2006/03/20
A face mais recente da vida do VECTOR (6)
O Fórum de Amizade Galiza-Portugal, Etc.
(ver poste anterior sobre o assunto)
Um dia, numa das reuniões da direcção, na Victor Córdon, li uma carta que recebera havia pouco dum jovem galego, para mim ainda desconhecido, que assinava Bieito Seivane Tapie.
Dizia ele que soubera de mim e das nossas actividades através de amigos que me haviam conhecido, creio que num dos congressos da revista VERBO de Madrid, a publicação mais próxima em Espanha da nossa “Resistência”. Mais próxima pela comum posição de ambas face aos desvios e deturpações progressistas do Vaticano II e também pela forte inspiração que tanto o grupo da VERBO como o grupo da “Resistência” havíamos recebido do Office de Jean Ousset, e dos seus métodos de acção cívica e de “animação cristã da ordem temporal”.
O curioso está em que já mais de uma vez nas reuniões de direcção, em Lisboa, tínhamos lamentado a nossa falta de ligações e contactos na Galiza. É que nos parecia que seria importante, num Portugal amputado e mal curado do regresso desastrado da grande aventura ultramarina de mais de cinco séculos, tentar aprofundar e alargar as raízes europeias de Portugal.
A Galiza era, na Europa, a direcção mais adequada para nos movermos em busca de oportunidades e raízes que a expansão pelo Mundo nos fizera esquecer ou menosprezar.
Ora o Bieito vinha talvez mostrar-nos um caminho para repararmos essa falha.
Ele oferecia-nos, na sua carta, oportunidade para, numa volta à Galiza, conhecermos alguns grupos que em diversas cidades galegas lutavam, resistiam para recuperar a integridade da Língua e da cultura galaico-portuguesas, ameaçadas de castelhanização completa.
Esses grupos esperavam de Portugal e dos Portugueses apoio moral e cultural decidido à sua resistência.
Aquilo calou muito fundo em alguns de nós, porque, em fim de contas, do que se tratava era de, por aí, ajudarmos Portugal a recuperar parte duma dimensão antiga, perdida na Expansão além-mar.
Respondi ao Bieito que íamos tentar encontrar uma oportunidade para o mais depressa possível correspondermos ao seu convite, que muito nos interessara.
Estávamos em 1992 e, no fim do ano, o Dr, Herlânder Duarte, eu e as nossas mulheres rumámos de carro à Galiza, para cumprir um programa previamente combinado por cartas com o Bieito, que finalmente conhecemos em pessoa.
Encontrámo-nos com ele em Ourense no dia 29 de Dezembro de 1992, e seguimos depois todos por Mondonhedo, a terra do nosso guia, e por Lugo, A Corunha e Santiago de Compostela, até Lisboa, onde ainda fomos fazer a passagem do ano de 1992 para 1993.
Contactámos longamente, um por um, cinco grupos de galegos lusistas e integracionistas, que iam desde os defensores simplesmente da integridade da lìngua e da cultura galega tradicionais, sem corrupção castelhana, até aos que não viam solução, para a recuperação completa da identidade cultural e linguística galega, senão pela integração política da Galiza e Portugal.
É neste quadro de relações diversas e às vezes contraditórias, que vem a desenvolver-se o trabalho do futuro Fórum de Amizade Galiza-Portugal, depois de se ter unido a nós o José David Araújo, através também do Bieito. O José David, enquanto professor de Filosofia do ensino secundário, vinha já desenvolvendo nas escolas onde anualmente era colocado uma intensa actividade de proselitismo luso-galaico.
Depois da doença do Prof. Dr. Herlânder Duarte, que foi o primeiro presidente, assumiu ele a presidência da direcção do Fórum e vem cada vez mais aplicando ao serviço deste a cultura, dinamismo, empenhamento e criatividade de que tem dado crescentes e sólidas provas, sem desvios ou distracções.
