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2006/05/17

Ainda sobre o anti-burguesismo de alguns nacionalistas. (4)
Últimos apontamentos, enfim. 

(poste anterior sobre o assunto)

As monarquias europeias – fortemente autoritárias e centralizadoras do séc. XIV em diante – foram-se construindo tendo como aliado cada vez mais forte a burguesia emergente desde o séc. XI, contra o poder exclusivo doutras forças sociais, vindas do fundo da Idade Média, isto é, os quadros eclesiais e a aristocracia agrária e militar.

A burguesia e o seu crescente poder efectivo não nasceram, como é geralmente sabido, com a Revolução Francesa e com as revoluções suas epígonas nas últimas décadas de vida dos Antigos Regimes. De facto, a burguesia e o seu poder coexistiam já, desde séculos antes, com o poder das outras forças sociais citadas.

Aquelas revoluções apenas desfizeram, violentamente, o equilíbrio social e político existente até então, em favor duma delas, a burguesia, reforçada na circunstância por interesses novos e ideologias emergentes.

Pode dizer-se que a burguesia ficou então, por toda a parte, sozinha “no terreno”, mas, por isso mesmo, condenada indefinidamente a procurar aliados circunstanciais, ora uns ora outros, cada vez que lhe surgia no horizonte um adversário mais ameaçador, principalmente quando armado duma doutrina ou demagogia empolgante e aliciadora.

Foi o caso do nazismo, militarmente vencido em 1945.

Foi o caso do comunismo marxista-leninista-estalinista, cujas derrotas na Guerra Fria e pelo capitalismo burguês que entretanto eclodiu na URSS, a partir de 1991, e na China, praticamente no mesmo período, puseram fim aos cinquenta anos de piores ameaças à hegemonia burguesa dos últimos dois séculos.

Tanto quanto se pode dizer definitivamente, em matéria de História, o poder burguês dispensa hoje, em definitivo, a monarquia, embora não a hostilize naqueles Estados onde a monarquia tenha raízes próprias, incluindo a Espanha e o Sião (Tailândia).

Para a grandíssima maioria dos restantes Estados, a restauração monárquica é questão arrumada: ou nunca se pôs, sequer, ou aqueles agentes que a põem não têm condições algumas de a impor, porque ela não mobiliza quaisquer interesses ou aliados significativos nas sociedades, isto é, porque pouco ou nada diz aos verdadeiros detentores dos poderes efectivos, a burguesia capitalista, liberal ou não, democrata cristã e social-democrata ou mesmo socializante.

Por quanto tempo continuará a ser assim?

Voltará o ideal monárquico a encontrar por onde penetrar na realidade política dalgum Estado ocidental, como aconteceu em Espanha, mas no rasto duma guerra civil terrível e decisiva?

A burguesia – de que todos mais ou menos hoje somos elementos – conquistou o poder por toda a parte, sem partilha, e acha que não precisa de partilhá-lo seja com quem for.

Quando alguma aliança se lhe impõe ou é aconselhável, prefere fazê-la com quem possua algum poder efectivo junto das massas, capacidade de mobilização, isto é, sobretudo partidos políticos.

A avaliar pelo que se passa, não só em Portugal, por aí é que podem as expectativas gorar-se-lhe.

De tal modo os partidos aparecem em muitos casos feridos de morte e com fraquíssimas expectativas de sobrevivência.

O que irão a burguesia e o capitalismo ter de inventar, depois dos partidos, para sobrevivência do seu poder político organizado e institucional?

Ou será que a queda do muro de Berlim representou efectivamente o “fim da História” e que a burguesia e o capitalismo não têm sequer de voltar a inquietar-se?

A.C.R.

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