<$BlogRSDUrl$>

2003/09/19

“Arte de Governar” Portugal, à luz do chamado “Horizonte 2010” 

Já anteriormente me referi aos efeitos decisivos do factor tempo para os estadistas e a governação. Esse tempo cujo significado tem de ser avaliado, em termos de Arte de Governar, segundo dois pontos de vista, naturalmente complementares: o dos governantes e o dos governados.
Se os governantes precisam dele para preparar, lançar, desenvolver e amadurecer a sua obra de governo, os governados facilmente tendem a pautar o seu tempo próprio e a sua acção pelo tempo dos governantes.
Quero dizer, em especial, que, se os governados souberem dos horizontes temporais com que os governantes contam empenhadamente e para os quais planeiam a sua governação, tudo poderá ser diferente, e resultar melhor, no governo do nosso País. Porque passa a existir um sentimento recíproco de certa identificação que se deve realçar.
Vem daí — falando do presente em Portugal — a extrema importância das declarações recentes do Primeiro-Ministro, já repetidas a propósito das Grandes Opções do Plano e do relatório Mckinsey, feitas no sentido de a si próprio e ao seu Governo se fixar e fixar aos Portugueses o horizonte até 2010 para a realização das grandes reformas para o desenvolvimento e a modernização que se impõem e que já foram apresentadas e propostas ou mesmo começadas a desenvolver.
Basta pensar na luta contra a evasão fiscal, na reforma do Serv. Militar Obrigatório, no rearmamento das F. A., na consolidação e expansão do Ensino Profissional, na nova gestão dos estabelecimentos da Saúde, na Reforma Administrativas, na criação das Grandes Áreas Metropolitanas e das Comunidades Urbanas.
Pressupõe-se, por um lado, que os governantes tenderão a querer e saber mobilizar as predisposições da parte potencialmente colaborante dos governados, para se acertarem os ritmos de uns e outros; e, por outro lado, que os governados sintam a ambição dos governantes como um estímulo e uma garantia para os seus próprios projectos e ambições.
Não são meras hipóteses de trabalho mas convicções profundas fundadas em realidades conhecidas.
Se os governantes souberem manter a confiança dos Portugueses nos propósitos do Governo para um largo período pré-estabelecido, estes retribuir-lhes-ão com melhores iniciativas da sociedade civil e mais bem fundamentadas; planeadas para um prazo que lhes permita assegurar o seu lançamento com a tranquilidade das regras estabelecidas, que podem ser melhoradas mas não mudadas; com a fundada esperança de que tais iniciativas chegarão mesmo à velocidade de cruzeiro no período em questão; e que durante este darão já significativos frutos, garantindo a certeza de que, depois de 2010, ninguém as porá politicamente em risco, porque as protegerá e defenderá a marca do seu sucesso e do valioso contributo por elas dado ao sucesso geral.
Mas é indispensável que os governantes sejam claros e muito decididos e empenhadas ao longo do horizonte temporal que se fixam. O Primeiro-Ministro parece estar a sê-lo e, de resto, já demonstrou fortemente a persistência e firmeza do seu carácter pessoal, naquele sentido.
Não tenho dúvidas: muitos são os Portugueses que se sentem profundamente animados pela força das convicções e disposições do Primeiro- Ministro, pelas certezas que transmite e pela confiança com que se pode passar a trabalhar tranquilo, porque as disposições do Poder e as suas regras de jogo e objectivos passaram a ser conhecidos por um tempo confortável.
São sentimentos que farão esbater os tons carregados das linhas de separação e desconfiança entre governantes e opositores, permitindo se aproximem uns dos outros, em comunhão metódica de esforços e objectivos.
Espera-se o nascimento duma dinâmica nova, de parte a parte.
Empresários em geral, agricultores, silvicultores e afins, agentes culturais, promotores de educação e ensino, promotores de saúde, promotores de formação profissional, empreendedores turísticos, construtores civis, etc., etc., cada vez em maior número se irão tornando desde já mais seguros e mais criativamente activos.
Mas é fundamental que o Governo não fruste as expectativas que ele próprio, corajosa e lucidamente, está a criar, digamos que convincentemente.
Os resultados não dependerão tanto dos dinheiros públicos disponíveis — que devem continuar a ser governados com mão de ferro e sem tacanhez — mas dependerão sobretudo da firmeza de rumos e da segurança e clareza dos propósitos reformistas, inovadores, que o governo continue a demonstrar.

