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2005/07/18

Nacionalismos (II) 

Agradeço aos nossos interlocutores, em especial camisanegra e Corcunda, pelos comentários com que enriqueceram esta discussão sobre o conceito de Nação e a essência do nacionalismo.

Conforme previa (e sabia) existem actualmente dois entendimentos de Nação e de nacionalismo suficientemente divergentes para gerar os abundantes comentários que por aí apareceram.

Se só há um nacionalismo, afinal quem é que não é nacionalista?

Como se pode ver, há mesmo quem identifique Nação com homogeneidade étnica, com a raça, com o sangue, ou com o que lhe quiserem chamar, – e nesse caso considera Portugal, França, Alemanha, etc. uma mesma Nação, a Europa – de modo diferente à História, em que a Europa é constituída por diversas nações, cujo fundamento último não é a homogeneidade étnica, embora tal possa existir e muitas tenham começado por aí.

O propósito desta reflexão era, e é, clarificar e definir os vários entendimentos e sensibilidades existentes à volta destes conceitos, de forma a reduzir ao máximo os equívocos. Não a hostilização ou o tratamento pejorativo, reveladores de ódios de estimação.

Todas as coisas têm um fundamento. E se o fundamento último da Nação é o fixismo étnico, os nossos interlocutores que defendem essa posição saber-nos-ão explicar por a+b porquê. Assim como nos saberão explicar o porquê do seu pânico perante a miscigenação e, eventualmente, porque é que esta atenta contra a Natureza. Saberão também explicar se e porque é que pessoas de raças diferentes podem, ou não, pertencer à mesma comunidade nacional. E se conseguirem resolver tudo isto a seu favor os outros não terão mais do que aceitar as suas teses.

A História de Portugal demonstra que pessoas de diferentes raças podem pertencer à mesma Nação. É a constatação de um facto. O Eusébio é português ou não? Por outro lado, uma mole de gente etnicamente homogénea não faz ipso facto uma Nação.

Conceitos como os de povo, nação, grupo linguístico, etc., são puramente etnológicos, são categorias fundadas na igualdade do estado cultural, dos costumes, da vida jurídica e política, da linguagem, que não estão em relação de causalidade com os caracteres puramente corporais dos indivíduos que as integram. Raça, pelo contrário, é um conceito zoológico(1) e designa um grupo de homens que se diferencia claramente de outros grupos humanos por uma massa hereditária perfeitamente determinada, ou seja, por um conjunto de caracteres morfológicos, fisiológicos e psíquicos hereditários e sempre ligados entre si.

E que caracteres hereditários são esses, em que se baseiam as classificações de raças? A forma do crânio e da cara, a cor da pele e dos olhos, o cabelo (cor, forma e modo de distribuição na pele) e estatura e proporções entre as diferentes partes do corpo.

Se a noção de raça era assim definida nos anos 30 e 40, em que ainda não se conhecia a estrutura do ADN, e portanto dos genes e cromossomas, hoje, que se conhece cada vez melhor o genoma humano, sabe-se quais são os genes que determinam essas características que permitem distinguir com base no aspecto externo (fenotipo). Por exemplo, a pigmentação da pele e do cabelo é maioritariamente controlada pelo gene MC1R. Assim como se sabe que a variabilidade genética entre indivíduos com fenótipos diferentes (de raças diferentes), é em muitos casos bastante reduzida, ao passo que entre indivíduos da mesma população pode ser muito elevada. Encontram-se variabilidades genéticas de 7 a 10% entre indivíduos de raças diferentes (em continentes diferentes) e de 85% entre indivíduos da mesma raça(2). Estamos a falar de genes, não de aspecto externo.

Ora, assim é difícil fundamentar cientificamente o conceito de raças humanas. Razão pela qual será aconselhável e mais credível conferir outro fundamento à Nação.

(1) Reche, O,; Kraepelin-Schaffer; Curso y Practicas de Biologia, Editorial Labor, 1942.
(2) Eia, Tetushkin; Genetika, 2001 Aug, 37(8): 1029-45; “Genetics and the origin of human races”.

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

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