<$BlogRSDUrl$>

2006/01/17

É indispensável – por nós e por ele – que Cavaco Silva se defina. 

Não parece fácil nem provável.

“(…) um Cavaco Silva eleito à primeira volta – logo, com uma forte legitimidade política – tem peso e condições para alterar o actual equilíbrio entre os diferentes poderes na nossa República?” – perguntava José Manuel Fernandes na 6ª feira em editorial do seu diário.

“(…) o mais provável – acrescentava – é que nada de muito substancial mude: nem nas instituições nem nos partidos. Para isso convém recordar alguns traços da personalidade de Cavaco Silva que tendem a ser esquecidos.”

O primeiro desses traços – resumo eu – é o “desprezo” de Cavaco Silva pelos partidos, em especial das máquinas partidárias, sejam do CDS ou do PSD, do que José Manuel Fernandes lembra uma série de exemplos, incluindo vários casos de claro distanciamento de C.S. em relação ao P.S.D., desde que abandonou o governo e passou à reserva da Nação.

Depois – resumo ainda JMF – Cavaco não tem um discurso de direita, nem é um liberal, as áreas políticas donde lhe vem, de longe, a maior parte dos apoios políticos. E se vier a ter de clarificar melhor o seu discurso, depois de eleito, C.S. fá-lo-à mais facilmente em oposição ao discurso favorito daquelas áreas do que o contrário.

De modo que, em síntese – termina José Manuel Fernandes –, tendo criado a expectativa de que a economia vai melhorar, não restará a C.S., uma vez Presidente, “senão aplicar-se para que as expectativas que criou não saiam defraudadas.”

Devo pessoalmente dizer que todo este discurso de J. Manuel Fernandes me parece incoerente e mal fundamentado.

Mas o que agora importa é a conclusão.

“Se não quiser desiludir – termina o Autor – Cavaco Silva não terá alternativa senão a de cooperar com o governo.”

Teremos, portanto, para já e talvez por muito tempo, Cavaco Silva atado a José Sócrates, dependente de José Sócrates.

Talvez o artigo de Vasco Pulido Valente, no mesmo dia e no mesmo diário, sob o título “Demasiada Esperança”, seja ainda mais dramático e ofereça ainda menos saídas.

Anunciara V.P.V., em tempos, que “a campanha do dr. Cavaco Silva era um erro político que lhe havia de custar caro.”

Porquê? “Porque o dr. Cavaco Silva, quer queira quer não, e ele quis, se deixou apresentar como última oportunidade de salvação.”

V.P.V. lembra logo a seguir que C.S. começa a recear ter ido longe demais, pois foi ele próprio quem disse dois dias antes, numa entrevista, que: “As pessoas, neste momento, acham que o Presidente da República pode fazer muito. Se calhar até colocam esperança demasiada no Presidente da República.”

Mas é tarde para C.S. fazer marcha atrás no pouco que prometeu às “pessoas”?

O dr. Cavaco Silva já não pensa que “para pôr a pátria a direito, lhe chega o seu incomparável saber e a sua superior inteligência”, como escreveu V.P.V.?

O qual acrescenta:

“(…) aparentemente (Cavaco Silva) imagina que irá orientar o primeiro-ministro, nas famosas conversas de quinta-feira, como quem orienta um aluno aplicado na Universidade Católica(…)

“(…) e sinceramente julga que a sua simples presença no Palácio de Belém devolverá a confiança ao país.

“Mas, se as coisas correrem mal, se não o ouvirem, se não lhe obedecerem, se o evasivo e autoritário Sócrates perversamente o ignorar, se Portugal persistir no vício e no `laxismo´, enquanto ele, Cavaco, o professor se agita em vão pela paisagem? Será essa a altura de lembrar que o Presidente não pode `fazer muito´ e que não é bom `colocar demasiadas esperanças´ nele.”

Fim de citações.

Vasco Pulido Valente é irónico e por fim sarcástico em todas estas citações.

A própria conclusão não é mais que outro sarcasmo sangrento.

Mas nem isto nem a situação final que J. Manuel Fernandes cria para Cavaco Silva, em coabitação com José Sócrates, são “saídas” que interessem ao País.

Nenhuma levará a nada de útil e renovador para Portugal.

Nenhuma ataca as raízes dos nossos males.

São ambas “saídas” sem real saída.

Mais importante é ainda, por isso, que o futuro Presidente Cavaco Silva se defina, como começámos por dizer.

Para não votarmos com a sensação de irmos eleger um Presidente para nada, de facto.

António da cruz Rodrigues (A.C.R.)
Sábado, 14 de Janeiro de 2006

P.S. Mas a minha posição, tomada como definitiva, afigurar-se-ia tão infecunda como qualquer das outras. De tal modo que pode ser mais segura e, apesar dos riscos, mais realista a posição assumida por Mário Mesquita, no seu artigo deste domingo.

Diz ele, sem dramatismo:

“Não é preciso ser profeta: se Cavaco Silva vencer as eleições e, em especial, conseguir ser eleito na primeira volta – o governo de José Sócrates terá de contar com duas fases: a de diálogo táctico e de confronto decidido.”

A.C.R.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional