2006/05/31
Este pequeno-grande Portugal!-II
Agora divagamos pelos concelhos de Lamego e Tarouca
(ver poste anterior)
Asseguro-lhes, não há melhores palavras para sintetizar as impressões daquele sábado, 20 de Maio, em plena Primavera a percorrer os principais recantos de interesse ao longo das estradas entre Lamego, Tarouca e novamente Lamego: um deslumbramento!
Cada recanto e todo o conjunto, um deslumbramento! Mil momentos de deslumbramento, garanto-lhes! Não me lembro de ter visto, em muitas viagens ao longo de toda a vida, nenhum espaço paisagístico tão surpreendentemente belo, tão natural e abundantemente “ajardinado”, sem uma descontinuidade de fealdade ou descuido.
Festejava-se até o dia anual da flor branca do sabugueiro, numa das aldeias por onde passámos. Mas não havia a mínima monotonia naquela paisagem não “escravizada” à brancura do sabugueiro, porque era grande a variedade de manchas de outras cores, de outras flores, rosas de variadíssimos tons, papoilas, rosmaninho. Corram ali, se puderem, que não voltarão minimamente desiludidos, tenho a certeza. Talvez ainda dure alguns dias aquele supremo encanto.
Mas encontrarão sempre o incomparável daquela harmonia de vales e colinas, tudo banhado pelos rios que se sucedem, como o Varosa, o Torno, mais outros, e de novo o Torno e o Varosa, mais adiante ou mais atrás, e outros.
E poderá em qualquer caso alegrar-se a ver os monumentos
Comece por algo que não costuma incluir-se na designação de monumentos mas, neste caso, é de facto um monumento.
Comece, pois, pelas caves da Murganheira, de vinhos espumosos.
Grande parte delas está instalada num longo corredor cavado na rocha duríssima de granito, que mantém os vinhos a temperatura praticamente constante, dentro dos inacreditáveis limites de variação de apenas um grau centígrado ao longo de todo o ano!
Das caves da Murganheira, siga para o Convento de Santa Maria de Salzedas, fundado no sec. XII também pelos monges de Cister, com doações da mulher de Egas Moniz, D. Tereza Afonso, e que viria a ter na cristianização e desenvolvimento da agricultura e povoamento da região papel excepcionalíssimo. Foi por várias vezes reconstruído e ampliado, nos sucessivos estilos de cada tempo.
Visite pelo menos a igreja, a sala do capítulo e os claustros, mesmo estes estão em ritmo de boa e integral recuperação, como o Pároco, tão exemplarmente dedicado a esses propósitos, lhe poderá explicar.
Ali muito perto, visite a Judiaria que terá sido ou não de facto uma judiaria, parece não saber-se ao certo. Mas as casas de habitação e as do vivo, como as oficinas e o seu modo de aglomerar são de grande interesse.
Meta-se no carro, de novo, e dirija-se à Ucanha, antiga sede do concelho de toda aquela área, para ver a torre de guarda à ponte sobre o Varosa, única que eu saiba em todo o País e que guardava, convincentemente, uma das entradas no couto do mosteiro de Salzedas, que era enorme e riquíssimo.
Na rua da aldeia, a caminho da torre e ponte, está assinalada com lápide a casa onde nasceu o grande historiador e arqueólogo Doutor José Leite de Vasconcelos.
Há vocações que por certo nascem aos pequenitos no contacto com realidades de que viveram muito próximos, desde muito cedo, como terá sido o caso de J. Leite de Vasconcelos, à vista da ponte e torre da Ucanha e quase à vista dos colossais conventos de Santa Maria de Salzedas e de S. João de Tarouca.
Para completar a volta, dirija-se o leitor a S. João de Tarouca, para ver a esplêndida igreja, esplendidamente recuperada, com esplêndidas pinturas, de que destaco o S. Pedro, de Grão Vasco ou da sua escola, tão belo se não mais belo que o do Museu Grão Vasco, em Viseu.
Regresse depois a Lamego, como nós fizemos, se for o seu sítio para dormir ou se precisar de mais tempo para visitar os muitos pontos de interesse da cidade.
Se nesta volta pelo concelho de Tarouca, que lhe descrevi sumariamente, der pelas placas indicando Ferreirim e/ou Bretiande, não deixe de dar uma espreitadela: Bretiande foi lugar do solar de Egas Moniz naquelas terras de que, com a mulher, foi o grande senhor; e em Ferreirim, na Igreja de Ferreirim (paroquial), vi há cinquenta anos, encostadas às paredes do coro, as tábuas do célebre pintor conhecido por Mestre de Ferreirim, à espera – disse-me o Pároco de então – de seguirem para o restaurador, em Lisboa.
Não sei se voltaram, nem onde param.
A.C.R.
P.S. Apesar do carácter de reunião de lazer e convívio do encontro, promovido pela RIBAFLOR – Associação Florestal das Terras de Riba Douro, com sede em Lamego, algumas notícias da floresta se trocaram entre os dirigentes associativos presentes, a respeito principalmente do movimento de criação das ZIF – Zonas de Intervenção Florestal, suas dificuldades e perspectivas favoráveis.
Temos todos de agradecer também à FORESTIS os apoios que deu à RIBAFLOR para a realização deste encontro de Lamego-Tarouca, que criou e reforçou solidariedades e amizades tão necessárias.
