2006/05/08
Salazar, os monárquicos e a restauração monárquica, que ele não fez ou não quis fazer
Há um compreensível ressentimento entre muitos monárquicos em relação a Salazar, por pensarem que ele não a quis fazer tendo tido sucessivas oportunidades de consumá-la.
Tudo na personalidade de Salazar me leva a crer que, se não houve restauração, não foi por Salazar a não querer ou não ter podido fazê-la, mas por considerá-la impossível ou de alto risco político ou não compatível com os seus compromissos, pelo menos implícitos, com as forças sociais que lhe haviam entregue o poder.
Na ausência de dados factuais sobre os bastidores da questão, como de explicações autorizadas dos expoentes políticos desses pelo menos quarenta anos, resta-me conjecturar à base dos dados conhecidos da personalidade do principal responsável, isto é, Salazar, e lamentar o silêncio também absoluto, quanto a verdadeiras explicações, da parte dos principais vultos monárquicos.
Da parte destes, aliás, também tal silêncio pode traduzir o que julgo terá sido a razão decisiva para não haver restauração: de facto, os monárquicos não foram capazes de impô-la, não tinham força para tanto nem conseguiram minimamente mobilizar opinião, que “O Debate” ou “A Voz” foram pouco para jogo de tal monta.
Não podiam com uma gata pelo rabo, há quem diga.
A isso acresceu que os monárquicos tinham sido derrubados militarmente, no 5 de Outubro, como foram derrotados nas suas tentativas restauracionistas pelas armas, a principal das quais, em 1919, que chegou à insuficiente Monarquia do Norte mas foi vencida em Monsanto.
De modo que qualquer comparação com o potencial monárquico-restauracionaista espanhol é puro ilusionismo.
Não havia cá nenhuma força política que devesse fosse o que fosse de especialmente importante aos monárquicos portugueses, como o que Francisco Bahamonde Franco devia aos monárquicos espanhóis, cuja derrota tinha sido efectiva, mas nas urnas de voto, nas eleições municipais de 1931, que levaram à renúncia de Afonso XIII e à queda da Monarquia espanhola.
Franco sabia que podia contar com os “seus” monárquicos, carlistas incluídos, e com as forças armadas espanholas, como garantes da monarquia plebiscitada e restaurada.
Salazar, por seu lado, sabia não poder contar com as forças armadas portuguesas, que não queria divididas, como conhecia as fragilidades das forças monárquicas, sempre derrotadas no terreno desde 1910.
Pediam elas o poder “de bandeja”, mas penso que Salazar estava convencido de que não conseguiriam conservá-lo.
Creio até que ninguém desejaria tanto como Salazar que fosse verdade o contrário.
Exactamente, talvez, pelas razões por que o Dr. Miguel Castelo-Branco, no seu “Combustões” de 4 do corrente, considera que a restauração monárquica teria sido um verdadeiro seguro de vida para a Nação portuguesa.
Faltava a Salazar apenas, para ter a mesma fé, a confiança segura que o Dr. Miguel Castelo-Branco tem nos monárquicos e forças monárquicas de então.
A.C.R.