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2004/05/05

Nacionalistas mais propensos ao Anti-americanismo primário: Sim e não? Sim ou não? 

(continuação)

Muitas vezes, mais que característico dos nacionalistas, o anti-americanismo coincide com o europeísmo dos que entendem não ser possível uma Europa forte e realmente autónoma sem que esteja preparada e disposta a fazer frente por toda a parte aos Estados Unidos.

Aos olhos desses europeístas extremos, hoje a real independência da Europa tem de ser conquistada contra os Estados Unidos.

Sem sequer se incomodarem a discutir essa pretensão, por a considerarem puramente ilusória e só por si anunciadora das maiores catástrofes, muitos europeus pensam que, além de ilusória, a pretensão é sobretudo injusta para com a América.

E enumeram os benefícios historicamente mais irrecusáveis que a Europa deve à generosidade e protecção americanas.
Teria sido a derrota dos Impérios Centrais — Alemão e Austríaco — e do Império Otomano, numa guerra, a de1914-18, cujo rumo só teria mudado decisivamente, quando as tropas americanas chegaram em massa e em força à frente europeia, em 1917.

Foi depois, continuam, a derrota do Eixo Berlim-Roma-Tóquio, só materializada e tornada possível pela entrada na guerra de 1939-45 dos Estados Unidos, novamente.

Aí, porém, o pró-americanismo europeu tem de concordar que, em 1945, a vitória americana, ou euro-americana, foi incompleta. Porque os EUA tiveram de resignar-se à aliança com a URSS, para vencer a Alemanha, o que deu uma tal posição de força aos soviéticos que, a partir da sua vitória, estes passaram a achar-se capazes de ameaçar e discutir a hegemonia ocidental, isto é, americana.

E foi assim que começou a Guerra Fria, digamos que declaradamente em 1951, com a Guerra (quente) das Coreias, já a China comunista entrada em cena, a reforçar o campo marxista-leninista-estalinista-maoísta, e a Cortina de Ferro a cortar a Europa em duas Europas irreconciliáveis.

Tanto assim que, para revigorar a Europa Ocidental e fazer dela um seu aliado útil, os EUA teriam sido forçados a cometer dois dos seus projectos mais ambiciosos e mais generosos: o Plano Marshal e a NATO.

Através do Plano Marshal os EUA salvam a Europa da fome e permitem aos governos europeus resistir vitoriosamente às "quintas colunas" soviéticas dos sindicatos europeus subversores da ordem social e política do pós-guerra; ao mesmo tempo que as economias nacionais europeias se vão consolidando e arrancando para os sucessivos "milagres" económicos conhecidos: o italiano, o alemão, o japonês (o Japão alinhará incondicionalmente com o Ocidente, depois da formidável derrota nuclear, a seguir aos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki)...

Digamos que a última grande "benção" trazida pelos Americanos à Europa teria sido a abertura desta e do Mundo, a seguir, às vantagens dum sistema liberal e de Livre troca generalizada ao Mundo inteiro.

Com isso, os EUA teriam definitivamente salvo a Europa da ameaça comunista e deitado fogo à Cortina de Ferro (que mais pareceu cortina de bambu), vencendo a Guerra Fria em 1989-91, sob o comando do presidente Ronald Reagan, magnificamente assessorado pela inglesa Margaret Tatcher, conservadora liberal, e pelo alemão Kohl, democrata-cristão.

Ressalvados os convencionalismos idílicos, tudo parece estar certo.

Mas convém desmontá-los, aos laivos idílicos da história, para nem a Europa sair de tudo mais diminuída do que merece; nem os EUA tão exaltados na sua generosidade e grandeza dos sacrifícios cometidos que se perca o sentido conveniente das proporções e do que é legítimo esperar deles, Americanos.

Há cada vez mais "pano para mangas", caros e pacientes consumidores de blogues.

A.C.R.

(continua)

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