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2005/09/14

Antes que a Terceira República
Acabe como a Primeira…
O poder local e as eleições autárquicas. (II) 

Nas minhas candidaturas à Câmara de Seia (1997) e à Câmara de Lisboa (2001), inteiramente falhadas, tentei exprimir uma concepção do poder local que já se aproximava daquilo que apresentei no poste de ontem.

O fracasso foi meu, pessoalmente, e não dessa concepção, que seria então quando muito aparentemente prematura.

Hoje é bem mais claro — mude o sistema político central, ou não mude — que o poder local tem de mudar.

Ou melhor dizendo…

O poder local, para mudar, não pode ficar à espera que o sistema de poder central mude primeiro.

No poder local não é talvez a estrutura que tem de mudar, são antes os objectivos e os temas fortes da sua actuação.

Não vou falar da atenção a dedicar pelo poder local aos problemas da imigração, por exemplo, que então, aquando das minhas candidaturas, eram tabu em eleições locais, salvo num ou noutro caso mais escaldante e sempre a medo.

Fui o único candidato por Lisboa a apresentá-los frontalmente, porque, para todos os demais candidatos, eram esses problemas, pareceu, reservados ao poder central.

Mas surgiram, ou agravaram-se, ou tomou-se consciência entretanto de outros problemas que o poder local também tem de assumir, deixando de tê-los por reservados aos governos.

Cito dois, da minha experiência e conhecimento da situação em concelhos do Interior beirão.

Começo pela questão do insucesso e do abandono escolares.

Daqueles alunos, pois, que não têm aproveitamento, como daqueles que abandonam o estudo por outras razões.

Por falta de apoio suficiente do meio familiar; porque não conseguem “dar-se” com a escola; porque a escola para eles é uma “tristeza”; porque os pais não aguentam os encargos de filhos a fazer que estudam, sem proveito previsível; porque os próprios filhos querem deixar o estudo para procurar emprego, seja qual for; etc.

Que terá o poder local de fazer para ajudar significativamente a diminuir o número destas situações, que conduzem a um grande desperdício de capacidades e valores humanos?

Pensar primeiro e reunir os dados da questão.

Agir depois, talvez sobretudo mobilizando as entidades e forças e recursos adequados.

Outra questão é a dos incêndios florestais.

As Câmaras vão indo à trela de poderes superiores para desempenharem o papel que os governos lhes estão a atribuir, na chamada prevenção dos incêndios.

Tenho por certo que podem e devem continuar por aí, mas também que conseguem trabalhar melhor se também criarem estímulos às associações e empresas de produtores florestais que saibam povoar a floresta de iniciativas e actividades próprias da floresta.

Sendo rendíveis por si ou garantes de bons rendimentos, essas iniciativas e actividades trarão à floresta forte e empenhada presença humana, que é a melhor prevenção contra os incêndios.

Se começarmos já, neste sentido, municípios e produtores florestais poderemos, não digo ressarcir prejuízos de muitos anos, mas adquirir e espalhar a certeza de um futuro completamente diferente e bem melhor, a curto prazo e a custos muito mais baixos do que muito daquilo que inutilmente se tem feito.

E mais.

Muito se terá contribuído para a requalificação do ambiente e para profundamente revalorizarmos o mundo rural.

A.C.R.

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