ACR

Etiquetas:


2003/09/18

Serei insuspeito para falar de nazismo e de comunismo... 

Pelo menos quanto a nazismo, que eu saiba, jamais alguém me chamou nazi ou sequer de simpatizante nazi. Até os comunistas, durante o PREC, nunca me chamaram pior que fascista. Mas isso era o que chamavam mais ou menos a toda a gente que não se declarasse comunista.
Tudo bom para me tornar mais insuportável que se utilize o nazismo para branquear o comunismo e os seus incontáveis e incontornáveis crimes destes quase noventa anos.
(Noventa anos!)
Mas foi o que fez o jornalista Augusto M. Seabra (AMS) há dias, a propósito da morte da famosíssima cineasta Leni Rienfenstahl, num artigo intitulado “Refutação de Rienfenstahl”. Depois de ter lembrado a analogia profunda entre os totalitarismos nazi e comunista, que terá aprendido (Só!... o pobre homem!) com Hannah Arendt.
«Acontece — escreveu AMS — que a analogia profunda também não nos deve fazer descurar que o nazismo teve uma particularidade extrema: o programa da “Solução final”. Não está em causa, de modo nenhum (seria obsceno) “relativizar” os muitos milhares de vítimas das purgas estalinistas, do terror e do “gulag”, incluindo mesmo as perseguições anti-semitas, que também as houve. Mas nada na História da humanidade se pode comparar ao anti-semitismo nazi, que em termos simbólicos quis mesmo fazer desaparecer o significante “judeu” e para isso pôs em prática um programa racional de extermínio total.»
Fim de citação.
É aqui que os mais discretos simpatizantes ou nostálgicos do comunismo julgam ter encontrado o “argumento final” para branquear o totalitarismo comunista.
Simples, mas completamente ilusório, para não dizer obsceno mesmo.
Pois não teve o comunismo também o seu “programa racional de extermínio total”?!
Não de um povo, mas de muitos povos ou dos “burgueses” de todo os povos da Terra: a sua “Solução final”, para as “burguesias” do mundo inteiro!
E todos sabemos que, contando apenas os fisicamente liquidados, foram umas dezenas de milhões.
Não falo só dos “burgueses” de facto, liquidados por tal e como tal.
Falo também dos que foram liquidados como simpatizantes “burgueses” ou como agentes da “burguesia”; e sobretudo falo dos que foram liquidados como suspeitos de mentalidade “burguesa”.
Não foi uma liquidação (embora geral) ao acaso de imprevistos ou de improvisos, foi uma liquidação programada ideologicamente e metodicamente organizada e executada.
E não fez só aquelas dezenas de milhões de vitimas assassinadas; fez muitas outras dezenas de milhões de vítimas “burguesas”, tornadas reféns dos vários regimes comunistas que assolaram (alguns assolam ainda) o Planeta. Não os terá matado fisicamente, mas liquidou-os moral, intelectual e culturalmente. O comunismo “lavou” muitas dezenas de milhões de cérebros, convertendo-os em títeres dos regimes marxistas: pior que a morte.
Porque, no fundo, tudo começou aí, no marxismo e na luta de classes, que era o axioma fundador do marxismo e por suposto deveria conduzir à ditadura do proletariado, à sociedade sem classes e ao esmagamento de todos os inimigos dela.
Pelo ódio, à luta de classes.
Pela luta de classes, ao esmagamento de todas as classes, que não o proletariado, esse sim o instrumento supremo da “solução final” à maneira marxista-leninista-estalinista.
Por isso e para isso o comunismo foi, pelo ódio racional e sistematicamente espalhado e imposto, o principal instigador de todas as guerras do séc. XX. Não faltou a uma só. Sempre na expectativa de acabar por chegar à “solução final”, versão marxista-leninista-estalinista.
Parece que homens tão cultivados como Augusto M. Seabra ainda não sabem isto!
Não há maneira — convençam-se — de branquear seja que totalitarismo for.

