2006/01/09
Outro convertido ao presidencialismo.
Em mais um dos seus habituais artigos no Público, o general José Loureiro dos Santos (“Segurança e defesa: os poderes presidenciais”) termina assim:
“O actual regime democrático foi formado com os seus traços essenciais na revisão constitucional de 1982, feita não contra um Presidente da República em abstracto, mas sim contra o então Presidente Ramalho Eanes. Muito provavelmente, a modificação dos principais poderes do Presidente só será possível num futuro regime. E até poderá ser a sua debilidade para assegurar a assumpção plena das suas responsabilidades no actual quadro constitucional, que provocará o estabelecimento de um novo código genético (constitucional).
“Certo é o presidente da República ser o único órgão de soberania sempre legitimado por uma maioria absoluta dos eleitores. E parece que os portugueses tendem a concentrar no chefe do Estado, especialmente em tempo de crise, todas as esperanças, no sentido da resolução dos problemas mais graves com que o país se confronta. E parece ainda que o teor das promessas que tiverem sido veiculadas, durante a campanha presidencial, pelo Presidente que vier a ser eleito, cria expectativas generalizadas, do que pode resultar uma profunda frustração, ou então uma postura inesperada por parte do Presidente da República, que a todos nos surpreenda. Pela positiva ou pela negativa.”
Fim de citação.
A novidade grande deste texto está em que o Autor preconiza profunda revisão da Constituição, talvez um novo regime*, não necessariamente para dar novos poderes ao Presidente, mesmo que apenas para lhe assegurar o exercício das competências que teoricamente já tem, na Constituição actual, em matéria de segurança nacional, organização militar e independência nacional.
São novos argumentos que se perfilam a favor da reforma constitucional, num sentido que o Senhor General não chega a expressar mas que, pelo encadear das suas afirmações, não pode ser senão presidencialista.
Também no dia 5, na “Visão”, Cavaco Silva deu o que com boa vontade se pode considerar uma dica no mesmo sentido, ao dizer: “O Presidente tem de cooperar activamente com os outros órgãos de soberania para vencer a crise.”
Activamente, como?
Não se imagina doutro modo, senão por uma profunda reforma constitucional, num sentido dum mais adequado e novo sistema político.
Mas o que também disse a seguir à “Visão” não nos tranquiliza necessariamente.
“Sou hoje uma pessoa diferente do que era aquando das minhas passagens pelo Governo” – afirmou Cavaco Silva.
Diferente em que sentido?
No sentido de vir a ser um verdadeiro “Treinador”e não um mero “árbitro” político das instituições, como na entrevista ao J.N. nos deixava antever?
Não creio que tenha eleitoralmente nada a ganhar com mais tabus.
A.C.R.
Coimbra, 7 de Janeiro de 2006
*Pelo contexto do artigo, penso que quereria dizer “novo sistema político”.
“O actual regime democrático foi formado com os seus traços essenciais na revisão constitucional de 1982, feita não contra um Presidente da República em abstracto, mas sim contra o então Presidente Ramalho Eanes. Muito provavelmente, a modificação dos principais poderes do Presidente só será possível num futuro regime. E até poderá ser a sua debilidade para assegurar a assumpção plena das suas responsabilidades no actual quadro constitucional, que provocará o estabelecimento de um novo código genético (constitucional).
“Certo é o presidente da República ser o único órgão de soberania sempre legitimado por uma maioria absoluta dos eleitores. E parece que os portugueses tendem a concentrar no chefe do Estado, especialmente em tempo de crise, todas as esperanças, no sentido da resolução dos problemas mais graves com que o país se confronta. E parece ainda que o teor das promessas que tiverem sido veiculadas, durante a campanha presidencial, pelo Presidente que vier a ser eleito, cria expectativas generalizadas, do que pode resultar uma profunda frustração, ou então uma postura inesperada por parte do Presidente da República, que a todos nos surpreenda. Pela positiva ou pela negativa.”
Fim de citação.
A novidade grande deste texto está em que o Autor preconiza profunda revisão da Constituição, talvez um novo regime*, não necessariamente para dar novos poderes ao Presidente, mesmo que apenas para lhe assegurar o exercício das competências que teoricamente já tem, na Constituição actual, em matéria de segurança nacional, organização militar e independência nacional.
São novos argumentos que se perfilam a favor da reforma constitucional, num sentido que o Senhor General não chega a expressar mas que, pelo encadear das suas afirmações, não pode ser senão presidencialista.
Também no dia 5, na “Visão”, Cavaco Silva deu o que com boa vontade se pode considerar uma dica no mesmo sentido, ao dizer: “O Presidente tem de cooperar activamente com os outros órgãos de soberania para vencer a crise.”
Activamente, como?
Não se imagina doutro modo, senão por uma profunda reforma constitucional, num sentido dum mais adequado e novo sistema político.
Mas o que também disse a seguir à “Visão” não nos tranquiliza necessariamente.
“Sou hoje uma pessoa diferente do que era aquando das minhas passagens pelo Governo” – afirmou Cavaco Silva.
Diferente em que sentido?
No sentido de vir a ser um verdadeiro “Treinador”e não um mero “árbitro” político das instituições, como na entrevista ao J.N. nos deixava antever?
Não creio que tenha eleitoralmente nada a ganhar com mais tabus.
A.C.R.
Coimbra, 7 de Janeiro de 2006
*Pelo contexto do artigo, penso que quereria dizer “novo sistema político”.