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2010/06/23

Corridos à pedrada 

Manuel Brás

José Saramago foi uma daquelas pessoas a quem se tornou proibido criticar as palavras, as acções, a obra literária e a ideologia. Não só depois da morte, mas ainda em vida. Porque tudo foi lido e contado à “luz” dessa ideologia: o marxismo, ou, se quiserem, o materialismo ateu.

É por isso que tem imensa piada ver o Prof. Carlos Reis, um académico com créditos bem firmados, mestre e profundo conhecedor da literatura portuguesa, dizer na TV que Saramago, a propósito das suas polémicas investidas anti-religiosas, tinha uma outra leitura dos textos bíblicos. Não há coisa mais óbvia. Faltou apenas explicitar qual a chave de leitura usada por Saramago, o que é determinante. Seremos nós capazes de ler a obra de Saramago com uma chave diferente daquela com que ele a escreveu, ou seja diferente dessa brincadeira de pedir contas a Deus – como se lhe devesse alguma coisa e não lhe pagasse – para depois concluir a afirmação de princípio de que não existe?

Faltou, na pretensão de apresentar Saramago como um crítico e um profeta da desgraça da União Europeia, que é bem capaz de chegar, pelo menos interrogar-se como é que ele não foi capaz de prever a derrocada da União Soviética, em cuja ideologia continuou a acreditar, aparentemente, até ao fim. Isto para já não falar nos saneamentos do DN...

Então, e o Prémio Nobel? Pois é... Só se espanta disso quem não sabe como a atribuição desses prémios está viciada política e ideologicamente. Será preciso dar exemplos? Se Saramago não fosse ateu, fosse crente, teria recebido o Prémio Nobel? Teria recebido as distinções e honrarias fúnebres em Portugal? Ou seria mais um escritor entre tantos?

Querem dois escritores do século XX português mais valiosos que Saramago? Fernando Pessoa e Miguel Torga.

Entretanto, descobre-se também uma faceta científica em Saramago, que pontificou em matéria de alterações climáticas. Ou seja, lendo o sentido do seu depoimento científico, conclui-se de imediato que Saramago também era cientista e podia, ou melhor devia, ter partilhado o Nobel da Paz com o Al Gore e o Rajendra Pachauri.
http://ecotretas.blogspot.com/2010/06/tretas-de-saramago.html

Mas, a julgar pelo ambiente animado que reinou a bordo do avião que trouxe os restos mortais de Saramago para Lisboa, testemunhado pela Ministra da Cultura, e até por alguma ou outra citação da morte como porta para a vida, durante as reportagens mediáticas, dir-se-ia que também os ateus acreditam na vida eterna. O que não deixa de ser espantoso.

Correndo o risco de ser corrido à pedrada, aqui fica.

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