2004/09/09
Os Sindicatos têm de visar mais longe se quiserem sobreviver
Falei aqui, há dois dias, do mal-estar do sindicalismo na Alemanha e nos países do Leste da União Europeia.
E há sinais desse mal-estar no sindicalismo português?
Se existiam, não se falava deles, até há dias, na véspera da Festa do Avante, quando foram divulgadas, no próprio “Avante”, para não haver dúvidas, as teses do PCP propostas para o seu XVII Congresso, a realizar em Almada, de 26 a 28 de Novembro.
É certo que já não tinha sido muito convincente a luta dos sindicatos portugueses, visivelmente conduzida e instigada pela CGTP-IN, contra as alterações às leis do trabalho propostas por Bagão Félix, no anterior Governo, e já promulgadas.
Ficara-se, no entanto, na dúvida sobre se não houvera, apesar de tudo, pelo menos uma meia vitória sindicalista, que retirara à reforma proposta muito do seu significado, como o entendiam necessário os sectores mais liberais da economia.
Talvez as teses alguma coisa denunciem, sem contudo clarificarem muito.
O “Público” de 3 do corrente resumia assim, a propósito das teses:
“No capítulo dedicado à luta de massas e intervenção do partido, os comunistas reconhecem que a sua influência na CGTP tem vindo a ser fragilizada.
“Resultante da grande pressão ideológica, forças e sensibilidades político-ideológicas, designadamente reformistas e ex-esquerdistas, que se reviam e participam no projecto colectivo e unitário na CGTP-IN, têm vindo a evoluir para concepções que, a serem concretizadas no plano do funcionamento e composição das estruturas de direcção do movimento sindical, conduziriam ao desvirtuamento e desagregação do que constitui a obra mais criativa dos trabalhadores portugueses, pode ler-se (nas teses).
“O PCP acusa ainda outras forças políticas de colocar em causa a unidade no interior da organização.” Subestimaram os sentimentos unitários e a elevada consciência de classe dos trabalhadores”, escrevem, acusando “tais forças” de pretenderem a parlamentarização e a transposição partidária para o seio da estrutura.”
Fim de citação.
Não podemos deixar de acreditar que a situação deve ser ou ameaçar vir a ser em breve muito grave, para o PCP ousar uma tal frontalidade e clareza contra o que estará a passar-se no próprio cerne do movimento sindicalista português.
Possível é que essa crise no sindicalismo provenha apenas da própria fraqueza do PCP e que muitos sindicatos sejam já, e cada vez mais, os que prefiram apoiar-se em forças políticas mais substanciais como o PS e o próprio PSD.
Mas estarão estes partidos dispostos, nas circunstâncias presentes, a apostar na carta sindical e a garantir aos sindicatos a cobertura e poder de mobilização que o PCP lhes dava?
Não será mais fácil acreditar que o sindicalismo que conhecemos está destinado a afundar-se com o próprio PCP?
O que seria qualquer coisa de trágico, porque nada nos diz por ora que os sindicatos não tenham ainda um papel fundamental a desempenhar na sociedade portuguesa, uma vez renovados.
A.C.R.
E há sinais desse mal-estar no sindicalismo português?
Se existiam, não se falava deles, até há dias, na véspera da Festa do Avante, quando foram divulgadas, no próprio “Avante”, para não haver dúvidas, as teses do PCP propostas para o seu XVII Congresso, a realizar em Almada, de 26 a 28 de Novembro.
É certo que já não tinha sido muito convincente a luta dos sindicatos portugueses, visivelmente conduzida e instigada pela CGTP-IN, contra as alterações às leis do trabalho propostas por Bagão Félix, no anterior Governo, e já promulgadas.
Ficara-se, no entanto, na dúvida sobre se não houvera, apesar de tudo, pelo menos uma meia vitória sindicalista, que retirara à reforma proposta muito do seu significado, como o entendiam necessário os sectores mais liberais da economia.
Talvez as teses alguma coisa denunciem, sem contudo clarificarem muito.
O “Público” de 3 do corrente resumia assim, a propósito das teses:
“No capítulo dedicado à luta de massas e intervenção do partido, os comunistas reconhecem que a sua influência na CGTP tem vindo a ser fragilizada.
“Resultante da grande pressão ideológica, forças e sensibilidades político-ideológicas, designadamente reformistas e ex-esquerdistas, que se reviam e participam no projecto colectivo e unitário na CGTP-IN, têm vindo a evoluir para concepções que, a serem concretizadas no plano do funcionamento e composição das estruturas de direcção do movimento sindical, conduziriam ao desvirtuamento e desagregação do que constitui a obra mais criativa dos trabalhadores portugueses, pode ler-se (nas teses).
“O PCP acusa ainda outras forças políticas de colocar em causa a unidade no interior da organização.” Subestimaram os sentimentos unitários e a elevada consciência de classe dos trabalhadores”, escrevem, acusando “tais forças” de pretenderem a parlamentarização e a transposição partidária para o seio da estrutura.”
Fim de citação.
Não podemos deixar de acreditar que a situação deve ser ou ameaçar vir a ser em breve muito grave, para o PCP ousar uma tal frontalidade e clareza contra o que estará a passar-se no próprio cerne do movimento sindicalista português.
Possível é que essa crise no sindicalismo provenha apenas da própria fraqueza do PCP e que muitos sindicatos sejam já, e cada vez mais, os que prefiram apoiar-se em forças políticas mais substanciais como o PS e o próprio PSD.
Mas estarão estes partidos dispostos, nas circunstâncias presentes, a apostar na carta sindical e a garantir aos sindicatos a cobertura e poder de mobilização que o PCP lhes dava?
Não será mais fácil acreditar que o sindicalismo que conhecemos está destinado a afundar-se com o próprio PCP?
O que seria qualquer coisa de trágico, porque nada nos diz por ora que os sindicatos não tenham ainda um papel fundamental a desempenhar na sociedade portuguesa, uma vez renovados.
A.C.R.
Etiquetas: Sindicatos