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2005/07/25

Nacionalismos (III) 

O debate e as consequentes clarificações acerca dos conceitos de Nação e de nacionalismo continuam a proporcionar interessantes revelações, a destacar em gladius.

Em primeiro lugar, porque ao fazer essas clarificações se fica a saber as afinidades e as incompatibilidades entre esses diversos, e frequentemente inconciliáveis, conceitos e entendimentos.

Depois, porque os “nacionalistas raciais” (o termo não é meu) consideram deter a “posição verdadeiramente nacionalista”, de onde se presume, sem grande receio de errar, que a única e exclusiva. E isso é bom que se saiba.

Não custa admitir que os filhos de portugueses sejam portugueses e que a nacionalidade se herda pela descendência. Isso não está em causa.

O que se questiona é o repúdio absoluto pela miscigenação na medida em que a Natureza determina que pessoas de diferentes etnias possam gerar, e geram, descendentes férteis, uma vez que são da mesma espécie. Ou não?

Porque é que a classificação de raças ou etnias assenta sobre a semelhança fenotípica de quatro ou cinco caracteres (côr da pele, forma e distribuição do cabelo, forma do crânio e proporção entre certas partes do corpo)? Será que não existem outros? Porquê a selecção destes e não doutros? Será que essa selecção é inocente?

Não há dúvidas de que sem etnia não há Nação. Em última análise porque sem pessoas, sem famílias, não há descendência e, portanto, não pode haver Nação. O que se questiona é que pessoas de uma determinada etnia possam pertencer uma determinada Nação. Afinal de contas a raiz que une à nascença a comunidade nacional são 4 ou 5 caracteres com fenótipo semelhante. Se a Nação se fundamenta apenas na semelhança entre esses caracteres transmitidos à descendência, então também podemos dizer que os animais irracionais têm Nação.

Esta exclusividade, se aceite, levanta um problema sério a alguns portugueses. É que sendo a população do rectângulo consideravelmente miscigenada, pondo de lado os últimos 30 anos, por sangue celta, suevo, visigótico, judeu, árabe, etc., por essa mesma lógica haverá portugueses que não o serão porque perderam a sua etnicidade original. Para evitar essa calamidade o melhor será instituir uma Entidade Reguladora da Pureza Étnica a fim de se tirar a limpo quem é verdadeiramente português.

O nacionalismo histórico e político, tal como materializado pelos fundadores das Nações e teorizado por Fichte, Schelling, Hegel, Maurras, Sardinha, Pimenta, e tantos outros, proclama-se uma doutrina universal e assenta, em termos políticos, em princípios, como:

- A primazia do espírito sobre a matéria

- A unidade vale mais que a pluralidade e a dispersão

- A universalidade vale mais que o singular

- O interesse comum vale mais que o interesse individual ou particular

- A unidade, a universalidade, o interesse comum requerem a autoridade suficiente que se oponha à dispersão e à atomização

- Cada um, pelo seu querer, é capaz de superar a sua particularidade e se universalizar



A insistência no fixismo étnico como fundamento único e absoluto da Nação centra-se na materialidade dos cromossomas e se, apesar disso, admitirem que a Nação é ideia e espírito, tal só poderá ser concebido como emanação da matéria. O que levanta problemas filosóficos não menos empolgantes que se enquadram num enfrentamento civilizacional mais vasto e, talvez, próximo.

Quem sabe?

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

Ver também: Nacionalismos (I) e Nacionalismos (II)

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