro que não se reparou nisso, enquanto tivemos para gastar, ou desperdiçar, as grandes reservas de ouro do Banco de Portugal, de antes de 25 de Abril, e as grandes reservas financeiras da Segurança social, que deviam pagar os compromissos com os beneficiários.
Para que Portugal sobrevivesse ao PREC e às suas nacionalizações, a toda a desorganização, loucuras e irresponsabilidades desses tempos, os que nos governavam decidiram deitar fora os anéis para podermos ficar com os dedos… Sem pensar que não estavam a deitar fora meramente os anéis.
Sob outras formas, embora, o sistema político que nos governa tem em boa parte continuado a pensar e a reger-se pela mesma falta de critérios sãos.
Tenho a certeza de que também o sistema político que nos governa não deu cabo de nós, Portugueses, temos é que livrarmo-nos dele, como os checos se livraram do seu regime.
Felizmente, não será preciso sangue nem revolução.
A.C.R.
Seia, 24 de Março de 2006
(continua)
Até ao momento em que escrevo, que seja do meu conhecimento, não vi ou ouvi ninguém a chamar a atenção para algumas coisas simples, a esse respeito.
Primeiro, é preciso não esquecer que o território correspondente à República Checa foi durante séculos, diria que ao menos desde o séc. XVI, uma das regiões mais ricas, cultas e progressivas da Europa Central, portanto do Mundo.
Tudo isso que, numa região periférica como Portugal, não poderia durar ou só dificilmente.
O que foi que interrompeu o percurso de progresso aparentemente imparável do país checo, que durava há mais de cinco séculos?
Simplesmente isto: o regime de comunismo estatal, a partir de 1947, ou, visto de outra forma, a ocupação da Checoslováquia pela U.R.S.S..
A economia checoslovaca passou a funcionar mal e o país estagnou, terá mesmo regredido, perdeu o seu dinamismo; mas uma coisa é certa, o comunismo não conseguiu destruir as virtualidades do povo checo que, mal se libertou das cadeias políticas, ideológicas e institucionais do regime comunista – e muito, já antes, fizera por isso, desde a Primavera de Praga, pelo menos – logo foi capaz de retomar o seu ritmo antigo de iniciativa, empreendedorismo e desenvolvimento.
O resultado está à vista e não tem nada de misterioso ou humilhante.
Por isso, é imperativa uma segunda chamada de atenção.
Portugal e os Portugueses já provaram, por muito mais de uma vez, que não são alérgicos ao progresso nem incapazes de enfrentar o futuro com grande e decidida determinação visionária.
O que é, então, que parece manietar-nos?
Não, com certeza, nada de que seja tão difícil livrarmo-nos como o regime comunista marxista-leninista-estalinista de que os Checos se livraram.
Um diagnóstico a ter em conta fê-lo há dias a economista-chefe do BPI, Cristina Casalinho, em declarações ao Público.
“Tivemos meio século muito bom, em que Portugal foi das economias que mais cresceram a nível mundial” – disse.
Para logo acrescentar.
“Os agentes económicos terão de mudar as suas preferências. Nos últimos dez anos, tivemos um modelo de antecipação do consumo – o défice da balança externa e o endividamento crescente são manifestações disso.”
Quer dizer, precipitámo-nos a gastar o que ainda não tínhamos produzido.
Claro que não se reparou nisso, enquanto tivemos para gastar, ou desperdiçar, as grandes reservas de ouro do Banco de Portugal, de antes de 25 de Abril, e as grandes reservas financeiras da Segurança social, que deviam pagar os compromissos com os beneficiários.
Para que Portugal sobrevivesse ao PREC e às suas nacionalizações, a toda a desorganização, loucuras e irresponsabilidades desses tempos, os que nos governavam decidiram deitar fora os anéis para podermos ficar com os dedos… Sem pensar que não estavam a deitar fora meramente os anéis.
Sob outras formas, embora, o sistema político que nos governa tem em boa parte continuado a pensar e a reger-se pela mesma falta de critérios sãos.
Tenho a certeza de que também o sistema político que nos governa não deu cabo de nós, Portugueses, temos é que livrarmo-nos dele, como os checos se livraram do seu regime.
Felizmente, não será preciso sangue nem revolução.
A.C.R.
Seia, 24 de Março de 2006
(continua)
Etiquetas: PREC