2005/07/04
Bush e células estaminais
Discute-se na América se os dinheiros públicos hão-de financiar a investigação médica em células estaminais de embriões produzidos para o efeito, ou seja, a chamada clonagem terapêutica, bem como em embriões sobrantes de processos de reprodução assistida e congelados à espera de projecto.
Critica-se, mais ainda na Europa, como não podia deixar de ser, a intenção de recusa do presidente americano em relação à investigação com células estaminais embrionárias, como um empecilho à investigação e ao progresso da medicina. Pretende-se até que se deveriam aproveitar os embriões sobrantes congelados, destinados a morrer. Que se pode fazer com eles? Assim, serviriam para o bem da humanidade.
Para além desta argumentação falaciosa, que não vou agora desmontar, diria só que se esses embriões estão destinados a morrer – para que é que os fizeram? – então deixem-nos morrer em paz e vejam se conseguem pensar em termos mais além do utilitarismo. Este é o passo que faz falta para alimentar a deriva de produção de embriões, ou seja, a clonagem terapêutica vai buscar a explosão dos processos de reprodução artificial humana, pois agora eles já sabem como dar vazão aos embriões excedentários. Nada melhor que um pretexto utilitário.
Para se colherem células estaminais não é, necessariamente, preciso destruir embriões, uma vez que este tipo de células também existe no tecido sanguíneo do cordão umbilical, bem como em tecidos individuais adultos (pós-natais), tais como tecido nervoso, muscular, sanguíneo, ósseo e cutâneo, e são multipotentes.
O potencial terapêutico deste tipo de células estaminais (não embrionárias) está longe de ser bem conhecido, testado e aplicado. Existem várias entidades, como por exemplo a Universidade de Kiel (Alemanha), com projectos de investigação em células estaminais adultas em curso. É estranha, por isso, a fixação nas células embrionárias, sem que todas as potencialidades das estaminais adultas sejam conhecidas e utilizadas. A menos que exista alguma obscura e inconfessável razão que obrigue a preferir destruir embriões em vez de utilizar células adultas.
Existe, inequivocamente, entre a classe jornalística europeia a convicção generalizada de que George W. Bush é burro, que todas as decisões que toma lhe são bichanadas pelo corpo de intelectuais, na impossibilidade de pensar pela própria cabeça. Os europeus, fruto de dois séculos de iluminação, não perdoam que o presidente de uma Nação possa ser um homem comum. Daí a secreta esperança de que, com a pressão de uma quantas opiniões em sentido contrário e umas sondagens a propósito, o presidente mude de ideias.
Tudo isto para esquecer que a questão ética à volta da utilização de células estaminais se prende, não com a legitimidade da cura de doenças, mas com à custa de quê é que isso se consegue.
Ora, aí faz toda a diferença se para tais investigações, e eventuais curas, se pretendem utilizar células de embriões destruídos ou a destruir, ou células estaminais adultas, eventualmente do próprio organismo.
A não ser que, como dizia a tal TV star, quem se rege pela ética está condenado a morrer à fome.
Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt
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