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2003/11/11

Qual é o nosso Portugal? Que Portugal é o nosso? Contributos duma grande geração de sacerdotes (IV) 

(continuação do post de 2003/11/07)

Dei a entender no último post deste título (III) que o progressismo e o marxismo (marxismo-leninismo-estalinismo, para dizer tudo) não desistiram, apesar de derrotados no resultado final das votações dos textos saídos do Concílio Vaticano II, que em tudo o que fosse importante confirmaram a doutrina tradicional da Igreja, embora numa linguagem frequentemente renovada e actualizada.

Releiam-se os dois últimos parágrafos.

Porquê, antes de mais, o parêntese para Álvaro Cunhal?

A propósito dos noventa anos que os jornais ontem lhe festejaram?

Só indirectamente.

Mas porque me pareceu que, para festejar-se e marcar a diferença, aos noventa anos, quis Cunhal apresentar-se renovado, renegando parte substancial, ainda que enganosa, do seu longo currículo.

Conclui-se do que os MCS contaram que, num texto destinado a ser lido num “encontro internacional”, Cunhal terá deixado cair o leninismo como base de orientação para a acção futura do seu partido e de toda a luta da esquerda contra a ordem capitalista mundial. Terá passado, de facto, a considerar como tal apenas o marxismo, cujos princípios, “respondendo criativamente às mudanças no mundo, mantêm inteira validade.”

A verdade é que, até há muito poucos anos, Cunhal nos seus textos e nas decisões das direcções do PCP, desde a queda da URSS, continuou sempre a impor o marxismo-leninismo como doutrina do partido.

Será, de facto, uma revolução de fundo do pensamento de A. Cunhal aquilo a que assistimos ou apenas uma caiadela?

Parecendo acreditar na revolução de fundo, os comentadores/noticiaristas do referido texto assinalam um outro ponto “importante” do mesmo, talvez glosando apenas o serviço que a Lusa lhes terá distribuído, a avaliar pela unanimidade.

Esse outro ponto é o seguinte:

Ao enumerar as forças que, segundo ele, serão “capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo objectivo” (o domínio mundial, naturalmente), Cunhal assinala: 1º) “os países nos quais os comunistas no poder (China, Cuba, Vietname, Laos, Correia do Norte) insistem em que o seu objectivo é a construção de uma sociedade socialista”; 2º) “os movimentos e organizações sindicais de classe”; 3º) “os partidos comunistas e outros partidos revolucionários, firmes, corajosos e confiantes”; 4º) “os movimentos patrióticos”; 5º) “os movimentos pacifistas, ecologistas e outros movimentos de massas”.

Os tais comentadores/noticiaristas, por obra e graça muito provavelmente da Lusa, acham isto revolucionário, por ser “uma clara inversão de hierarquia do papel dos partidos comunistas, colocados depois dos Sindicatos.”

Claro que essa intervenção nada tem de revolucionário, é apenas algum realismo a trair o que Cunhal realmente pensa de partidos comunistas sem poder, sem um estado como instrumento de expansão e conservação do poder.

Daqui a dez anos, Cunhal talvez deixasse cair mesmo a alusão aos “partidos comunistas”, porque talvez já não exista nenhum.

Como deixou cair o “Exército Vermelho”, instrumento supremo que foi de conquista e consolidação do império soviético.

Mas já não existe.

À cabeça de todas as forças “capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu objectivo”, lá está, porém, qual delas?

A China.

Mas a China parece evidentemente ter renunciado à “construção de uma sociedade socialista”!

Que há na China então em que Cunhal possa confiar?

Não tenho dúvidas.

É no Exército popular chinês, o único “exército vermelho” que verdadeiramente resta, capaz de impor um dia o poder da China, sob a capa do socialismo comunista, a muitos e fracos povos e depois aos grandes de todo o Ocidente.

O exército dum Estado de 1600 milhões de habitantes, fora os muitos milhões de Chineses que andam por todo o Mundo, do Ocidente Asiático aos EUA!

Os velhos sonhos delirantes de Cunhal não desarmam, nem aos noventa anos.


Parecem mesmo mais delirantes que nunca.

A.C.R.

(continua num próximo post)

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