A.C.R.

2003/09/17

A II Guerra Mundial e o Eclipse do Nacionalismo (II) 

Comunicação ao I Congresso Nacionalista Português - Lisboa, 13 e 14 de Outubro de 2001

Dr. Manuel Marques José

3.
A intenção de eclipsar nacionalismos refere-se apenas a alguns nacionalismos: Portugal, por exemplo. A Nação Portuguesa incomodava, nação pluricontinental e plurirracial, habilmente administrada, imbuída de forte humanismo cristão e de respeito pelos povos que habitavam os nossos imensos territórios afro-asiáticos.
Ora, as intenções soviético-americano-(sionistas) - volto a pôr o sionistas entre parêntesis - não se prendiam muito com o humanismo que, habilmente, sobretudo eles -esta dupla ou esta tríade-, resolveram erigir como postulado na Declaração Universal dos Direitos do Homem (uma coisa que depois cada um interpretou à sua maneira, quero dizer, aos seus interesses) -um texto inválido pela concepção abstracta que apresenta do Homem: segundo o velho filósofo grego Aristóteles, só, o homem seria um deus ou uma besta. Desprovido da sua nação, do seu deus, da sua família, da sua aldeia, da sua vila, da sua cidade, o Homem não existe.

4.
Mas, paradoxalmente, hipocritamente, os miseráveis que regeram o mundo a partir da lI Guerra Mundial criaram novos nacionalismos, muitos nacionalismos: africanos, asiáticos. Sobretudo africanos. Talvez assentando na ideia de que África deveria regredir historicamente para um território de escravos ou um território escravo - da União Soviética, dos Estados Unidos, de outros.
Os nacionalismos africanos, tal como foram apresentados (não estou a negar a existência de nacionalismos africanos) nada mais eram que ficções elaboradas por irresponsáveis estadistas e acólitos mais ou menos irmanados, e postas em acção por mais ou menos brilhantes agentes do KGB ou da CIA (de várias nacionalidades, entre os quais portugueses). E depois, aconteceu o que aconteceu, o que continua a acontecer - coisas decerto englobáveis no conceito de crimes contra a humanidade, crimes imprescritíveis como agora se diz muito, (é moda!) - os crimes contra a humanidade não prescrevem -, com tribunal internacional e tudo (mas como nesses crimes há responsabilidades dos USA, de outros e da defunta URSS, não são consideráveis - tal como não são os massacres de 1961 no Norte de Angola!) - ou seja, uns são filhos da mãe e outros da outra!
E criaram-se outras caricaturas de nacionalismos: passando a designar-se por nação um qualquer grupo de gentalha que gosta de uma bebida qualquer, tendo obrigatoriamente como requisitos rótulo em inglês e publicidade televisiva; e até se fala também em planeta reebok, ou será nike?!, para referir as multidões que gostam de andar com esses sapatos... Enfim!...
E também se criou o nacionalismo mundialista – uma fraude, uma ficção - bem aceite neste nosso tempo adormecido! (Agora um pouco desperto -embora aturdido e confuso - depois dos acontecimentos de 11 de Setembro e subsequentes). E também o nacionalismo europeu -de que actualmente os nossos iluminados governantes e afins dizem que fazemos parte!
Este nacionalismo mundialista foi enunciado pela União Soviética por um lado, e pelos Estados Unidos por outro - ou pelos Sionistas? - Após o colapso do paraíso soviético, resta-nos pois o paraíso americano-parêntesis-sionista-parêntesis.

