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2011/08/05

Atentados à vida humana e fraudes políticas 

Ao longo da longa campanha para liberalizar o aborto, de 1998 a 2007, as forças favoráveis ao aborto argumentavam que queriam apenas impedir que mulheres fossem presas, acabar com o aborto clandestino e garantiam que a prática do aborto nunca iria aumentar, sendo regulado por uma lei estatal. Esta foi a retórica que enganou muitos portugueses.

Mas houve alguma mulher que fosse presa nesse período? Ou será que aquilo a que eles chamam “mulheres” são “profissionais” da execução do aborto? É que o aborto tem 2 lados: o da vítima, que o sofre, e o dos “profissionais”, que o executam.

Passados 4 anos, o que é que temos? O aborto disparou para 20 mil por ano (cerca de 20% do total de nascimentos em Portugal) e não consta que o aborto clandestino tenha acabado, nem os problemas de saúde em mulheres que foram submetidas a abortos. Mais, verifica-se que uma parte significativa dos números corresponde a casos de reincidência. Ora, isto os defensores da lei do aborto não disseram, nem querem que se diga, aos portugueses.

Em resumo, estamos perante uma fraude política: acenaram aos portugueses com a despenalização para os levar a votar “sim”, e afinal o que conseguiram foi o aborto a aumentar. Entre a retórica e a realidade vai uma grande diferença.

A campanha que se segue é a da eutanásia. E aqui também a fraude política está em campo. Eles acenam com “evitar o sofrimento”, mas o que pretendem é que aumente o número de pessoas, doentes terminais para já, que pedem o “suicídio assistido”, como se de inúteis se tratasse.

E onde está a fraude? Perguntarão alguns.

É que o facto de existir uma lei que consigna a utilização de estruturas hospitalares para o exercício do suicídio, portanto da morte, mesmo que consentida, propósito contrário à existência de serviços hospitalares, cria a priori um clima, um ambiente, que vicia a atitude do doente terminal, levando-o a considerar-se um peso inútil, inclusivé economicamente, para a sociedade. O facto do doente conhecer a existência dessa lei já condiciona a sua atitude no sentido da eutanásia. Ele não será obrigado, mas será influenciado e induzido, o que, para efeitos práticos, vai dar ao mesmo.

Só os cuidados paliativos, a redescoberta do sentido da vida, e do sofrimento, seja pela insubstituível ajuda da família, seja pela fé religiosa, serão respostas à cultura de morte disfarçada de compaixão. Em resumo, só o amor ao doente, mais do que à saúde, é resposta. Porque dar mais valor à saúde do que ao doente terminal é fraudulento.

A “moral” desta cultura de morte pode resumir-se ao seguinte preceito: um ser humano desejado, nascido saudável, e enquanto for saudável, é um herói. Um nascituro com menos de 10 semanas, deficiente, indesejável ou um doente incurável ou terminal, são lixo, alvos a abater quanto antes.

E agora nós podemos, e devemos, questionar: mas quem é o legislador político para presumir o poder de autorizar quem nasce e quem morre? Quais são os limites do seu poder? Será que tem poder absoluto para determinar, ainda que por interpostos terceiros, quem pode e não pode nascer e morrer?

É que alguém que tem a pretensão do poder absoluto sobre a gestão da vida e da morte, é Deus.

Partindo todas as manifestações desta cultura de morte (aborto, eutanásia) de sectores ateus da sociedade e que visam o controle absoluto da vida humana em momentos críticos como o início e o fim, segundo os seus interesses, através do Estado, é legítimo concluir que o aborto e a eutanásia são questões também religiosas.

Afinal de contas os ateus, que não acreditam em Deus, fazem-se, através do Estado, deus: são tão bons, tão bons, que até definem quem pode, e não pode, nascer e morrer.

Qualquer entidade que aspire ao domínio absoluto da vida humana, seja em que etapa for, necessariamente transforma-se num deus, senhor da vida e da morte.

É essa a pretensão dos ateus, através do Estado e da política: serem deus.

manuelbras@portugalmail.pt

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