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2005/06/20

Falemos agora de Europa.
Só morre quem quer! 

Depois da reunião da semana passada (5ª e 6ª) do Conselho Europeu, órgão supremo da União Europeia, sinto-me muito mais à vontade para falar da “crise” de construção da Europa, resultado do “não” de Franceses e Holandeses.

Registo em primeiro lugar que, até agora, não está posta em questão a união económica, aduaneira e monetária, nem a circulação de pessoas, capitais e mercadorias.

Com o desacordo entre a França e a Grã-Bretanha, sobre o orçamento da UE para 2007/2013, está sim posta em causa a solidariedade entre os Estados Europeus a favor dos menos ricos e menos desenvolvidos.

Talvez fruto, essencialmente, da crise económica generalizada que torna o apertar do cinto uma urgência para todos.

Isto é, os egoísmos nacionais em crescimento e mais despudorados.

Mas formalmente legítimos.

A UE que tínhamos é a que temos e tem condições para funcionar.

Quero dizer, assim, que nada de essencial, no que já era a Europa, está posto em questão, se e enquanto os seus membros não deixarem de cumprir os contratos e acordos assinados até agora.

Se essa Europa funcionar, como tudo faz supor que funcionará, está salvo o essencial.

O pior que nos podia acontecer, aos países europeus e aos cidadãos dos Países europeus, era que a Europa voltasse a fragmentar-se e a ter de recomeçar tudo, mais tarde ou mais cedo, a partir do zero.

Vai evidentemente ser necessário voltar a discutir a admissão da Turquia; e voltar a discutir o carácter do Acordo Constitucional (recusado por Franceses e Holandeses), no que respeita ao que alguns consideram o seu excessivo liberalismo económico (a circulação de serviços, por exemplo), como no que respeita ao que muitos consideram o excesso de abdicações previstas das soberanias nacionais.

Estou convencido que dessa discussão vão sair grandes avanços para uma União Europeia mais segura e mais conforme aos interesses e responsabilidades históricas dos seus Estados-membros.

Só morre quem quer.

Apetece agradecer a Franceses e Holandeses!

Significa que não receio pelo futuro da construção europeia?

Recearia, sim, se os dirigentes europeus não se compenetrassem da gravidade do que está em risco: o prosseguimento do projecto de criação e consolidação duma grande potência europeia, indispensável ao reforço da grande Aliança dos interesses e valores ocidentais e atlantistas.

Mas como tudo o resto é menos importante, custa-me acreditar que não acabem por aparecer dirigentes europeus mais lúcidos e visionários que os actuais, que provisoriamente contam e empatam, fazendo que andam sem andarem.

A.C.R.

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