2004/11/29
Uma Semana em cheio
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Conta Pedro Ribeiro, enviado do “Público” em Nova Iorque, que, a acreditar em Tom Wolfe, escritor americano, o voto largamente maioritário, a favor de Bush, foi um voto sobretudo de ressentimento contra as elites culturais do Nordeste dos E.U.A., “que essas votam esmagadoramente democrata”.
O apoio dominante a Bush resulta exactamente de ele se mostrar com clareza contra as pretensões dessa elite da Costa Leste, que domina uma grande parte dos M.C.S., assegura Wolfe.
Também o governo australiano de direita terá ganho largamente as legislativas contra uma maioria de intelectuais e de M.C.S. seus compatriotas, equivalente aos derrotados da Costa Leste dos E.U.A.?
Em França, Sarkozy, Ministro da Economia no governo da larga maioria de direita do partido criado por Chirac, apresenta-se às eleições para secretário-geral do partido de origem gaulista contra a vontade do Presidente da República e fundador do partido.
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Será que de Sarkozy — fortemente contestatário do Chirac autocrático e corrupto — se pode esperar uma política decididamente correctora do anti-atlantismo deste e do seu europeísmo fundamentalista, no pior sentido, isto é, o do domínio das maiores potências e, em particular, do eixo Paris-Berlim?
Irá Sarkozy ouvir a voz dos 64% de Franceses que – segundo as sondagens – surpreendentemente se dizem dispostos, no referendo anunciado, a rejeitar a chamada Constituição Europeia, que Chirac já subscreveu?
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Agora a Holanda está em polvorosa, a avaliar por muitos indícios, e os Holandeses parecem estar a dar novos passos, grandes, no sentido da crescente rejeição desse multiculturalismo favorável sobretudo aos muçulmanos.
Esta já era a política do partido extremista que há três anos chegou a ganhar as legislativas na Holanda e, embora posteriormente enfraquecido, a seguir à morte, também por assassínio, do seu fundador, faz ainda parte da coligação – chamemos-lhe de centro-direita – que governa o País.
Se agora houvesse eleições, este partido, ou as suas ideias, voltariam muito provavelmente a ser os mais votados, tal a violência da reacção dos Holandeses à morte de Van Gogh.
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Quer, por isso, exemplifica, a melhoria decidida da remuneração dos políticos e futuros estadistas, para atrair pessoas de mérito à política, que essas estão já a ganhar bem e não mudam, concluo eu, pelas vanglórias do Poder.
O que quer dizer que jamais voltaremos a ter bons estadistas e bons políticos…
Também aqui, note-se, a direita está dividida contra si própria, como se diz ser o caso de Cavaco contra a nova “geração” de Santana Lopes.
Como em França Sarkozy contra Chirac.
Mas não é assim em toda a parte.
Nos E.U.A., na Austrália, na Holanda, a(s) direita (s) une (m)-se, reforça(m)-se.
Já conseguiram unir-se sobre o essencial.
Nós continuamos à procura, muitas vezes discutindo o sexo dos anjos, enquanto as esquerdas perdem por toda a parte voz activa e gozam, vagamente e distraídas, tempos de espera por que o Poder lhes caia nos braços, inutilmente, mesmo com a ajuda de todos os casos Henrique Chaves…
Não haverá então razões de esperança?
A.C.R.