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2005/12/09

O debate entre Mário Soares e Jerónimo de Sousa 

O debate anterior terá sido algo morno, como alguns analistas se queixaram, mas foi positivamente esclarecedor dos limites do País que temos.

O debate Mário Soares/Jerónimo de Sousa foi um perfeito fogo de vistas, um desenrolar de ilusões, um desfilar de juízos e ambições erradas contra os quais os eleitores têm de precaver-se.

Mário Soares foi, sem dúvida, o mais demagógico dos dois, a ponto de, perante um S. Geral do PCP, bem doutrinado e sabendo o que quer o seu Partido, quase parecer, por vezes, infantilizado.

Mário Soares continua a teimar que lutaria, na Presidência, pela austeridade necessária e, simultaneamente, pela manutenção do modelo social europeu.

Que eleitores quer ele enganar?

Não está perfeitamente esclarecida a incompatibilidade dos dois objectivos, sendo certo e sabido que os países europeus mais ricos estão apressadamente a abandonar tal modelo, sem poderem garantir que ficarão em qualquer patamar dele?

Já sabíamos de Mário Soares que é fraco em contas, mas não exagere, que os seus eleitores não são todos patetas.

Também é inaceitável que M.S. ouvisse os ataques de J.S. à Nato sem que M.S. lhe retorquisse com o papel que ela desempenhou na vitória da Guerra Fria, derrotando a Cortina de Ferro, nos poucos anos finais desta.

Foi de grande visão os responsáveis da nato não terem decidido dissolvê-la depois dessa vitória, porque continua a ser bem necessária, como os sucessos destes 15 anos bem demonstram, particularmente na luta contra os vários terrorismos e para assegurar que a dissolução da URSS se fizesse em paz.

Isso é que é a grande dor de cotovelo do Secretário-Geral do PCP e que não nos deve iludir contra a sua suposta afabilidade.

MS foi incapaz de atacá-lo nesse seu ponto fraco e perdeu, pois, uma oportunidade de nos convencer se, verdadeiramente, ele próprio tem ideias claras e objectivos sobre o assunto.

Diria mesmo que Jerónimo de Sousa manipulou à vontade o seu interlocutor.

Julgo que Mário Soares, além de demagógico, foi incompetente, deixando passar sem crítica, ou sem sequer se aperceber dela, a linha profunda do pensamento estratégico do Secretário-Geral que lhe coube em sorte.

E teve oportunidade soberana para tanto.

Mas faltou-lhe o estofo.

E não é da idade

A.C.R.

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