5.
Empobrecido o mundo, empobrecida a humanidade, o mundo restringido ao conceito de recurso material, a humanidade restringida ao conceito de recurso humano, eis-nos num tempo morfínico, anestesiado...
Com o eclipsar das nações, toda a ternura, todo o cuidado que se deveria ter para com a Pátria, a casa onde nascemos, o regaço materno que tanta vez nos embalou, a aldeia ou a cidade em que crescemos, a escola onde aprendemos, a família e as pessoas que nos rodeiam deixariam de ter qualquer sentido. Em nome de ficções e instabilidades, de caricaturas: a alta costura esfarrapada; a água com açúcar vendida com rótulos coca-cola, fanta, sprite, 7up, etc.; o pão com carne de vaca moída e minhocas à mistura; os deuses do celulóide; o sonho de pôr o Michael Jackson a macaquear e a guinchar na Sagrada Mesquita de Meca, no lugar da Sagrada Kaaba...
No mundo actual, desertificado e indigente, resta uma «civilização do bem-estar consumista» que «constitui o grande coveiro histórico da ideologia gloriosa do dever.»4 E resta-nos também esta duplicidade: o zombie e o fanático: (cito) «A barbárie acabou portanto por se apoderar da cultura. À sombra desta grande palavra, a intolerância cresce, ao mesmo tempo que o infantilismo.»5. O zombie: o indivíduo típico contemporâneo, vai de madrugada para o trabalho, à noite regressa a casa, sem vontade, sem querer, inexistente, um número; o fanático: o fundamentalista islâmico que em nome de Deus se atira contra as Twin Towers do World Trade Center.
É um tempo perigoso o nosso tempo. E citaria um pequeno poema de Friedrich Nietszche: «"Nenhum caminho já! Abismo e silêncio de morte!" / Assim quiseste! Fugiste do caminho! / Ora pois, caminheiro! Olha agora frio e claro! / Estás perdido, se acreditas no perigo.»6

6.
Todavia, o estarmos aqui é sinal de que não acreditamos no perigo e que a nossa querida Pátria se reerguerá. E embora eu tenha escrito um livro cujo título é «Pela Pátria, esta missa de finados», também estou aqui.
Disse.
_______________________________________
4 Gilles Lipowetsky, Crepúsculo do Dever, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1994, p.59.
5 Alain Finkielkraut, A derrota do pensamento, Publicações D. Quixote, Lisboa, 1988, p.145.
6 Friedrich Nietzsche, Poemas, Centelha, Coimbra, 1981, p.139.

2003/09/16

A II Guerra Mundial e o Eclipse do Nacionalismo (I) 

Comunicação ao I Congresso Nacionalista Português - Lisboa, 13 e 14 de Outubro de 2001

Dr. Manuel Marques José

Epígrafe

«Duma civilização que regressa cientificamente à selva separa-nos sem remissão o espiritualismo - fonte, alma, vida da nossa História. Fugimos a alimentar os pobres de ilusões, mas queremos a todo o transe preservar da onda que cresce no mundo a simplicidade da vida, a pureza dos costumes, a doçura dos sentimentos, o equilíbrio das relações sociais, esse ar, modesto mas digno da vida portuguesa - e, através dessas conquistas ou reconquistas das nossas tradições, a paz social.»

António de Oliveira Salazar, em 15 de Abril de 1937


Meus senhores, minhas senhoras, muito bom dia.