O novo ciclo em que com ele agora entrou o Fórum imagino-o pleno de bons augúrios, graças também às adesões novas que tem recebido dentro da Galiza.
Em Portugal, as coisas arrancarão mais lentamente, a não ser que um sobressalto de inteligência sobre o que a Galiza pode representar nacional e internacionalmente para Portugal acuda inesperadamente às nossas elites.
Da obra feita pelo Fórum e antes ainda do Fórum oficializado, a partir daquela primeira visita dos elementos do VECTOR à Galiza, escreverei um dia.
Como falarei também doutras iniciativas do VECTOR desta sua fase associativista, quando, com retrospectiva bastante, possamos falar disso com mais distanciamento e liberdade.
Naturalmente, depois do referido aqui sobre o NEOS, sobre o Fórum e sobre a colocação do busto de Salazar, penso nas iniciativas que levaram à criação da Aliança Nacional, ao ressurgimento do jornal “Agora”, à criação do PNR, ao lançamento do presente blogue, há perto de três anos; como à criação da editora Nova Arrancada, com as suas sessenta edições; ou aos I e II Congressos Nacionalistas Portugueses, de 2001 e 2003, depois dos quais não se pode falar de nacionalismo em Portugal como se falava antes.
Por se terem desfeito e continuado a desfazer, depois dos Congressos, muitos equívocos sobre nacionalismo, não tenho dúvidas de que o nacionalismo português ganhou uma legitimação que lhe era negada.
Foram, enfim, uns doze a quinze anos de que também podemos orgulhar-nos.
Mas creio, caríssimo A.C.J.A., que lhe forneci dados suficientes, juntando os que constavam já de vários postes muito anteriores, para que tenha uma ideia clara da natureza, métodos e objectivos do VECTOR. Obrigado a si por mo ter perguntado; e obrigado a quantos me leram, porque me estimularam a satisfazer a curiosidade ou necessidades de informação do maior número. Aqui continuo, de resto, pronto a responder a dúvidas e objecções.
António da Cruz Rodrigues (A.C.R.)
Um dia, numa das reuniões da direcção, na Victor Córdon, li uma carta que recebera havia pouco dum jovem galego, para mim ainda desconhecido, que assinava Bieito Seivane Tapie.
Dizia ele que soubera de mim e das nossas actividades através de amigos que me haviam conhecido, creio que num dos congressos da revista VERBO de Madrid, a publicação mais próxima em Espanha da nossa “Resistência”. Mais próxima pela comum posição de ambas face aos desvios e deturpações progressistas do Vaticano II e também pela forte inspiração que tanto o grupo da VERBO como o grupo da “Resistência” havíamos recebido do Office de Jean Ousset, e dos seus métodos de acção cívica e de “animação cristã da ordem temporal”.
O curioso está em que já mais de uma vez nas reuniões de direcção, em Lisboa, tínhamos lamentado a nossa falta de ligações e contactos na Galiza. É que nos parecia que seria importante, num Portugal amputado e mal curado do regresso desastrado da grande aventura ultramarina de mais de cinco séculos, tentar aprofundar e alargar as raízes europeias de Portugal.
A Galiza era, na Europa, a direcção mais adequada para nos movermos em busca de oportunidades e raízes que a expansão pelo Mundo nos fizera esquecer ou menosprezar.
Ora o Bieito vinha talvez mostrar-nos um caminho para repararmos essa falha.
Ele oferecia-nos, na sua carta, oportunidade para, numa volta à Galiza, conhecermos alguns grupos que em diversas cidades galegas lutavam, resistiam para recuperar a integridade da Língua e da cultura galaico-portuguesas, ameaçadas de castelhanização completa.
Esses grupos esperavam de Portugal e dos Portugueses apoio moral e cultural decidido à sua resistência.
Aquilo calou muito fundo em alguns de nós, porque, em fim de contas, do que se tratava era de, por aí, ajudarmos Portugal a recuperar parte duma dimensão antiga, perdida na Expansão além-mar.
