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2008/10/07

Inverno Demográfico 

Manuel Brás

Há pouco mais de uma semana a Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN) http://www.apfn.com.pt/ organizou num auditório da Assembleia da República (AR) o lançamento em Portugal do documentário “Inverno Demográfico: o Declínio da Família Humana” http://www.demographicwinter.com/, introduzido e apresentado por curtas, mas substanciais, intervenções de Eduardo Hertfelder (Instituto de Política Familiar European Network) e Raul Sanchez (European Large Families Confederation) seguido de debates com representantes de vários partidos políticos sobre o assunto.

A parte da manhã, na qual estive presente e só a essa me refiro, foi dedicada a deputados do Parlamento Europeu. Numa coisa todos tiveram de acordo: o reconhecimento de que estamos perante um problema grave, embora nem todos mostrassem a mesma lucidez e firmeza acerca da sua resolução.

Silva Peneda reconheceu o problema e apontou alguns possíveis caminhos, talvez avulsos, mas, fica-se com a ideia de que sem grandes compromissos e que essa não é uma causa prioritária para ele. O problema existe e alguém se há-de mexer para que se resolva, mas nada de mudanças relevantes na visão das coisas.

Edite Estrela acha que a causa do fenómeno não foi o crescente trabalho das mulheres fora de casa, nem o crescente número de divórcios, nem a volatilidade das relações humanas, nem o facto da maternidade se ter tornado, na mentalidade das pessoas, uma possibilidade com as mesmas expectativas que um televisor, um carro ou qualquer outra comodidade, sempre subordinada ao emprego. Acha que o problema se resolve fiscalizando e perseguindo os empresários e as empresas que não criam melhores condições para as mulheres terem mais filhos, por vezes pressionando-as até para não os ter, esquecendo-se de que, por muito canalha que seja essa realidade, a finalidade directa das empresas não é aumentar a natalidade, mas sim aumentar a produtividade e o lucro. As empresas não têm que ser penalizadas pelo défice de natalidade, criado sobretudo por uma mentalidade, na qual a esquerda desde sempre se empenhou em educar as pessoas: que a maternidade atenta contra a igualdade, vista da esquerda, sendo por isso mal vista e combatida.

Edite Estrela não foi capaz de superar este bloqueio ideológico, tal como as facções mais radicais do PS de Sócrates não são, e, por isso, não conseguiu reconhecer que o trabalho educativo de uma mãe é tão, ou mais, importante, também em termos sociais, que o trabalho extra-familiar, e que, por isso, devia ser recompensado em termos económicos e financeiros.

Está aqui em jogo o conflito entre duas coisas boas e necessárias: a maternidade e o trabalho das mulheres, se o desejarem e puderem, fora de casa, coisa que, em maior ou menor medida, consoante as modas, sempre aconteceu. O problema é que, como a maternidade é hoje socialmente mal vista, encontra-se subordinada à primazia do emprego. Enquanto isto for assim entendido, cheio da mentalidade e dos complexos de esquerda, será difícil encontrar uma conciliação eficaz entre trabalho intra e extra-familiar.

O deputado do CDS, que substituiu José Ribeiro e Castro fez um diagnóstico lúcido da situação, com algumas colheradas de humor, aproveitando os paradoxos e contradições da política nesta matéria, mas dando a entender nas entrelinhas que no actual quadro político partidário não há grande margem para mudanças. Pudera! São os que nos meteram no pântano, como é que nos vão tirar?

Na sessão final de respostas a perguntas formuladas por escrito, o destaque foi para a gaffe de Edite Estrela, quando foi confrontada com o apoio da maior parte do PS à lei do aborto. “Eu sou contra o aborto, mas não contra a IVG” levantou uma onda de gargalhadas. Penso que se enganou na resposta e que queria ter lançado a falácia da despenalização, mas falhou. Fica o registo.

Faltou apurar culpados para o desastre demográfico que nos cerca. Ou será que não há culpados?
A APF (Associação para o Planeamento da Família) tem dedicado os seus 40 anos de existência em Portugal a educar os portugueses para o controle da natalidade e para a aceitação do aborto. Não será injusto considerar a APF como a única instituição em Portugal que consegue cumprir na íntegra os seus objectivos: o aborto está liberalizado e a pirâmide demográfica levou uma valente machadada nos últimos 40 anos. Que mais se pode querer? A APF está de parabéns.

Reparem: os governos querem diminuir o défice e a despesa pública, os juízes e os tribunais querem por a justiça a funcionar, as polícias querem deter os corruptos e os criminosos, os economistas querem fugir à recessão, alguns “activistas” querem proibir o clima de variar, a selecção de futebol quer ganhar qualquer coisa, e olhem o que acontece...

Na escola, os jovens, de computador em riste, podem não saber fazer contas, nem ler mais que duas páginas seguidas, ou mesmo escrever uma frase com sentido completo, saber onde fica a Austrália, nem conhecer figuras relevantes da História de Portugal - que interessa isso? - mas conhecerão, de certeza, todos os métodos contraceptivos e saberão tudo sobre a “educação sexual”.

Nos hospitais e centros de saúde as consultas de oftalmologia, de medicina interna, de ortopedia, de cardiologia, etc, bem como as variadas cirurgias, podem demorar meses ou anos, mas os abortos, as esterilizações, o fornecimento de todo o tipo de pílulas (abortivas e contraceptivas) é que são prioritários.

Não há dúvida. Em Portugal só a APF consegue cumprir objectivos.

É fantástico.

manuelbras@portugalmail.pt

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