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2006/01/19

Memórias da minha Aldeia (3) 


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Em 1792 chegou à sede da freguesia, Santiago, no concelho de Seia, um rapazola de dezanove anos, que vinha de Vagos, nas proximidades de Ílhavo e, um pouco mais longe, ainda nas proximidades de Aveiro, tudo na zona da Ria onde desagua o Vouga, que por sua vez desce da Serra da Lapa, a poucas dezenas de quilómetros da Serra da Estrela, donde nascem o Zêzere, o Mondego e o Alva.

Chamava-se o rapazola Feliciano Cruz Fonseca, sabia ler, escrever e contar melhor que muitos da sua idade e do seu tempo, e era visivelmente desempenado e de agradável parecer.

Trouxera-o consigo um fidalgo de Santiago que também tinha família e terras em Vagos. E porque conhecia e apreciava muito o pai de Feliciano, seu caseiro numa daquelas suas terras de Vagos, o fidalgo pedira-lhe o filho para o vir a ajudar numa missão que ia desempenhar numa companhia de milícias sediada em Santa Comba, uma aldeia a três ou quatro quilómetros da sua casa de Santiago.

Seria 1792 um ano crucial da Historia europeia, porque definitivamente os exércitos franceses da Revolução se mostravam invencíveis, ao completarem o cerco de Toulon e atirarem ao mar os Ingleses que durante semanas tinham ocupado aquela que era uma das principais bases navais francesas no Mediterrâneo.

O vencedor de Toulon era o desconhecido general Buonaparte, de vinte e poucos anos

Começava a cheirar a esturro cá longe e falava-se de reorganizar o exército português, à semelhança do que tinham desatado a fazer os Espanhóis. Por isso, como contou o fidalgo a Feliciano, a Rainha decidira principiar pelas milícias, força territorial que custava pouco dinheiro mas carecia de reorganização e novo treino.

Essa d´"a Rainha" encheu de proa Feliciano e o pai, tornando ambos fáceis de convencer.

Feliciano teve a prova da reorganização, quando o fidalgo – que era pouco mais que da sua idade, tinha só vinte e cinco anos – lhe apresentou a nomeação, com selo real, assinada pelo Regente, futuro D. João VI.

Não queria acreditar!

Convenceu-se sem reserva, quando o fidalgo lhe apresentou a sua própria nomeação como capitão de milícias, para a companhia de Santa Comba igualmente.

Foi para Santa Comba a primeira visita de ambos, mal chegaram de Vagos, a Santiago, para irem ver a aldeia onde ia decorrer o seu trabalho futuro de militares apaixonados, mas que, disse-lhe o capitão, iriam tomar muito a sério e friamente, dados os perigos que ameaçavam a Europa e todas as Monarquias europeias.

Luís XVI tinha acabado de ser guilhotinado.

Cheirava a esturro por toda a parte e a mobilização da resistência em cada país europeu iria fazer-se em nome e por imperativo do castigo para esse crime nefando e absolutamente intolerável.

Os revolucionários de França não iam perder pela demora. Porque o queria a Rainha – D. Maria I mãe do Regente, à espera de melhoras da cabeça – e porque as forças militares de toda a Europa se preparavam para combatê-los e derrotá-los, a começar pelas companhias de milícias do País inteiro, as de toda a Beira em particular e a de Santa Comba em especial…

Assim o juravam o capitão e o sargento desta, sem ponta de hesitação.

Mas tudo ficaria para quando os treinos começassem e, apesar de apenas uma vez por semana, aos domingos depois da missa, prometiam ter um novo rigor e ser inusitadamente esforçados.

O capitão sabia-o por indicações vindas do alto e tinha aderido como se fosse decisão e inspiração própria.

Porque conhecia as suas próprias capacidades e experiência e porque conhecia o potencial do seu sargento, das provas que ele já dera como praça e depois cabo, na milícia de Vagos, durante os últimos quatro meses.

Por tudo, fez questão de convidá-lo para a festa pela nomeação de ambos que ia dar, no dia seguinte, no seu solar de Santiago.

Feliciano sentiu-se no sétimo céu, porque o fidalgo lhe comunicou ainda mais: que lhe punha à disposição, imediatamente, um cavalo da sua coudelaria, para as saídas de Santa Comba, onde o sargento ficava a residir.

A.C.R.

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