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2004/11/11

Contra os Nacionalismos provincianos (IV) 



(continuação)

As doutrinas nacionalistas — não o nacionalismo, que esse é muito mais antigo — desenvolveram-se particularmente a partir da Revolução Francesa e das outras revoluções suas “filhas”, as quais tomam como ponto programático dar voz aos desígnios nacionais dos diversos povos, nomeadamente a sua independência. É que isso enfraquecia, de dentro, os Estados e Impérios, em geral monárquicos, que se opunham ao avanço das ideias revolucionárias e às tentativas revolucionárias de subvertê-los.

Desde muito cedo que correntes nacionalistas vigorosas tentaram vencer o impasse da identificação imposta pelas revoluções de origem iluminista, entre Revolução e Nacionalismo.

As doutrinas racistas do séc. XIX foram, por isso, aproveitadas por algumas dessas correntes para uma nova explicação das nações e do fenómeno nacionalista: já não era a Revolução e a “libertação” dos Povos, passava a ser a Raça.

Esta tendência para as explicações monolíticas foi, aliás, uma tentação muito corrente e de profundas consequências, nas mentalidades do séc. XIX.

É o caso do marxismo explicando tudo, sócio-politicamente, pela luta de classes a conduzir ao triunfo inexorável duma classe mítica, o Proletariado.

Evidentemente, uma primeira consequência desse monolitismo intelectual é o seu desprezo por tudo o que não seja a explicação ou fundamentação única, levando à negação, renegação ou destruição de outros factores tanto ou mais decisivos do que aqueles factores monolíticos, factores únicos, traduzindo-se, no caso em discussão, no nacionalismo “único”, fortemente repulsivo de todas as visões renovadoras do nacionalismo.

É o monolitismo empobrecedor dos que se recusam a ver na Nação Portuguesa fundamentalmente mais do que a origem étnica, a ponto de considerarem meros lugares comuns a evocação de páginas decisivas —porque também constitutivas intrínsecas e fundadoras da nacionalidade e do nacionalismo português— como as Descobertas e a Expansão, além naturalmente da Reconquista, que as tornou possíveis. Mais do que possíveis: a Reconquista é de tal modo assombrosa e como que predestinada, que parecia já trazê-las no ventre como um desígnio que largamente ultrapassava o simples propósito reconquistador, arredondador do território próximo.

(continua)

A.C.R.

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