2003/10/29
Qual é o nosso Portugal? Que Portugal é o nosso? Contributos duma grande geração de sacerdotes (I).
Domingo passado, participei com minha mulher num almoço de homenagem ao Prior da paróquia de Santiago, concelho de Seia — principal porta de acesso à Torre, Serra da Estrela — distrito da Guarda, um dos três da chamada Beira Interior.
Éramos quase duzentos dos actuais paroquianos do P.e Rogério Miranda (e antigos, o meu caso) que no mediano restaurante “O Manjar”, em Pinhanços, mesmo à ilharga da Estrada da Beira (Coimbra – Celorico da Beira) ali festejávamos os 25 anos da tomada de posse do P.e Rogério como pároco de Santiago.
É uma pequena mas próspera freguesia, com a sede e três pequeníssimas anexas, a menos de um quilómetro umas das outras, as quais, no conjunto, talvez não cheguem ou pouco passarão dos mil habitantes. Mas a freguesia tem-se desenvolvido fortemente e resistido bem ao despovoamento do distrito, principalmente talvez por ficar pegada à freguesia da sede do concelho, donde vem fixar-se ali muita gente que trabalha em Seia, mas lá não vive ou preferiu deixar de lá viver.
O desenvolvimento da freguesia, nos últimos quarenta e tal anos, é de “encher o olho”, sem ironia e em bom sentido. Não surgiram novas fontes produtivas significativas nem a população cresceu, antes pelo contrário, mas a qualidade de vida é que melhorou extraordinariamente: aumentou muito o número de alunos que frequentam o ensino superior ou se diplomaram nas universidades e politécnicos de Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda, Seia, Covilhã, Vila Real e Bragança ou de mais longe; o número de automóveis cresceu exponencialmente, sendo numerosas as casas uni-familiares, com dois, três e até quatro carros para a família; não há praticamente família sem o seu telefone fixo e telemóvel ou telemóveis; mas sobretudo a qualidade da habitação é que melhorou ainda mais sensacionalmente que tudo o resto.
A grande maioria das pessoas mudou, mudou de casa, para muito melhores casas. Ao longo das ruas e estradas só se vêem casas novas, o que explica em grande parte o enorme “boom” destes anos na construção civil, que é a primeira actividade económica do concelho, logo seguida do Turismo e terciário em geral e de um certo renascimento da têxtil.
Foram primeiro os emigrantes, a partir do início dos anos sessenta, ao mesmo tempo que os empregados da indústria têxtil, então em plena pujança, com a ajuda do crédito bancário para habitação; mas hoje e desde há quase duas décadas, são sobretudo os que ganham bem, na própria região, a construir as suas casas — professores, engenheiros, economistas, médicos, comerciantes e outros empresários, etc. — casas frequentemente de melhor gosto, a fazer esquecer e a ultrapassar de longe o grande surto construtivo dos antigos emigrantes dos anos 60 e 70, muitos deles retornados do Ultramar em 1974-75.
Nota-se forçosamente a elevada auto-estima, sem arrogância, das pessoas que aqui vivem.
Talvez porque é nestas localidades — cidades ou vilas e aldeias mais próximas — que a qualidade de vida é hoje, em muitos aspectos, superior à dos grandes aglomerados urbanos do Litoral.
Mas a que vem tudo isto, afinal, se o título prometia que falaríamos dos dois Portugais que temos e duma grande geração de sacerdotes que... — vamos lá, antecipo-me — que muito deu a Portugal?
Lá iremos.
Fica para breve.
A.C.R.
(continua num próximo post)
Éramos quase duzentos dos actuais paroquianos do P.e Rogério Miranda (e antigos, o meu caso) que no mediano restaurante “O Manjar”, em Pinhanços, mesmo à ilharga da Estrada da Beira (Coimbra – Celorico da Beira) ali festejávamos os 25 anos da tomada de posse do P.e Rogério como pároco de Santiago.
É uma pequena mas próspera freguesia, com a sede e três pequeníssimas anexas, a menos de um quilómetro umas das outras, as quais, no conjunto, talvez não cheguem ou pouco passarão dos mil habitantes. Mas a freguesia tem-se desenvolvido fortemente e resistido bem ao despovoamento do distrito, principalmente talvez por ficar pegada à freguesia da sede do concelho, donde vem fixar-se ali muita gente que trabalha em Seia, mas lá não vive ou preferiu deixar de lá viver.
O desenvolvimento da freguesia, nos últimos quarenta e tal anos, é de “encher o olho”, sem ironia e em bom sentido. Não surgiram novas fontes produtivas significativas nem a população cresceu, antes pelo contrário, mas a qualidade de vida é que melhorou extraordinariamente: aumentou muito o número de alunos que frequentam o ensino superior ou se diplomaram nas universidades e politécnicos de Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda, Seia, Covilhã, Vila Real e Bragança ou de mais longe; o número de automóveis cresceu exponencialmente, sendo numerosas as casas uni-familiares, com dois, três e até quatro carros para a família; não há praticamente família sem o seu telefone fixo e telemóvel ou telemóveis; mas sobretudo a qualidade da habitação é que melhorou ainda mais sensacionalmente que tudo o resto.
A grande maioria das pessoas mudou, mudou de casa, para muito melhores casas. Ao longo das ruas e estradas só se vêem casas novas, o que explica em grande parte o enorme “boom” destes anos na construção civil, que é a primeira actividade económica do concelho, logo seguida do Turismo e terciário em geral e de um certo renascimento da têxtil.
Foram primeiro os emigrantes, a partir do início dos anos sessenta, ao mesmo tempo que os empregados da indústria têxtil, então em plena pujança, com a ajuda do crédito bancário para habitação; mas hoje e desde há quase duas décadas, são sobretudo os que ganham bem, na própria região, a construir as suas casas — professores, engenheiros, economistas, médicos, comerciantes e outros empresários, etc. — casas frequentemente de melhor gosto, a fazer esquecer e a ultrapassar de longe o grande surto construtivo dos antigos emigrantes dos anos 60 e 70, muitos deles retornados do Ultramar em 1974-75.
Nota-se forçosamente a elevada auto-estima, sem arrogância, das pessoas que aqui vivem.
Talvez porque é nestas localidades — cidades ou vilas e aldeias mais próximas — que a qualidade de vida é hoje, em muitos aspectos, superior à dos grandes aglomerados urbanos do Litoral.
Mas a que vem tudo isto, afinal, se o título prometia que falaríamos dos dois Portugais que temos e duma grande geração de sacerdotes que... — vamos lá, antecipo-me — que muito deu a Portugal?
Lá iremos.
Fica para breve.
A.C.R.
(continua num próximo post)
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