Quero, em primeiro lugar, agradecer o convite que me foi endereçado para estar aqui. Não me julgo, neste tempo, muito capaz de estar à altura da tarefa que me propuseram. Todavia, e porque demonstraram confiança em mim, resolvi aceitar. Também, para não cometer grandes gaffes, escrevi o discurso.
Diante de diversas perspectivas de abordagem do tema proposto, escolheria naturalmente a filosófica. Acontece, porém, que, embora seja licenciado em Filosofia, estou há alguns anos afastado de lides filosóficas mais aturadas. Mesmo assim, enveredei por essa perspectiva, embora de um modo algo difuso.
Com algum esforço pois, consciente de grandes limitações, procurei traçar, por vezes de uma maneira nómada senão mesmo caótica, algumas considerações que, julgo, têm qualquer coisa a ver com o tema que me foi proposto: «A II Guerra Mundial e o eclipse do nacionalismo» .
(Quero, no entanto, desde já dizer que gostaria de me ficar apenas pelo que enunciarei num ponto um.)

1.
Há uns 30 e poucos anos atrás, quando ainda a Nação Portuguesa existia, era eu menino de escola primária, local onde se aprendia a ler, a escrever, a contar, a ter boa conduta cívica e moral, coisas que, nos dias que vão correndo, nem mesmo na universidade se têm conseguido com regularidade aceitável. Bem...
Havia uns textos no livro da 3ª classe de que eu não gostava particularmente. Não sei porquê, ou, pelo menos não me recordo. São, todavia palavras belíssimas, de grandeza e simplicidade, de eloquência extrema, e eu gostaria de os citar integralmente - neles se diz tudo sobre a Nação, sobre a nossa Pátria (de então).
Primeiro texto:
«Menino, sabes o que é a pátria?
A pátria é a terra em que nascemos, a terra em que nasceram os nossos pais e muitas gerações de portugueses como nós.
É a nossa pátria todo o território sagrado (sublinho sagrado) que D. Afonso Henriques começou a talhar para a Nação Portuguesa, que tantos heróis defenderam com o seu sangue ou alargaram com sacrifício de suas vidas. É a terra em que viveram e agora repousam esses heróis, a par de santos e de sábios, de escritores e de artistas geniais. A pátria é a mãe de nós todos, os que já se foram, os que vivemos e os que depois de nós hão-de vir.
Na pátria está, meu menino, a casa em que vieste à luz do dia, o regaço materno que tanta vez te embalou, a aldeia ou a cídade em que tu cresceste, a escola onde melhor te ensinam a conhecê-la e a amá-la, e a familia e as pessoas que te rodeiam.
Na pátria estão os campos de ricas searas, os prados verdejantes, os bosques sombreados, as vinhas de cachos negros ou de côr de ouro, os montes com suas capelinhas brancas votivas.
A pátria é o solo de todo o Portugal, com as suas ilhas do Atlãntico (Açores e Madeira, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe...), as nossas terras dos dois lados de África, a Índia, Macau, a longínqua Timor.
Para cá e para além dos mares, é a nossa pátria bendita todo o território em que, à sombra da nossa bandeira, se diz na formosa língua portuguesa a doce palavra Mãe!...»1


Segundo texto:
«A nossa querida pátria
Ao vermos a enorme extensão do Império Português, admiramos o heroísmo com que os nossos antepassados, - sábios, marinheiros, soldados e missionários, - engrandeceram a pátria. Por ela atravessaram mares desconhecidos, sofreram as inclemências de climas insalubres e travaram lutas cruéis em paragens longínquas.
Aprendamos a lição do seu esforço, para amar e servir, como eles, a nossa querida Pátria.»2


Ora foi apenas cerca de trinta anos depois do fim da II Guerra Mundial que estas palavras «perderam» (ponho perderam entre aspas), sentido. Portugal aguentou muito tempo... E apenas foi vencido por uma gente bem caracterizada por Adulcino Silva: anões e pigmeus da Pátria (que é o título de um livro).3
O meu discurso terminaria aqui, segundo inicialmente o concebi.
Mas permitam-me que ajunte mais umas coisas.

