<$BlogRSDUrl$>

2004/03/16

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) e os “atentados” de MADRID 

Segundo os jornais de sábado, 13 do corrente a CNJP, organização oficial da Igreja, constituída por leigos, apresentou publicamente uma “Carta da CNJP aos Cristãos”, em que se dirá que atentados “sem nenhuma justificação” como os de Madrid traduzem, entre outros factores, “afloramentos das tensões que dividem o mundo e actos desesperados para contrariar a apropriação indevida de recursos por parte dos que detêm o poder”.

Do que li nos jornais, o resto parece-me muito semelhante às considerações “piedosas” dalguma confederação sindical ou pura demagogia para efeitos políticos, em pré-campanha eleitoral.

Mas as passagens citadas valem a pena de algumas reflexões.

Salvo erro de transcrição dos jornais, penso que há contradição em escrever-se que os atentados são “sem nenhuma justificação”, para logo dizer-se que eles são, entre outros factores, afloramentos de “tensões que dividem o mundo” e “actos desesperados para contrariar a apropriação indevida de recursos” (“por parte dos que detêm o poder”).

Esta 2ª parte parece estar a querer dizer que, afinal, os atentados são justificados e que o terrorismo, portanto, se justifica também e é mesmo — talvez? — desculpável.

Por outro lado:

As tensões que dividem o mundo quais serão?

As tensões e ambições geo-estratégicas que todos mais ou menos sabemos como sempre levaram as nações e os estados às guerras?

Ou, dentro das nações e dos estados, mas também a nível mundial, as tensões referidas pela CNJP são essa luta de classes fomentada e glorificada pelo marxismo, desde que conduzisse ou conduza à vitória e ditadura do proletariado?

Tudo parece subjacente na interpretação da católica CNJP.

Desde a luta de classes, compreendida, aceite e justificada, à pouco subtil classificação da propriedade como “um roubo”, ainda que aqui literalmente limitado ao caso da “apropriação indevida de recursos pelos que detêm o poder”.

Mas — gato escondido com rabo de fora — não quererá a limitação apenas insinuar ou levar a pensar que todos quantos detêm propriedade e poder são ilegítimos, pois que só pelo uso do poder (que poder?) chegaram a deter a propriedade e não pelos méritos dos serviços prestados à sociedade?

As ambiguidades e insinuações, em apenas meia dúzia de linhas, são mais que muitas para que não tenha de dizer-se que é um texto mais desorientador que cristão.

Mas pior que tudo penso que é a também subjacente e sempre insistentemente repetida ideia de que o terrorismo é o simples fruto da desigual e iníqua distribuição dos recursos.

Aflora-se, na passagem que estou a comentar, a questão do poder, mas esquece-se que ela não se põe dum lado só. A ambição de poder, por parte de quem o não tem ou quer ter mais, alimenta o terrorismo tanto ou mais que a pobreza ou a desigual distribuição dos recursos.

Os terroristas não estão necessariamente ao serviço dos pobres e deserdados. Servem-se, sim, deles também — talvez sobretudo deles — para satisfazer as suas próprias ambições e necessidades de poder. Sabe-se isso desde sempre, mas tende-se a esquecê-lo.

Se só combatêssemos a pobreza e ganhássemos essa “guerra”, nem por isso teríamos vencido o terrorismo, muito longe disso.

Os terroristas lutam por mais poder e vivem de explorar a pobreza dos outros. Mas, na verdade, as suas “tropas” não são recrutadas necessariamente entre os mais pobres, antes entre gente doutrinada ou doutrinável para os seus objectivos de poder, seja o poder de Alá, seja o poder dos supostos servidores de Alá.

Diria que a guerra pelo poder está mais generalizada e é socialmente mais estrutural e estruturante que a guerra pelo pão.

Sendo isto certo, o que o terrorismo mais teme é que se use contra ele as armas da violência que ele usa contra nós todos.

A.C.R.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional