2004/06/21
A Europa a caminho do desastre económico?
O caso francês das eleições para o PE é tão elucidativo como o caso alemão, mas de sentido contrário.
A direita francesa, reformista, no Poder, perdeu as eleições como a esquerda alemã, socialista, e também reformista do chamado "modelo social europeu".
Os governos francês e alemão perderam numericamente de modo igualmente vergonhoso as eleições, porque não conseguiram fazer compreender aos seus eleitores que os sacrifícios pedidos são indispensáveis, e que, de qualquer modo, são muitos inferiores àquilo que já hoje se imporia e, sobretudo, completamente aquém do que será evidentemente inevitável daqui a um, dois, três anos.
A União Europeia, assim, através das políticas económicas das suas duas principais potências produtoras, caminha inexoravelmente para o abismo, onde não haverá paliativos nem regresso, seguramente, se não acorda a tempo.
Mesmo as decisões de Lisboa 2000, sobre o desenvolvimento da investigação científica e tecnológica, para que em 2010 a Europa viesse a ser, nesse âmbito, a vanguarda mundial, não passaram ainda, ao que leio, de demagogia e sonhos de papel.
A Europa vem, pelo contrário, se distanciando nesse plano cada vez mais dos EUA, por exemplo; e, por consequência, também no plano da recuperação económica e do emprego, como confirmam dados publicados ainda estes dias.
A Alemanha, pelo que vimos no poste anterior mostra possibilidades de cura e, portanto, de com ela arrastar a Europa.
Mas a França, não, pelo menos à vista.
Se o governo francês de direita também perde as próximas legislativas, isto é, se a direita perder a maioria absoluta que tem no Parlamento, por entretanto não ter conseguido recuperar fôlego e a confiança dos eleitores, vai suceder-lhe um governo socialista ou de coligação chefiada pelos socialistas.
O desastre da economia francesa tenderá então a agravar-se, pois que todas as possibilidades de recuperação, numa economia como a francesa, dependem do dinamismo empresarial e dos incentivos que o novo governo socialista queira dar às empresas.
Governos socialistas muito marcados ideologicamente, como são em geral os franceses desse cariz, têm mais a tendência para querer acreditar que têm de ser eles os melhores promotores da recuperação e do emprego, aumentando o emprego em funcionários públicos e reformando-os cada vez mais cedo, ou procedendo a novas nacionalizações.
Mas são falsas soluções que a experiência demonstra claramente ao que levam.
Talvez não chegue mesmo a uma França governada pelos socialistas, para ter sucesso, o aproveitamento em pleno das virtualidades do enorme e rico mercado europeu de 25 nações membros sem fronteiras e 350 milhões de consumidores.
Mas para isso, também seriam precisos empresários sem as peias que os socialistas costumam criar-lhes.
Por isso se pode esperar muito mais duma Alemanha que afaste os socialistas do Poder e o entregue aos defensores da livre iniciativa, os sociais-cristãos, como tudo indica que virá a acontecer daqui a meses, tornando a Alemanha de novo na locomotiva da economia europeia.
Em grande parte devido aos novos mercados garantidos à Alemanha pelo alargamento da UE a Leste, é verdade...
A.C.R.