A.C.R.
Asseguro-lhes, não há melhores palavras para sintetizar as impressões daquele sábado, 20 de Maio, em plena Primavera a percorrer os principais recantos de interesse ao longo das estradas entre Lamego, Tarouca e novamente Lamego: um deslumbramento!
Cada recanto e todo o conjunto, um deslumbramento! Mil momentos de deslumbramento, garanto-lhes! Não me lembro de ter visto, em muitas viagens ao longo de toda a vida, nenhum espaço paisagístico tão surpreendentemente belo, tão natural e abundantemente “ajardinado”, sem uma descontinuidade de fealdade ou descuido.
Festejava-se até o dia anual da flor branca do sabugueiro, numa das aldeias por onde passámos. Mas não havia a mínima monotonia naquela paisagem não “escravizada” à brancura do sabugueiro, porque era grande a variedade de manchas de outras cores, de outras flores, rosas de variadíssimos tons, papoilas, rosmaninho. Corram ali, se puderem, que não voltarão minimamente desiludidos, tenho a certeza. Talvez ainda dure alguns dias aquele supremo encanto.
Mas encontrarão sempre o incomparável daquela harmonia de vales e colinas, tudo banhado pelos rios que se sucedem, como o Varosa, o Torno, mais outros, e de novo o Torno e o Varosa, mais adiante ou mais atrás, e outros.
E poderá em qualquer caso alegrar-se a ver os monumentos
Comece por algo que não costuma incluir-se na designação de monumentos mas, neste caso, é de facto um monumento.
Comece, pois, pelas caves da Murganheira, de vinhos espumosos.
Grande parte delas está instalada num longo corredor cavado na rocha duríssima de granito, que mantém os vinhos a temperatura praticamente constante, dentro dos inacreditáveis limites de variação de apenas um grau centígrado ao longo de todo o ano!
Das caves da Murganheira, siga para o Convento de Santa Maria de Salzedas, fundado no sec. XII também pelos monges de Cister, com doações da mulher de Egas Moniz, D. Tereza Afonso, e que viria a ter na cristianização e desenvolvimento da agricultura e povoamento da região papel excepcionalíssimo. Foi por várias vezes reconstruído e ampliado, nos sucessivos estilos de cada tempo.
Visite pelo menos a igreja, a sala do capítulo e os claustros, mesmo estes estão em ritmo de boa e integral recuperação, como o Pároco, tão exemplarmente dedicado a esses propósitos, lhe poderá explicar.
Ali muito perto, visite a Judiaria que terá sido ou não de facto uma judiaria, parece não saber-se ao certo. Mas as casas de habitação e as do vivo, como as oficinas e o seu modo de aglomerar são de grande interesse.
Meta-se no carro, de novo, e dirija-se à Ucanha, antiga sede do concelho de toda aquela área, para ver a torre de guarda à ponte sobre o Varosa, única que eu saiba em todo o País e que guardava, convincentemente, uma das entradas no couto do mosteiro de Salzedas, que era enorme e riquíssimo.
Na rua da aldeia, a caminho da torre e ponte, está assinalada com lápide a casa onde nasceu o grande historiador e arqueólogo Doutor José Leite de Vasconcelos.
Há vocações que por certo nascem aos pequenitos no contacto com realidades de que viveram muito próximos, desde muito cedo, como terá sido o caso de J. Leite de Vasconcelos, à vista da ponte e torre da Ucanha e quase à vista dos colossais conventos de Santa Maria de Salzedas e de S. João de Tarouca.
Para completar a volta, dirija-se o leitor a S. João de Tarouca, para ver a esplêndida igreja, esplendidamente recuperada, com esplêndidas pinturas, de que destaco o S. Pedro, de Grão Vasco ou da sua escola, tão belo se não mais belo que o do Museu Grão Vasco, em Viseu.
Regresse depois a Lamego, como nós fizemos, se for o seu sítio para dormir ou se precisar de mais tempo para visitar os muitos pontos de interesse da cidade.
Se nesta volta pelo concelho de Tarouca, que lhe descrevi sumariamente, der pelas placas indicando Ferreirim e/ou Bretiande, não deixe de dar uma espreitadela: Bretiande foi lugar do solar de Egas Moniz naquelas terras de que, com a mulher, foi o grande senhor; e em Ferreirim, na Igreja de Ferreirim (paroquial), vi há cinquenta anos, encostadas às paredes do coro, as tábuas do célebre pintor conhecido por Mestre de Ferreirim, à espera – disse-me o Pároco de então – de seguirem para o restaurador, em Lisboa.
Não sei se voltaram, nem onde param.
A.C.R.
P.S. Apesar do carácter de reunião de lazer e convívio do encontro, promovido pela RIBAFLOR – Associação Florestal das Terras de Riba Douro, com sede em Lamego, algumas notícias da floresta se trocaram entre os dirigentes associativos presentes, a respeito principalmente do movimento de criação das ZIF – Zonas de Intervenção Florestal, suas dificuldades e perspectivas favoráveis.
Temos todos de agradecer também à FORESTIS os apoios que deu à RIBAFLOR para a realização deste encontro de Lamego-Tarouca, que criou e reforçou solidariedades e amizades tão necessárias.
A.C.R.