2.
Resistimos durante muitos anos à ofensiva soviético-americana - (sionista) - ponho aqui o sionista entre parêntesis - do pós-guerra e, não fossem alguns traidores acompanhados por algumas centenas de débeis mentais, não teria a nossa Pátria perecido, não teria a nossa Pátria vivido as tragédias que viveu - que ainda vive...
A Nação Portuguesa, irmandade de povos, no dizer de Salazar, permaneceu como último bastião de uma ordem hoje destruída - Deus morreu (dando expressão real à proclamação nietzscheana de há cem anos atrás), a Pátria tornou-se em meia dúzia de acções vendáveis numa qualquer reles bolsa de valores, a Família transformou-se numa instituição atomizada e volúvel.
Em nome de nada, ou em nome do dinheiro, em nome do partido comunista, ou de outras coisas quaisquer.
O diminuir da Nação, a nossa grande casa, onde poeticamente habitamos («o Homem habita poeticamente», Hölderlin, Heidegger), onde nos encontramos com os nossos santos e os nossos heróis, acarreta a perda de encanto da nossa terra e do mundo, desertificando, abrindo lugar aos predadores (americano-soviéticos e outros mais ou menos incógnitos!)
O diminuir da Nação acarreta o fim de um chão para cuidar, de um céu nítido aonde se erguem os olhos para Deus: corrói a Pátria, a nossa terra, a nossa casa, em nome de um chão não topologizado, insignificativo, terra de ninguém, aberta a tudo, mesmo à ignomínia, na emergência da necessidade de afirmação dos novos impérios vencedores da lI Guerra Mundial: a URSS, os USA, o Sionismo - o Partido Comunista não tem pátria (embora, mesmo nos dias de hoje, ainda existam uns partidozecos que apõem ao comunista uma nacionalidade, e outros nem comunistas já se chamam), e o Capital também não tem pátria!
________________________________________
1. Livro de Leitura da 3ª Classe, Porto Editora, Lda., 1958, pp.5-6
2. Livro de Leitura da 3ª Classe, Porto Editora, Lda., 1958, p. 11
3. Adulcino Silva, Anões e pigmeus da Pátria, Erasmus, Amadora, 1997

(continua no próximo post)

2003/09/15

Novas Considerações sobre a Arte de Governar - “Sorte” ou azar “queimam” a classe dos engenheiros civis 

