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2005/06/20

Sosseguem os que temiam a ressurreição do III Reich 

A proclamada “extrema direita” deu sábado uma prova do seu poder em manifestações de rua, entre o Martim Moniz e o Rossio, passando pela Betesga.

Para os que acreditam e defendem que a acção política é fundamentalmente isso, se não mesmo apenas isso – desfiles e concentrações; hinos, bandeiras e braços desfraldados; gritaria e batimentos de calcanhares – serão eles com certeza, lucidamente, os primeiros desiludidos.

Alguém esperaria (ou receava) melhor?

É não conhecer os “chefes” envolvidos, com uma rara excepção ou outra.

A Polícia tomou as suas precauções, claro, como era sua obrigação; mas fica também a saber, ou confirmar, que dali não vem nada ao mundo.

Nem ao menos trezentos manifestantes, como era a expectativa liminar de um dos organizadores!

Muito longe, sequer, do seu alegado eleitorado nacional de 0,16% e mesmo dos 0,16% do seu eleitorado de Lisboa.

Afigura-se, pois, que as “massas” de manifestantes convocados, mas também as dos contra-manifestantes, estão todas movidas (ou paralisadas …) por medos do mesmo efeito ou por igual indiferença.

O governo português terá tido, assim, a sua primeira vitória política indiscutível, fora de casa, desde a maioria absoluta, há três meses, uma vez que aquela ninguém parece querer discutir-lha.

Mas haverá, realmente, mais que questionar.

Por exemplo: Quem promoveu de facto a “manifestação” falhada?

Ou isto: Não era o seu objecto digno duma grande adesão, efectiva pelas presenças?

A resposta à primeira pergunta talvez seja facilitada pelo esclarecimento da segunda.

Começo, portanto, pela resposta à segunda pergunta, que até será a mais simples.

O objecto declarado da mobilização era contra a criminalidade em matéria de segurança, provocada por imigrantes e mais directamente pelos chamados “arrastões” recentes, nas praias.

Dir-se-ia um objecto justo e fortemente mobilizador.

Então por que não mobilizou?

Não foi por falta de publicidade, que os M.C.S. deram-lha em abundância e esteve muito longe de ser toda negativa.

Acresce que a invocação dos referidos acontecimentos recentes, que indignaram muitíssima gente, era à partida altamente excitante e favorável à mobilização.

Daí que a principal causa da desmobilização não pode deixar de ter estado nos mobilizadores, como era aliás previsível.

Conhecendo bem as coisas por dentro, tem-se a certeza de que não foi a natureza do objecto a desincentivar a mobilização, mas sim a natureza dos promotores f.n., que trazem irremediavelmente colada a marca do seu racismo, sobretudo anti-negro mas não só.

Isto é, pouca gente, quase nenhuma, esteve disposta a deixar-se arrastar para o serviço do racismo dos f.n., que ainda fazem política como faziam aos dezasseis anos.

A chamada F.N., depois do terrível insucesso eleitoral de Fevereiro e depois do igual ou ainda maior insucesso deste sábado, quanto à sua capacidade mobilizadora de rua (método e estilo que tanto preza e proclama), deve assumir uma vez por todas que, onde quer que politicamente se perfile (!), não só não mobiliza mas, ao invés, desmobiliza.

É um facto, desmobiliza!

Porque se lhe colou então o PNR para a manifestação do dia 18?

Sei, como poucos, ou como ninguém, que não foram à nascença irmãos siameses, nem gémeos sequer.

Inexplicável, então!

Ou talvez nem por isso.

A.C.R.

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