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2003/11/19

Qual é o nosso Portugal? Que Portugal é o nosso? Contributos duma grande geração de sacerdotes (VIII) 

(continuação do post de 2003/11/18)

A mobilização dos leigos pós-Concílio Vaticano II (II)

Em Portugal, as reacções dos católicos às primeiras iniciativas das primeiras células de leigos que referi no último post (VII), traduzidas em particular na receptividade e acolhimento dados à revista, foram imediatamente muito favoráveis.

À semelhança da estrutura francesa, logo se procurou que as células de leigos pudessem beneficiar, na sua organização e trabalho corrente, além da interligação representada pela revista “Resistência” (de regularidade bimensal... irregular), também do apoio de um órgão como era o Office relativamente às células de leigos franceses: um órgão de apoio fundamentalmente logístico, bibliográfico e metodológico.

Esta actividade de apoio veio a desenvolvê-la o Círculo de Estudos Sociais VECTOR, associação criada por escritura pública, em 1970, de que foi primeiro presidente da Assembleia Geral o Prof. Doutor Guilherme Braga da Cruz, prestigiadíssimo catedrático de Direito da Universidade de Coimbra.

A actividade mais visível e de maior projecção do VECTOR viria a ser a realização dos Congressos anuais que tiveram lugar de 1969 a 1983, quase todos em Fátima, com excepção dos realizados no Porto, Viseu Guarda e Lisboa (Buraca).

O modelo inspirador foi também o Office, através dos seus Congressos em Lausanne (posteriormente, e ainda actualmente, em Versalhes), os quais durante anos sucessivos reuniam para cima de três mil participantes, no Palais des Congrès, idos de mais de vinte e cinco países da Europa, Américas e Oriente, incluindo Portugal, sendo os participantes portugueses, em geral, mobilizados pelo próprio VECTOR.

Há um aspecto curioso a registar: o trabalho em células (porque este nome, que vinha de incitamentos dados pelo Papa Pio XII aos católicos, lembrava antes de mais, para quem estivesse de fora a observar, a actividade dos comunistas na clandestinidade), o trabalho dos leigos em células, repito, pareceu a certa altura, não digo assustar, mas pelo menos deixar o Poder “de pé atrás”.


A revista, a forma de trabalho em células dos militantes católicos, o VECTOR com os seus congressos, dos quais os de 1970 a 1973, em Fátima, chegaram a reunir entre 400 e 700 participantes, de cada vez, parecem ter “assustado” os políticos que rodeavam o Doutor Marcelo Caetano. Talvez tenham até querido fazer-lhe crer que “aquilo” era a direita salazarista a organizar-se contra o seu “regime”. Ele possivelmente terá antes pensado que “aquilo”, a ter algum significado político, valia antes para o seu governo como um reforço, de que bem precisava, tantos e fortes eram os adversários que o espreitavam, à direita e à esquerda. Suspeito de que dois ou três “informadores” seus que por lá circulavam, entre vários que conhecíamos, o terão convencido dessa “verdade".

Seja como for, o certo é que no Congresso do Office, em Lausanne, de 1974 (Março), cerca de um mês antes da revolução de Abril, congresso onde tínhamos uma numerosa delegação portuguesa, organizada pelo VECTOR, por lá apareceu, sem nos prevenir, um elemento importante da política em Portugal, que tudo observou muitíssimo atentamente, uma pergunta aqui, outra além, quase em silêncio, ao contrário da sua conhecida natureza muito faladora.

O certo é que, soube-o depois, regressou a Portugal muito impressionado com a irradiação e força da organização de dimensão europeia a que o Vector estava associado. Por reflexo, fez o mesmo juízo, para o VECTOR, em Portugal, soube-o também depois, cerca de dois meses, já em plena revolução.

Como contarei.

A.C.R.

(continua num próximo post)

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