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2005/06/30

Blair: continuam as utopias? 

Blair apresentou recentemente as prioridades da presidência britânica.

Dentro das vicissitudes do poder nos corredores de Bruxelas, com todas as limitações, interesses e burocracias, talvez consiga mexer alguma coisa. Nessas várias prioridades surgem algumas propostas com interesse, como desenvolver as relações com os EUA, Rússia e China e reforçar o papel da Europa no apoio ao Iraque e nas negociações de paz do Médio Oriente. Não creio, porém, que a Europa, no momento de crise actual, tenha a lucidez e a força de espírito para intervir nesses processos de forma eficaz e determinada. Não porque Blair não tenha capacidade para pôr essas prioridades em prática, mas porque o sistema está podre.

A palavra crise, em si, é vaga, na medida em que há crises de crescimento, de redução, de estagnação, de identidade. Porém, de certa forma, tudo o que é vivo está em crise. Oxalá, esta crise de decomposição do ficto político União Europeia permaneça porque está a ajudar a definir a realidade da Europa e a impedir que seja redesenhada pelos engenheiros da burocracia comissarial. Desta crise sairá uma Europa mais autêntica e não creio que mais pobre em nenhum sentido, apesar dos apuros económicos e financeiros que se avizinham, em grande medida consequência dos delírios dos construtores europeus.

Há, porém, duas prioridades que parecem muito difíceis de concretizar por serem mais do mesmo que até hoje não deu nada, isto é, utopias: liderar o combate à pobreza no mundo e relançar as negociações internacionais sobre alterações climatéricas. O próprio Blair não deve acreditar muito nessas prioridades, mas não as incluir poderia despertar a fúria de certas ONG´s.

Desde os anos 60 que ouvimos falar dos programas de combate à pobreza ou de “eliminação da pobreza”, nos quais as agências da ONU têm investido muito dinheiro, mas a fome e a pobreza lá continuam. Esta noção abstracta – eliminação da pobreza – gera outra: a “redistribuição da riqueza”, ambas muito assíduas no vocabulário das ONG’s.

É compreensível que muitas ONG’s não estejam dispostas a abrir mão dos seus programas, nem da sua maneira de funcionar. No fim de contas, muitas ONG’s têm um relacionamento privilegiado com a ONU e daí recebem financiamentos, tal como da UE. Cerca de 500 têm assento na ONU, onde podem apresentar documentos, apelar a votos e exercer influência sobre os representantes das Nações. Só não podem votar. Outras 3000 ONG’s têm estatuto de consultor junto da mesma organização. Faz parte do credo democrático que os cidadãos podem, pelo voto, mudar as políticas. Ora, com as ONG’s já não é assim: essas, estão sempre lá. É o poder para os não eleitos.

Sendo os resultados o que são, será que a fome e a pobreza têm sido, de facto, eliminadas ao fim de todos estes anos?

Ajudar as pessoas significa descer a casos de pessoas reais que pedem ajuda, encontrar o que realmente precisam e ajudá-las de forma a encontrarem esses benefícios por si, isto é, ajudá-las a criar riqueza, que é muito mais do que eliminar a pobreza através da imposição, por vezes com chantagem, de planos utópicos “para o bem deles”. Ao que parece, a criação da própria riqueza nas Nações pobres está muito longe do conceito onusiano de “eliminação da pobreza”.

O próprio Protocolo de Quioto – que levantou uma inesperada onda de cepticismo – tem menos a ver com o controle das alterações climáticas do que com a “redistribuição da riqueza” das nações mais industrializadas para as menos industrializadas, que serão basicamente pagas para não se desenvolverem.

A China e a Índia, que experimentam uma industrialização fortíssima, com os consequentes acréscimos de poluição, em virtude, em boa parte, da deslocalização, ficaram de fora do Protocolo de Quioto, enquanto na Europa é crescente o número de fábricas que deixam de laborar.

Os EUA e a Austrália é que não apararam o golpe.

Afinal de contas os planos de eliminação da pobreza não funcionam e o Protocolo de Quioto aperta a malha a quem produz cada vez menos e deixa de fora quem produz cada vez mais.

Será que estas duas prioridades de Blair significam, num exercício de realismo, transformar a “eliminação da pobreza” na criação de riqueza e o “controle das alterações climáticas” no da poluição, ou vamos continuar com as mesmas utopias?

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

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