2011/06/29
O novo governo: cuidado com as ilusões
Ouve-se, um pouco por todo o lado, embora de forma contida, algumas tiradas optimistas sobre o novo governo.
Calma amigos, não se iludam. É verdade que o governo é composto por gente de inegável valor e, apesar da tenra média de idade, com provas dadas em variadas áreas, de modo especial os ministros independentes. No que toca à composição do governo, podemos dizer que a impressão é francamente positiva e o seu potencial é grande, em comparação com o que tivémos nas últimas décadas. Mas esse não é o problema. O problema é saber se isso basta. E aí temos que admitir que o mais provável é que não baste. Porque estar no governo não é o mesmo que estar no poder. Em breve vamos ver essa diferença de forma clara, mais uma vez.
Este governo, que tem pela frente um ambicioso e exigente programa económico e financeiro, que exige a tomada de decisões que implicam cortes nas despesas do Estado (para ser meigo na expressão), vai enfrentar toda a má vontade de uma oposição profissionalizada em sabotagem política, a acção impiedosa de sindicatos com poderes concedidos há quase 40 anos, que nunca foram revistos, em certos casos para além das suas legítimas competências, e por aí fora. Enfim, o governo vai enfrentar toda a beligerância política e sindical da constituição a caminho do socialismo. Quando a direcção do PS se recompuser, começa a fervura em lume brando. Lá para Dezembro vamos ver como estão as coisas.
Os ministros vão trabalhar imenso, mas será que o governo tem uma estratégia de comunicação para o País ou vai deixar a iniciativa da comunicação nas mãos da esquerda, que já de si detém o monopólio, ou quase, da cultura política e da imprensa? É que aqui o problema é a cabeça dos portugueses. Uma cabeça feita desde os bancos e manuais escolares até aos media feita à imagem e semelhança da esquerda. Desde 5 de Junho para cá nada mudou na percepção política dos portugueses. A cabeça dos portugueses está na mesma. O que a generalidade dos eleitores portugueses pensava em 2009 quando elegeu Sócrates é o mesmo que pensa em Junho de 2011 quando elegeu Passos Coelho. Passos Coelho e o PSD não venceram as eleições porque os portugueses tenham mudado de ideias, nem porque representem uma ruptura ou mudança de ideias políticas em relação ao passado. Bem pelo contrário: a expectativa de muitos eleitores portugueses é conseguir manter o status, aparentemente confortável dos "direitos adquiridos", o estado paternalista da constituição a caminho do socialismo.
A esquerda sabe disso e tira partido. De modo que, se o governo, e as forças políticas que o apoiam, não se empenhar em mudar a cabeça dos portugueses, daqui a alguns meses tem os sindicatos e a populaça na rua a pedir-lhe a cabeça. E aí até podemos apostar qual será o primeiro ministro a cair: da Educação, da Justiça, do Trabalho, da Segurança Social? A boa vontade dos ministros não deve chegar para a má vontade da esquerda. É provável que os compromissos assumidos com a ajuda externa não venham a ser cumpridos e que entremos numa de Grécia ocidental. Ao contrário do que dizia Cavaco Silva, podemos falhar. E até é o mais fácil.
Entretanto, escapa a quase todos os ministros, e políticos em geral, ao que parece com a excepção de Álvaro Santos Pereira, o grande problema do futuro de Portugal: o declínio demográfico. Tema que bem merece uma forte campanha para o pôr no topo da agenda política.
Portanto, nada de ilusões.
manuelbras@portugalmail.pt
Calma amigos, não se iludam. É verdade que o governo é composto por gente de inegável valor e, apesar da tenra média de idade, com provas dadas em variadas áreas, de modo especial os ministros independentes. No que toca à composição do governo, podemos dizer que a impressão é francamente positiva e o seu potencial é grande, em comparação com o que tivémos nas últimas décadas. Mas esse não é o problema. O problema é saber se isso basta. E aí temos que admitir que o mais provável é que não baste. Porque estar no governo não é o mesmo que estar no poder. Em breve vamos ver essa diferença de forma clara, mais uma vez.
Este governo, que tem pela frente um ambicioso e exigente programa económico e financeiro, que exige a tomada de decisões que implicam cortes nas despesas do Estado (para ser meigo na expressão), vai enfrentar toda a má vontade de uma oposição profissionalizada em sabotagem política, a acção impiedosa de sindicatos com poderes concedidos há quase 40 anos, que nunca foram revistos, em certos casos para além das suas legítimas competências, e por aí fora. Enfim, o governo vai enfrentar toda a beligerância política e sindical da constituição a caminho do socialismo. Quando a direcção do PS se recompuser, começa a fervura em lume brando. Lá para Dezembro vamos ver como estão as coisas.
Os ministros vão trabalhar imenso, mas será que o governo tem uma estratégia de comunicação para o País ou vai deixar a iniciativa da comunicação nas mãos da esquerda, que já de si detém o monopólio, ou quase, da cultura política e da imprensa? É que aqui o problema é a cabeça dos portugueses. Uma cabeça feita desde os bancos e manuais escolares até aos media feita à imagem e semelhança da esquerda. Desde 5 de Junho para cá nada mudou na percepção política dos portugueses. A cabeça dos portugueses está na mesma. O que a generalidade dos eleitores portugueses pensava em 2009 quando elegeu Sócrates é o mesmo que pensa em Junho de 2011 quando elegeu Passos Coelho. Passos Coelho e o PSD não venceram as eleições porque os portugueses tenham mudado de ideias, nem porque representem uma ruptura ou mudança de ideias políticas em relação ao passado. Bem pelo contrário: a expectativa de muitos eleitores portugueses é conseguir manter o status, aparentemente confortável dos "direitos adquiridos", o estado paternalista da constituição a caminho do socialismo.
A esquerda sabe disso e tira partido. De modo que, se o governo, e as forças políticas que o apoiam, não se empenhar em mudar a cabeça dos portugueses, daqui a alguns meses tem os sindicatos e a populaça na rua a pedir-lhe a cabeça. E aí até podemos apostar qual será o primeiro ministro a cair: da Educação, da Justiça, do Trabalho, da Segurança Social? A boa vontade dos ministros não deve chegar para a má vontade da esquerda. É provável que os compromissos assumidos com a ajuda externa não venham a ser cumpridos e que entremos numa de Grécia ocidental. Ao contrário do que dizia Cavaco Silva, podemos falhar. E até é o mais fácil.
Entretanto, escapa a quase todos os ministros, e políticos em geral, ao que parece com a excepção de Álvaro Santos Pereira, o grande problema do futuro de Portugal: o declínio demográfico. Tema que bem merece uma forte campanha para o pôr no topo da agenda política.
Portanto, nada de ilusões.
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Eleições legislativas