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2006/05/15

Sobre o anti-burguesismo de alguns nacionalistas. (2)
Mais dois ou três apontamentos. 

(poste anterior sobre o assunto)

A questão da burguesia e o nacionalismo poderia pôr-se também para a burguesia e o cristianismo.

Uma das razões da importância das profissões dos Apóstolos é, para mim, a da possível influência do estatuto social deles, antes das conversões respectivas, sobre o modo como reagiram a Cristo e como aderiram, bem como sobre o modelo em que veio a organizar-se a Igreja desde a sua fundação.

Mas – objectar-me-ão – já havia burgueses e burguesia na sociedade israelita, há dois mil anos?

Lembro-me de que, entre os apóstolos, havia pelo menos, salvo erro, um antigo cobrador de impostos (por arrematação do direito de cobrança?... por herança?), um “médico” (assim chamou São Paulo ao futuro evangelista São Lucas) e pescadores (pescadores de conta própria?), sem falar do carpinteiro independente, de oficina própria, que era São José.

Cristo não escolheu os Apóstolos ao acaso, com certeza.

Foram gente de profissões, ou modos de as exercer, que poderíamos dizer tipicamente burgueses ou anunciadores da burguesia.

De resto, a burguesia era já então estrato ou estado social longe de inédito no mundo.

As cidades gregas tinham-se desenvolvido e expandido, pelo menos a partir de alguns séculos a.C., sob o forte impulso duma classe fundada no comércio marítimo e na colonização do litoral mediterrânico, desde os Dardanelos ao estreito de Gibraltar, chegando mesmo a fixar-se na costa ocidental da Península Ibérica.

Essa burguesia grega nasceu e cresceu muito frequentemente em rivalidade e oposição à aristocracia agrária e militar dominante. E, ao fim de alguns séculos, acabou derrotada.

Desenvolvimento semelhante conheceu a burguesia em Roma e seus domínios, sob a República e sob o Império. Donde um desfecho também idêntico, acentuado pela natureza militarista da expansão da República e do Império, carácter esse que impunha um Estado intransigentemente centralizador, apoiado numa casta dominadora, tendencialmente hereditária, de profissionais das armas, da política e da administração imperial.

Não seria, portanto, novidade nenhuma que em Israel dos tempos de Cristo houvesse também um certo esboço de burguesia – classe de gente livre, pouco ou nada dependente, aberta a novidades, senhora dos seus destinos, habituada a pensar e decidir por si – entre a qual Cristo teria recrutado alguns dos seus Apóstolos, não constando, que eu saiba, que tenha recrutado qualquer militante… anti-burguês.

Também é certo que não recrutou Apóstolo algum entre os “vendilhões do Templo”, esses precursores do capitalismo sem rei nem roque.

A.C.R.

(continua)

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