2005/09/21
“PROL DO COMUM” (*)
Manuel Brás
“(…) o título serve bem para apontar o objecto e o fim da actividade política: o interesse comum, o interesse público, o interesse nacional – porque Portugal é uma Nação, um unum, com quase 900 anos, e logo, uma comunidade nacional. É esta a realidade para onde deve tender toda a acção política.
Ao fim de todo este tempo já se viu o que dá governar para os interesses particulares e de grupo, por muito legítimos que sejam: caos, desresponsabilização, despesismo, défice, sobretudo no Estado. O mais perverso de tudo é fazer crer às pessoas que do governo em função dos interesses particulares e de grupo resulta sempre um bem para a comunidade. Não se trata de contestar a legitimidade dos interesses particulares ou de grupo. O que se trata é de verificar que o objecto e o fim da acção governativa de um País não é a consecução dos interesses particulares ou de grupo, mas sim a integração destes no interesse nacional ou público. É que se, na vida da comunidade política que formam os portugueses, o todo não vale tanto ou mais do que a soma das partes, todo o trabalho político é inútil. Mais vale que cada um se safe a si mesmo, que é, aliás, o que está a acontecer.
Dar primazia ao fenómeno económico sobre o político ou identificar as duas coisas são outros erros a evitar. É que, se são os empresários e economistas (enquanto técnicos) a definir o caminho e os objectivos gerais, então o que é que fazem os políticos? Se são os políticos a definir os meios e as técnicas económicas para alcançar os objectivos que eles não sabem fixar, então o que fazem os empresários e os economistas? A esquerda, que domina a arte de enganar e de mentir, conseguiu convencer a direita partidária – que há muito tem ao seu serviço – de que a sua grande missão era proporcionar as condições que permitissem o crescimento económico em detrimento da política enquanto combate pelo exercício do poder, eventualmente, destinado ao bem da comunidade. À direita partidária ficou, assim, consignado o ónus das questões económicas e financeiras, enquanto a esquerda reservou para si o domínio do pensamento político e o exercício do poder. Numa penada, a moral da história é esta: essa direita, estupidamente, cria a riqueza (muita ou pouca) que a esquerda utiliza para exercer e se manter no poder. Ao fim de todo este tempo, provavelmente, já a esquerda tem muito mais poder económico e financeiro que a direita. O novo-riquismo e o “chic” jogam tão bem com o PS e o Bloco de Esquerda, como com o PSD e o CDS.
Que tal começar a pensar em termos políticos?
Temos uma ideia de Portugal, uma visão política do País enquanto Nação e comunidade que somos. Assumamos que a acção política se destina ao governo da comunidade, a consolidar a unidade, a defender a soberania, a liberdade e a independência. E não tanto o sucesso nos negócios ou a felicidade, enfim, o paraíso na terra, que nenhum político, honestamente, pode garantir.
Definam os políticos e governantes as prioridades nacionais para a economia e demais actividades, que logo a iniciativa privada e a sociedade civil responderão adequadamente, se tal for bem enquadrado no interesse comum. Quantas vezes não é a iniciativa privada e os agentes da sociedade civil que prestam o melhor serviço público.”
* Título de um dos muitos ensaios políticos de António Sardinha, que inspirou este artigo de M.B. publicado ontem no blogue da Nova Democracia, na sua qualidade de Conselheiro Geral da mesma, e que consideramos um modelo de pensamento político actual.
“(…) o título serve bem para apontar o objecto e o fim da actividade política: o interesse comum, o interesse público, o interesse nacional – porque Portugal é uma Nação, um unum, com quase 900 anos, e logo, uma comunidade nacional. É esta a realidade para onde deve tender toda a acção política.
Ao fim de todo este tempo já se viu o que dá governar para os interesses particulares e de grupo, por muito legítimos que sejam: caos, desresponsabilização, despesismo, défice, sobretudo no Estado. O mais perverso de tudo é fazer crer às pessoas que do governo em função dos interesses particulares e de grupo resulta sempre um bem para a comunidade. Não se trata de contestar a legitimidade dos interesses particulares ou de grupo. O que se trata é de verificar que o objecto e o fim da acção governativa de um País não é a consecução dos interesses particulares ou de grupo, mas sim a integração destes no interesse nacional ou público. É que se, na vida da comunidade política que formam os portugueses, o todo não vale tanto ou mais do que a soma das partes, todo o trabalho político é inútil. Mais vale que cada um se safe a si mesmo, que é, aliás, o que está a acontecer.
Dar primazia ao fenómeno económico sobre o político ou identificar as duas coisas são outros erros a evitar. É que, se são os empresários e economistas (enquanto técnicos) a definir o caminho e os objectivos gerais, então o que é que fazem os políticos? Se são os políticos a definir os meios e as técnicas económicas para alcançar os objectivos que eles não sabem fixar, então o que fazem os empresários e os economistas? A esquerda, que domina a arte de enganar e de mentir, conseguiu convencer a direita partidária – que há muito tem ao seu serviço – de que a sua grande missão era proporcionar as condições que permitissem o crescimento económico em detrimento da política enquanto combate pelo exercício do poder, eventualmente, destinado ao bem da comunidade. À direita partidária ficou, assim, consignado o ónus das questões económicas e financeiras, enquanto a esquerda reservou para si o domínio do pensamento político e o exercício do poder. Numa penada, a moral da história é esta: essa direita, estupidamente, cria a riqueza (muita ou pouca) que a esquerda utiliza para exercer e se manter no poder. Ao fim de todo este tempo, provavelmente, já a esquerda tem muito mais poder económico e financeiro que a direita. O novo-riquismo e o “chic” jogam tão bem com o PS e o Bloco de Esquerda, como com o PSD e o CDS.
Que tal começar a pensar em termos políticos?
Temos uma ideia de Portugal, uma visão política do País enquanto Nação e comunidade que somos. Assumamos que a acção política se destina ao governo da comunidade, a consolidar a unidade, a defender a soberania, a liberdade e a independência. E não tanto o sucesso nos negócios ou a felicidade, enfim, o paraíso na terra, que nenhum político, honestamente, pode garantir.
Definam os políticos e governantes as prioridades nacionais para a economia e demais actividades, que logo a iniciativa privada e a sociedade civil responderão adequadamente, se tal for bem enquadrado no interesse comum. Quantas vezes não é a iniciativa privada e os agentes da sociedade civil que prestam o melhor serviço público.”
* Título de um dos muitos ensaios políticos de António Sardinha, que inspirou este artigo de M.B. publicado ontem no blogue da Nova Democracia, na sua qualidade de Conselheiro Geral da mesma, e que consideramos um modelo de pensamento político actual.
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