O sucesso dos governos não depende só, é óbvio, do carisma, do talento, da visão e capacidades políticas, ou estratégicas, ou administrativas, ou de gestão e previsão dos seus agentes máximos.
Depende ainda da sorte, para começarmos.
Chamemos sorte a esse factor imprevisível e indefinível em absoluto que, por exemplo, terá feito cair a ponte pedonal do IC 19, em Queluz, quando nem debaixo dela, nem por cima passavam carros ou peões, ou poucos, porque era domingo.
Tivesse havido mortos, como em Entre-os-Rios, e o Governo passaria um mau bocado. Talvez nem a pronta demissão do presidente do IEP – Instituto Português das Estradas lhe evitasse o perigoso impacto político daquele betão a desabar.
A alguém que lhe dizia uma vez, a propósito de alguns dos seus sucessos: “O Senhor Presidente (do Conselho de Ministros) tem muita sorte”, o Doutor Salazar terá respondido: “Pois é... Dá-me muito trabalho ter sorte!...”
Não foi, evidentemente, o caso da ponte pedonal , que aqui a “sorte” foi azar e o que aí houve foi, sim, falta de trabalho, trabalho competente, de qualidade técnica, de execução e de planeamento, a avaliar pelos resultados do inquérito, aliás muito prontamente levado a cabo, do tipo de coisas que entre nós costumam levar um tempo indefinido.
Alguma coisa estará efectivamente a mudar em Portugal?
Talvez a frase de Salazar não seja um acto gratuito de orgulho e talvez não queira dizer, no fundo, senão isto: que, quando se trabalha muito e bem, o mais natural é as coisas não saírem mal. A “sorte” ou o azar, verdadeiramente, só vêm ao de cima como desculpa, quando não se trabalhou ou se trabalhou pouco e mal. Caso nitidamente do desabamento da ponte de peões do IC 19.
Pior é, porém, o desprestígio que o “feliz” acidente traz ou revela, para toda uma classe social e profissional de primeira importância, a dos engenheiros civis portugueses, no seguimento de casos como o de Entre-os-Rios, o das obras do Metro do Terreiro do Passo, o dos viadutos em construção nas auto-estradas novas.
Escreveu o director do “Público” no seu editorial de 9 do mês corrente, intitulado “Não foi só mais uma ponte que caiu”:
“Durante muitos anos a engenharia civil portuguesa — e em especial a engenharia de pontes — era motivo de orgulho. Para além de nomes como Edgar Cardoso, o país possuía um laboratório de investigação de renome internacional — o LNEC —, cujos serviços e competência eram reconhecidos em todo o mundo. Acresce que empresas portuguesas de projectistas e de construção eram consideradas internacionalmente e trabalhavam com regularidade nalgumas das maiores obras públicas do planeta. Por fim, havia um sentido de serviço público nos organismos do estado que fazia com que fosse impensável realizar obras de forma descuidada.
Este quadro geral degradou-se enormemente nos últimos anos. Os organismos do estado viram os seus quadros envelhecer e confrontaram-se com a dificuldade de contratar técnicos novos e competentes por não lhes oferecerem condições atractivas. No sector particular das estradas, o desmembramento da JAE agravou a situação, pois facilitou a saída de muitos quadros históricos. Quanto ao LNEC, o instituto é hoje uma sombra do que foi no passado asfixiado por falta de verbas e envelhecido por incapacidade de renovar os seus quadros. Até a autoridade de fiscalização que se lhe reconhecia foi em grande parte diminuída.
A tudo isto junta-se um quadro geral de desresponsabilização. Os desastres sucedem-se, mas nada acontece aos seus responsáveis. Os inquéritos morrem sem conclusões e os processos judiciais fenecem na penumbra dos tribunais. Pior, instalou-se um sistema de trabalho em que o Estado perde o controlo da obra que encomenda, pois a empresa com quem contrata a obra subcontrata-a a outra empresa, que, por sua vez, a subcontrata a outra ainda. Quando se chega ao local do acidente, às vezes nem se sabe qual o empreiteiro que lá estava a trabalhar.
É por isso que não foi apenas a passagem superior do IC 19 a cair ontem: com ela caiu também a confiança dos portugueses na qualidade das nossas obras públicas."

O que aí fica com clareza expresso é que não se destroem ou deixam destruir impunemente os melhores corpos “orgânicos” de uma sociedade .
Os governos e governantes responsáveis por tais crimes — talvez muito mais graves que tantos outros crimes previstos e castigados no Código Penal — têm pelo menos de perceber e reconhecer esses crimes, para que outros não venham a repeti-los e não cometam ou deixem cometer certos gestos impensadamente ou por pura estupidez e irresponsabilidade.
Não foi só o PREC a destruir tanto do que havia de melhor no tecido social e profissional português. Também certos governos que vieram depois do PREC, alguns dos quais deram provas inequívocas de repudiarem o PREC e os aleijões que este causou, também esses — não por revolucionalismo, antes por inconsciência mas inconsciência culposa — acrescentaram as suas destruições profundas, e menos visíveis, às destruições nacionais imperdoáveis, cometidas de Setembro de 1974 a Novembro de 1975.
A sociedade portuguesa está frágil e fluida, sem esses corpos orgânicos.
Substituí-los ou reconstruí-los é fundamental para a saúde da nossa sociedade e para a retoma do nosso desenvolvimento em geral.
É uma tarefa muito demorada, mas em que alguns indícios fazem supor que se pode estar a tentar ir por bom caminho.
O efeito multiplicador de alguns simples exemplos de boa governação, sobre a dinâmica do tecido social, pode revelar-se espectacular. Para que outros corpos orgânicos da sociedade não sejam ou venham ainda a ser “queimados” e o das nossas obras públicas possa renascer.
Haja esperança e convicções!

ACR

Etiquetas:


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional