2008/07/28
Humanæ Vitæ: Sinal de Contradição
Manuel Brás
Poucas questões doutrinais foram tão controversas e polémicas, dentro e fora da Igreja, como o conteúdo da encíclica Humanæ Vitæ, publicada há precisamente 40 anos por Paulo VI, corria o malfadado ano de 1968.
Uma encíclica profética a vários títulos e actualíssima, sobre a qual sugiro a leitura de uma breve e interessante recensão em www.zenit.org/article-19142?l=portuguese.
Nela se explicam, à luz do Cristianismo, os reparos morais sobre a contracepção artificial, bem como sobre as manipulações embrionárias e dos processos de transmissão da vida humana. Não se trata só de explicar os problemas morais associados a certas práticas que manipulam, com a finalidade que for, a transmissão da vida.
Estava em jogo, sobretudo, a criação de uma mentalidade, digamos contraceptiva, antinatalista, e utilitarista, em que os filhos seriam encarados como mais uma escolha, como qualquer outra, que se programa ao pormenor, enquanto a técnica era usada com a finalidade de proclamar o homem da civilização tecnológica como senhor da vida. Daí a actualidade, o carácter profético e a controvérsia, como tudo o que diz respeito à transmissão da vida e o seu poder.
Não vou aqui tecer comentários ou justificações de ordem teológico ao conteúdo da encíclica. Aqueles que tiverem dúvidas ou reservas sobre a justeza da sua pertinência moral, ao menos olhem para os frutos dessa mentalidade. Ao fim de 40 anos, vejam como na Europa, em particular, e no Ocidente, em geral, a natalidade caiu dramaticamente, gerou populações envelhecidas e um inverno demográfico, o divórcio se banalizou, o aborto disparou, as manipulações geram milhões de embriões à espera de serem destruídos na investigação “para o bem da sociedade”, vejam como existem forças políticas em que não se pode dizer que o principal objectivo da família é a procriação, já para não falar na pretensão de equiparar o casamento às uniões homossexuais.
Tudo isto facilitado pela arbitrariedade de separar o poder procriador da união conjugal. É possível separar? É. As múltiplas consequências estão aí.
Aos que têm dúvidas ou reservas sobre a justeza do exposto na Humanæ Vitæ, antes de mais que a leiam, ao menos olhem para os frutos da sua contestação e da sua negação. Porque é pelos frutos que se conhecem as coisas.
manuelbras@portugalmail.pt
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