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2005/09/28

Ao “Sexo dos Anjos” 


Caríssimo Manuel Azinhal. Claro que “todos os homens passam, passamos ou passaremos”, como sabe tão bem como todos nós.

Isto para responder à
pergunta de ontem, no seu blogue.

Só me ocorre talvez uma excepção. Digo isto meio sério, meio a brincar, lembrando-me duma breve conversa que há menos de duas horas tive à entrada da CGD aqui, em Seia, com o “animador de cena” que o Município contratou para lançar iniciativas de teatro entre os alunos das escolas do concelho. É um homem jovem de cabelos brancos pleno de entusiasmo pelo que faz e de simpatia. Ele também animou a experiência de representação teatral dum pequeno grupo de alunas dum nosso curso de Educação e Formação de Adultos, na Escola Profissional. Daí o bom relacionamento.

Ele aproveitou o casual encontro para mostrar a sua felicidade pelo trabalho que está a fazer com os alunos duma E.2.3 e na E. Secundária. “Olhe que até com Shakespeare ou Calderón se abalançam e entusiasmam!” E enumerou mais uns tantos nomes de grandes autores, mas do Séc. XX; logo, por acaso, nenhum que me entusiasme a mim.

“Demasiado cerebrais … demasiado teatro do absurdo – comentei. – Mas Shakespeare sim, esse continua a ser o máximo para o meu gosto.” E acrescentei. “Olhe que já há duzentos anos Goethe, nas “Conversações com Eckermann”, que reli há dias (com 45 anos de intervalo), considerava Shakespeare inultrapassável, para não dizer inatingível …”

Dir-se-á que Goethe não será de um juízo actualizado. Mas aí tem, Manuel Azinhal, o meu exemplo de “homem que não passou”.

A brincar, a brincar, ou não, aí fica o meu único exemplo, ou o mais seguro.

Mas, se calhar – ocorre-me agora –, talvez adiante outro.

Homero!

Este e aquele, Shakespeare e Homero – estiveram nas auroras, já radiosas, das respectivas línguas.

Tinham ambos tudo ao seu dispor para se aventurarem na “inovação” mais descabelada da língua.

Ou, pelo contrário, o que faltava às línguas grega e inglesa, a cada uma na altura do nascimento de cada um deles, era só quem fechasse as abóbadas dos respectivos edifícios, sacando proveito de tudo o que tantos outros antes deles tinham inventado, para se exprimirem – mais toscamente, embora – na magia das suas línguas, essa magia que é capaz de estar na origem de todas as línguas?

Depois, as línguas – pelo menos aquelas – ficaram esgotadas – e foram-no ficando sucessivamente todas –, como instrumentos de magia.

E ninguém poderá voltar a fazer delas mais do que já foi feito.

Ficou-nos só a gramática.

A.C.R.

P.S. E, raramente, alguma poesia.

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