2006/07/24
Retratos… E retratistas
Vem-me a palavra retratos à imaginação por ter lido ontem, creio que pela 3ª ou 4ª vez, o “Retrato de Ricardina” de Camilo Castelo-Branco, editado pela 1ª vez em 1868(?) e, depois disso, até 1967 (99 anos), pelo menos mais 11 vezes.
De 1967 para cá, não sei quantas vezes terá sido novamente editado. Outras tantas? Talvez, porque, sem ser um camilista ou camilianista maníaco, que coleccione sistematicamente as edições do CCB, possuo mesmo assim umas três ou quatro posteriores a 1967.
No entanto, relendo agora, outra vez, “O Retrato de Ricardina”, constato que continuo um fervoroso fã do Camilo, não tanto pela sua prosa, apesar de a considerar quase sempre soberba, mas pela sua arte e riqueza de ficcionista perfeito, supremo, sempre surpreendente, apesar dos que dizem que se repete. Mas vejamos-lhe as obras-primas, como esta e uma quantidade de outras de construção igualmente primorosa e humaníssima.
Humaníssima, mesmo quando romântica ao extremo, podendo como todos sabem chegar à beira do piegas, provocatório do sentimento fácil.
A prosa, porém, acaba quase sempre a salvar tudo.
Eu li o Camilo ficcionista de seguida, praticamente todo, e mais de uma vez, pelos anos 60 e 70.
Sem um momento de enjoo nem de enojo ou desinteresse.
Vou verificando, agora por leituras mais espaçadas, que Camilo mantém para mim o mesmo interesse de há 20, 30, 40 anos.
Enquanto outros celebrados ficcionistas do séc. XIX – Garrett, Júlio Dinis, Herculano, Eça de Queiroz – se me tornam insuportáveis pelas suas prosas envelhecidas, usdas, gastas e sem surpresas, Camilo continua a surpreender-me pela sua frescura e, coisa incrível, pela sua actualidade sem rugas.
Grande, prodigioso Camilo!
Duma grandeza patente, da 1ª à última página neste “Retrato de Ricardina”.
Gostava de poder dizer o mesmo dos nossos retratistas – pintores do séc. XIX, mas não se revê um grande quadro com a mesma facilidade com que se relê um livro que se tem à mão. E, tendo visitado ao longo da vida, muitas e muitas dezenas de museus de pintura, desenho e escultura, é-me hoje, não digo penoso, mas só com dificuldade praticar o esforço de visitar exposições ou museus, mesmo de pintura.
Vi, no entanto, há dias um quadro que me surpreendeu e encantou, na pequena colecção do Mosteiro de Folques, a 4 Kms de Arganil, hoje pertencente à Câmara Municipal.
Vou lá voltar, este verão todas as vezes que for preciso, para o mostrar aos meus filhos, noras e netos que por aqui venham de férias.
É tia-bisavó ou trisavó deles a Senhora aí retratada em 1896 pelo celebrado pintor José Maria Veloso Salgado (1864-1945).
Pintado o retrato há 110 anos, facilmente se acredita que a retratada continua ali e bela como foi no apogeu da sua vida e juventude.
Como o “Retrato de Ricardina”, também esta pintura de Veloso Salgado não envelheceu de uma ruga só.
A.C.R.
De 1967 para cá, não sei quantas vezes terá sido novamente editado. Outras tantas? Talvez, porque, sem ser um camilista ou camilianista maníaco, que coleccione sistematicamente as edições do CCB, possuo mesmo assim umas três ou quatro posteriores a 1967.
No entanto, relendo agora, outra vez, “O Retrato de Ricardina”, constato que continuo um fervoroso fã do Camilo, não tanto pela sua prosa, apesar de a considerar quase sempre soberba, mas pela sua arte e riqueza de ficcionista perfeito, supremo, sempre surpreendente, apesar dos que dizem que se repete. Mas vejamos-lhe as obras-primas, como esta e uma quantidade de outras de construção igualmente primorosa e humaníssima.
Humaníssima, mesmo quando romântica ao extremo, podendo como todos sabem chegar à beira do piegas, provocatório do sentimento fácil.
A prosa, porém, acaba quase sempre a salvar tudo.
Eu li o Camilo ficcionista de seguida, praticamente todo, e mais de uma vez, pelos anos 60 e 70.
Sem um momento de enjoo nem de enojo ou desinteresse.
Vou verificando, agora por leituras mais espaçadas, que Camilo mantém para mim o mesmo interesse de há 20, 30, 40 anos.
Enquanto outros celebrados ficcionistas do séc. XIX – Garrett, Júlio Dinis, Herculano, Eça de Queiroz – se me tornam insuportáveis pelas suas prosas envelhecidas, usdas, gastas e sem surpresas, Camilo continua a surpreender-me pela sua frescura e, coisa incrível, pela sua actualidade sem rugas.
Grande, prodigioso Camilo!
Duma grandeza patente, da 1ª à última página neste “Retrato de Ricardina”.
Gostava de poder dizer o mesmo dos nossos retratistas – pintores do séc. XIX, mas não se revê um grande quadro com a mesma facilidade com que se relê um livro que se tem à mão. E, tendo visitado ao longo da vida, muitas e muitas dezenas de museus de pintura, desenho e escultura, é-me hoje, não digo penoso, mas só com dificuldade praticar o esforço de visitar exposições ou museus, mesmo de pintura.
Vi, no entanto, há dias um quadro que me surpreendeu e encantou, na pequena colecção do Mosteiro de Folques, a 4 Kms de Arganil, hoje pertencente à Câmara Municipal.
Vou lá voltar, este verão todas as vezes que for preciso, para o mostrar aos meus filhos, noras e netos que por aqui venham de férias.
É tia-bisavó ou trisavó deles a Senhora aí retratada em 1896 pelo celebrado pintor José Maria Veloso Salgado (1864-1945).
Pintado o retrato há 110 anos, facilmente se acredita que a retratada continua ali e bela como foi no apogeu da sua vida e juventude.
Como o “Retrato de Ricardina”, também esta pintura de Veloso Salgado não envelheceu de uma ruga só.
A.C.R.