<$BlogRSDUrl$>

2011/03/17

Esquerda contra esquerda: à rasca, cantando e rindo 

Independentemente dos resultados práticos que venham a ser alcançados – quem dera que sim, embora as dúvidas sejam legítimas – em ordem aos objectivos declarados pela organização da manifestação do passado dia 12 em Lisboa – corrigir a situação laboral precária e instável de milhares de jovens recém-licenciados e outros não tão recém – a verdade é que essa manifestação não pode deixar de ser um caso de estudo político, cuja avaliação deve ser feita.

Caso de estudo porque é fenómeno raro em Portugal a organização e a convocação de manifestações à margem de partidos e de sindicatos, o que em certos casos vai dar ao mesmo. Esta manifestação foi formalmente convocada e anunciada como apartidária. E o que interessa avaliar neste caso de estudo interessante é até que ponto a manifestação foi realmente apartidária e até que ponto foi aproveitada por alguns partidos políticos de esquerda.

A manifestação – multitudinária – foi quantitativamente dominada pela esquerda. Via-se no estilo de muitos presentes, provavelmente não precários, em certos tiques de organização, em certas palavras de ordem que o PC tentou ressuscitar, como “o Povo unido jamais será vencido”. Embora não se vissem bandeiras nem distintivos de partidos de esquerda, o disfarce não funcionou completamente porque houve pequenos deslizes. Estava também presente gente do Bloco de Esquerda como o Daniel Oliveira e a Ana Drago, gente com fotografia do Estaline e a foice e o martelo, ou ainda gente do “Partido dos Animais e da Natureza” e do “Portugal Pela Vida”. Também se via correr muita cerveja e a marijuana passou por lá, entre muitos outros registos impossíveis de captar.

Seria uma injustiça identificar a totalidade dos manifestantes com partidos de esquerda que, indubitavelmente, estavam lá a fazer a sua luta, ou insinuar que todos os que lá foram estavam ligados a esses partidos, cujas massas militantes dominaram o acontecimento. Nada disso. Os precários apartidários estavam lá, com as suas histórias contadas na primeira pessoa, como, por exemplo, os bolseiros de investigação científica, arquitectos e outros licenciados.

Outros houve – e muitos – que desancaram no Sócrates, outros no Estado, apelidando-o de chulo, na maçonaria, equiparando-a à máfia, ou nos bancos, seja pelas taxas e lucros de uns, seja pela injecção de muito dinheiro dos contribuintes para tentar safar outros.

Conclusão: a manifestação, em termos quantitativos, foi dominada pela esquerda radical, mas isso não impediu que outras vozes tivessem expressão.

Sendo o PS um partido de esquerda e sendo a manifestação fortemente dominada por partidos de esquerda que, ainda que de forma anónima, se juntaram ao protesto, é forçoso reconhecer que muito do que ali se viu foi a esquerda contra a esquerda.

Quais são as pretensões da esquerda que combate o PS? Mudar de regime ou simplesmente substituir o PS por gente sua no aparelho de um Estado cada vez mais social(ista)?

Desde 74 que o Estado português, dito social, se encontra ao serviço da ideologia esquerdista, como bem se vê em matéria de educação, saúde e justiça, para não falar da constituição nem da comunicação social. Mesmo nos magros anos que o PSD, com ou sem o CDS, esteve no governo, o poder do Estado esteve nas mãos da esquerda. Estar no governo e no poder não é exactamente o mesmo.

Passados 37 anos desde 74, contando com os anos do PREC, Mário Soares, Guterres e Sócrates, sem esquecer Jorge Sampaio pelo meio, quem é que governou mais tempo e mandou mais em Portugal?

Quem são os maiores responsáveis pelo estado lamentável e miserável a que chegou o País? A esquerda. Então, de que é que se queixa a esquerda?

No fundo, houve várias manifestações, simultaneamente, com finalidades diferentes. Cada um esteve na sua.

manuelbras@portugalmail.pt

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional