2006/12/06
Os boatos… o concurso da RTP… e os bastidores salazaristas…
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Embaraçosas, porquê?
Porque Salazar, diz M.M., porque Salazar foi um “ditador”, governando com a PIDE, com a censura prévia, com a tortura e pelo exílio (dos adversários, entende-se).
Não tira, porém, a conclusão mais óbvia, isto é, que os portugueses talvez considerem tudo isso relativamente secundário, na conjuntura, o que seria evidentemente desastroso.
Tira, porém, outra conclusão que não deixa de ser muito interessante e, politicamente mais útil.
Primeiro insinua que, a ser verdadeiro o boato, “talvez a sua imagem (de Salazar) ganhe outros contornos, enquanto sinal de desilusão com o regime democrático”.
A grande descoberta!
Mas porque não culpa M.M. os políticos e “estadistas” democráticos e suas políticas de verdadeiramente culpados dos sinais de desilusão com o regime democrático?
Salazar, culpado de tudo, também é culpado disso, das falências “democráticas” e republicanas, ou monárquicas que fossem?
Penso muito convictamente que, pelo contrário, o regime vigente deve o seu relativo sucesso, em continuidade e duração, sobretudo a Salazar, à seriedade e profundidade que introduziu nos hábitos e práticas dos portugueses, no seu dia-a-dia, ou seja, no seu modo de encararem a política e os fenómenos políticos em geral.
Os portugueses terão percebido isso e talvez, exactamente por isso, tenham votado em Salazar… pelo que lhe devem em compreensão da importância, dignidade e seriedade da política.
A ponto de até levarem a sério a maior parte desses políticos e políticas?
É paradoxal?
Nada, de facto, menos paradoxal.
O grande achado de M.M. não estava, porém, ainda por aí.
“Não apenas a esquerda democrática estará em causa” – diz M.M. – se a figura de Salazar “ressurge” através do concurso da RTP, mas também a “direita democrática, por não ter conseguido substituir-se à herança salazarenta”, apesar da figura de Francisco Sá Carneiro, como principal referência do centro-direita em Portugal, no séc. XX.
Mais bombasticamente ainda, M.M. termina como segue, para o caso de Sá Carneiro não vir a ficar à frente de Salazar, no concurso dos “grandes portugueses”.
“Se os concursos da RTP – escreve M.M. – vierem confirmar que o herói da direita autoritária prevalece, na opinião pública portuguesa, sobre o herói da direita democrática e moderada, a questão não é exclusiva de nenhum quadrante político, nem respeita apenas ao passado. Afecta todos os portugueses. Condiciona o futuro do regime democrático.”
O pavor deve ser realmente enorme, para M.M. assim ter perdido a cabeça, além da noção das proporções. A ponto de ter afirmado, linhas antes:
“A votação poderá reflectir o trabalho de bastidor de salazaristas convictos, mas (…) não é destituída de significado.”
Sim, M.M. tem de facto razões para tremer com os fantasmas “salazarista” assim tão organizados nos bastidores.
Só tem que apontá-los às Polícias.
A.C.R.
Etiquetas: Salazar