Respondi ao Bieito que íamos tentar encontrar uma oportunidade para o mais depressa possível correspondermos ao seu convite, que muito nos interessara.
Estávamos em 1992 e, no fim do ano, o Dr, Herlânder Duarte, eu e as nossas mulheres rumámos de carro à Galiza, para cumprir um programa previamente combinado por cartas com o Bieito, que finalmente conhecemos em pessoa.
Encontrámo-nos com ele em Ourense no dia 29 de Dezembro de 1992, e seguimos depois todos por Mondonhedo, a terra do nosso guia, e por Lugo, A Corunha e Santiago de Compostela, até Lisboa, onde ainda fomos fazer a passagem do ano de 1992 para 1993.
Contactámos longamente, um por um, cinco grupos de galegos lusistas e integracionistas, que iam desde os defensores simplesmente da integridade da lìngua e da cultura galega tradicionais, sem corrupção castelhana, até aos que não viam solução, para a recuperação completa da identidade cultural e linguística galega, senão pela integração política da Galiza e Portugal.
É neste quadro de relações diversas e às vezes contraditórias, que vem a desenvolver-se o trabalho do futuro Fórum de Amizade Galiza-Portugal, depois de se ter unido a nós o José David Araújo, através também do Bieito. O José David, enquanto professor de Filosofia do ensino secundário, vinha já desenvolvendo nas escolas onde anualmente era colocado uma intensa actividade de proselitismo luso-galaico.
Depois da doença do Prof. Dr. Herlânder Duarte, que foi o primeiro presidente, assumiu ele a presidência da direcção do Fórum e vem cada vez mais aplicando ao serviço deste a cultura, dinamismo, empenhamento e criatividade de que tem dado crescentes e sólidas provas, sem desvios ou distracções.
O novo ciclo em que com ele agora entrou o Fórum imagino-o pleno de bons augúrios, graças também às adesões novas que tem recebido dentro da Galiza.
Em Portugal, as coisas arrancarão mais lentamente, a não ser que um sobressalto de inteligência sobre o que a Galiza pode representar nacional e internacionalmente para Portugal acuda inesperadamente às nossas elites.
Da obra feita pelo Fórum e antes ainda do Fórum oficializado, a partir daquela primeira visita dos elementos do VECTOR à Galiza, escreverei um dia.
Como falarei também doutras iniciativas do VECTOR desta sua fase associativista, quando, com retrospectiva bastante, possamos falar disso com mais distanciamento e liberdade.
Naturalmente, depois do referido aqui sobre o NEOS, sobre o Fórum e sobre a colocação do busto de Salazar, penso nas iniciativas que levaram à criação da Aliança Nacional, ao ressurgimento do jornal “Agora”, à criação do PNR, ao lançamento do presente blogue, há perto de três anos; como à criação da editora Nova Arrancada, com as suas sessenta edições; ou aos I e II Congressos Nacionalistas Portugueses, de 2001 e 2003, depois dos quais não se pode falar de nacionalismo em Portugal como se falava antes.
Por se terem desfeito e continuado a desfazer, depois dos Congressos, muitos equívocos sobre nacionalismo, não tenho dúvidas de que o nacionalismo português ganhou uma legitimação que lhe era negada.
Foram, enfim, uns doze a quinze anos de que também podemos orgulhar-nos.
Mas creio, caríssimo A.C.J.A., que lhe forneci dados suficientes, juntando os que constavam já de vários postes muito anteriores, para que tenha uma ideia clara da natureza, métodos e objectivos do VECTOR. Obrigado a si por mo ter perguntado; e obrigado a quantos me leram, porque me estimularam a satisfazer a curiosidade ou necessidades de informação do maior número. Aqui continuo, de resto, pronto a responder a dúvidas e objecções.
António da Cruz Rodrigues (A.C.R.)
Etiquetas: Ensino