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2004/03/17

O voto do medo. Paralelos históricos. O nosso “11 de Março” e o “11 de Março” espanhol. “Zapatero começa mal”? 

O paralelismo vem, em primeiro lugar, das datas, quanto ao dia e ao mês. Quanto ao ano, 1975 para o português, 2004 para o espanhol.

Mas isso é o mais superficial.

Outra coisa é, porém, dizer que nesses 11 de Março, sobre cada um dos Países peninsulares se abateu uma vaga terrorista que passou a marcar as suas Histórias.

É mais importante este aspecto, o da importância tão fora de comum dos dois acontecimentos que nada os apagará da História de Portugal, um, o apogeu do PREC, e da História de Espanha, o segundo, o dos morticínios das estações de caminho de ferro de Madrid.

E essa mesma natureza “terrorista” dos acontecimentos de Lisboa e Madrid, a 29 anos de distância um do outro, é também uma marca comum a aproximá-los.

Mas não tanto como o que vou agora recordar ou constatar.

Desde Domingo, com a vitória da esquerda espanhola nas eleições, também o 11 de Março de Madrid parece ter aberto, pelo voto, o caminho a uma esquerdização acelerada da vida política no País vizinho.

Como o 11 de Março de Lisboa, em 1975, que abriu caminho à entrega completa do poder, mas pelos militares, à mais extrema esquerda não lírica de então que eram, na verdade, os comunistas do PCP?

Lembrem-se das nacionalizações e da reforma agrária que iam destruindo a economia e a sociedade portuguesas e de que sofremos ainda as consequências.

Ora pode haver radicalização também em Espanha, se avaliarmos pelas declarações populares raivosas e odientas na TV, na 2ª feira, ou se avaliarmos pelo que já anunciou o socialista Zapatero quanto à política externa do seu governo.

Já alguém escreveu que “Zapatero começa mal”, com a sua brusca arrogância anti-atlantista e as suas súbitas declarações de amor à França e à Alemanha, das quais espera, naturalmente, grandes benesses em paga do aprofundamento e alargamento, que já provocou, na brecha pelos outros aberta na aliança e solidariedade ocidentais.

Com isto, o 11 de Março espanhol afastar-se-à do 11 de Março português, porque nós travámos a tempo a esquerdização galopante do nosso, ao passo que de Espanha sopram agora ventos de mau agoiro.

De facto, o “11 de Março” em Portugal obrigou os Portugueses, passada a surpresa, a reagirem ao choque com tanta convicção e determinação que, poucos meses passados, no “25 de Novembro” (1975), o País iniciava com muita segurança a longa escalada de sucessivas reacções que nos levaria pouco a pouco a libertarmo-nos do atoleiro em que “o 11 de Março” nos mergulhara.

É uma reacção assim saudável que se desejaria aos vencidos das eleições de Domingo em Espanha, para que possam e saibam despertar no melhor de si mesmos a vontade calma mas decidida, lúcida e equilibrada de não se deixarem abater.

Depende de vós que o vosso “11 de Março” acabe por ser, como o nosso, um “11 de Março” não de vencidos mas de vencedores.

Porque quem vos derrotou não foram Espanhóis vosso irmãos, mas forças estranhas com que não contastes e cujas manhas, violência e artimanhas fizeram porventura perder a serenidade e lucidez e ganhar medo a muitos eleitores vossos compatriotas.

O voto do medo?

Uns 10% apenas?

Foram mesmo assim muitos, porque foram os bastantes.

Têm de perceber que a vitória que eventualmente pensam ter conquistado é, para já, a vitória da Al Qaeda e quejandos; e que muitos Europeus nos sentimos hoje muito receosos das consequências negativas do seu voto, para a segurança e paz da Península e da Europa, para o futuro de todos nós.

Eles têm de entender que, objectivamente, deram um incompreensível prémio aos assassinos dos nossos Irmãos de Madrid.

Também, nós em 1975, tivemos de ser mais lúcidos e corajosos do que os governos que então tínhamos.

Cabe-vos agora, aos “vencidos” das eleições de domingo, ser mais lúcidos que os “vencedores”.

Acima de tudo, impedir as piores consequências do voto do medo.

A.C.R.

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