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2005/07/11

Nacionalismos 

Os vários debates, encontros, congressos, “think-tanks”, realizados nos últimos 10 anos em Portugal, bem como, mais recentemente, a própria blogosfera, tiveram o mérito de revelar o que pensam os nacionalistas portugueses sobre as questões políticas e a essência do nacionalismo, verificando-se que não existe apenas um tipo de nacionalismo, ainda que a Nação portuguesa seja uma só.

Tem sido, assim, possível identificar, pelo menos, dois tipos de nacionalismo:

Um, que assenta na homogeneidade étnica, por identificação da Nação com etnia, e preconiza uma ética “nórdico-ariana”, tendo como consequências práticas o forte desencorajamento da miscigenação, para não dizer a crítica ou mesmo a condenação, e a disposição das etnias por territórios (europeus na Europa, africanos na África, semitas no Próximo Oriente).

Outro, que funda a Nação na História e a identifica, no terreno político, com o que mais se aproxima do Absoluto, sem se identificar com ele: o unum. A Nação como Ideia de uma comunidade política, fixada a determinado solo, com uma história política, uma missão e uma tradição.

Todos estão de acordo que é essencial preservar a soberania, a liberdade e a independência, o que na prática significa a exigência de que sejam os portugueses a determinar o seu destino político e histórico enquanto comunidade. E, convenhamos, isto não é pouca coisa, nem tarefa fácil.

Porém, as dificuldades surgem quando se coloca apenas a etnia como fundamento único da Nação, ou seu valor supremo, e se passa por cima da História, ao ponto de pretender à força que os últimos 30 anos nos separam irreversivelmente dos anteriores 500. Isto, em rigor, ninguém pode garantir.

A propósito da ética “nórdico-ariana” escrevia o Prof. António José de Brito: “Há quem proponha como objectivo uma Europa do Atlântico a Vladivostock, composta de nações soberanas e dirigidas pela ética “nórdico-ariana”. O curioso é que os proponentes têm simpatias pela homogeneidade racial, um deles até se refereindo desprezivamente ao Brasil como um caos étnico (para usar a expressão de H. S. Chamberlain). Ora, pelo menos, uma das nações, livres e soberanas da exalçada Europa, é ela um caos étnico com eslavos, mongóis, tártaros, etc. E porque maravilhosamente conseguem raças tão diferentes ter uma mesma ética e a consideram nórdico-ariana? Baptismo convencional? Admitamo-lo, mas assaz fantasista. E qual o motivo porque são excluídos dessa ética japoneses e homens de pele negra? Se abrange os mongóis porque dela se excluem japoneses e negros?

Se a ética “nórdico-ariana” se puder estender a todas as raças, verdadeiramente não é nórdico-ariana, é uma ética universal e o que importa é a verdade do seu conteúdo. Pouco importa, porém, o que lhe chamemos (embora devamos fugir às extravagâncias). Se for a ética da devoção à comunidade política, do sentido do dever, da fidelidade e da coragem, bem como da honra e da dignidade, sim, então está aí a síntese valorativa a seguir. Mas não tem nada a ver com Europa, aliás fixada arbitrariamente, nem com Norte e Sul, nem com nações infelizmente mortas ou moribundas, nem com epidermes coloridas ou descoloridas.

Dessa ética, dita nórdico-ariana, estão mais próximos os zulus que, perante a bravura de um punhado de ingleses que lhes resistira, retornaram em massa, não para os esmagar, mas saudar o inimigo que soubera bater-se; ou os soldados africanos que combateram lealmente e sem temor sob a nossa bandeira(…).

Os nossos compatriotas são os que pensam como nós, onde quer que estejam e descendam de quem descenderem. É com eles que importa marchar em toda a parte, no esforço de desmascarar, com a maior intransigência e o maior rigor, a disparatocracia reinante em todo o globo”
. (“Rumo ao Futuro”; Comunicação ao 1º Congresso Nacionalista Português, “Nacionalismo Ontem e Hoje”, pp. 47-49, Nova Arrancada, 2003).

Fim de citação.

O nacionalismo afigura-se, assim, como uma doutrina universal, e não como um etnicismo ou um territorialismo.

Não parece, pois, fácil de sustentar que seja a raça, a etnia ou o que lhe quiserem chamar, no fundo os cromossomas, o fundamento último das Nações e do nacionalismo. Quanto mais não seja pelo conceito tão vago de raça que nos tem apresentado a genética nos últimos 50 anos. No entanto, isso não significa que tal não se possa ou deva estudar, porque as Nações vivem de sucessivas gerações que transmitem um património histórico e cultural. Como dizia Maurras, a Nação é “Mãe e filha dos nossos destinos”.

Uma e outra questão ficam para próximos postais.

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

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