2010/04/28
Pachauri na Gulbenkian
Manuel Brás
Rajendra Pachauri, o chairman do IPCC, esteve dia 27 de Abril na Gulbenkian para falar sobre “Alterações Climáticas – o grande desafio ao nosso futuro comum”.
Com as limitações próprias de quem não pôde assistir para além das 19h, sendo que a conferência, marcada para as 18h, começou um quarto de hora depois, eis algumas impressões relevantes recolhidas até esse momento.
Não tinha qualquer expectativa de ver ali apresentado algo de novo no que toca ao discurso oficial do IPCC relativamente ao clima. E, de facto, a expectativa cumpriu-se. O que ali foi apresentado resumiu-se à repetição do “Fourth Assessment Report” (4AR) de 2007.
O que pareceu diferente foi a atitude. Como diria o Louçã, eles estão “cada vez mais mansos”.
Teresa Gouveia, pela parte da Gulbenkian, fez uma introdução prudente e cuidadosa, próxima do realismo, salientando as incertezas, a imprevisibilidade e as controvérsias associadas ao tema das “alterações climáticas”, sem deixar de lado a variabilidade natural.
O Painel de moderadores, constituído do Filipe Duarte Santos, Viriato Soromenho Marques e Vasco Trigo, começou à defesa, através de Viriato Soromenho Marques, dizendo que o IPCC foi alvo de um ataque à credibilidade por uns malandros que entraram no e-mail de reputados cientistas da Climate Research Unit da Universidade de East Anglia, Reino Unido, e de onde retiraram correspondência entre cientistas, supostamente privada e, portanto, confidencial, e, no entanto, extremamente comprometedora, ao ponto de levar, como é de recordar, ao afastamento de Phil Jones. Para de seguida dizer que, afinal, existiram erros que foram prontamente reconhecidos pelo IPCC.
Pergunta-se: se os e-mails não fossem descobertos, o IPCC teria reconhecido os erros? O notável é que não foram revelados os erros cometidos pelos tais cientistas.
Também aqui há sinais de mansidão: ter começado por fazer referência ao climategate. No entanto, outros erros tem o IPCC cometido que no momento da correcção não foram referidos, como os dados relativamente aos gelos dos Himalaias indianos ou à área de território abaixo do nível do mar na Holanda, ambos rectificados pelas instâncias competentes dos respectivos países.
Será possível continuar a considerar o IPCC uma instituição credível?
Pachauri mostrou e comentou gráficos de temperaturas dos últimos 150 anos. Mas não disse se esses gráficos estavam afectados pelos inconvenientes erros dos cientistas do IPCC ou não. Fez referência ao ritmo de subida das temperaturas dos últimos 100 e 50 anos, retirando que nos últimos 50 anos a subida tinha sido mais intensa. Mas, curiosamente, não se lembrou de verificar o que aconteceu nos últimos 15 anos.
De resto, Pachauri limitou-se a referir possíveis impactos que a variabilidade climática necessariamente acarreta na agricultura, em fenómenos naturais e meteorológicos, no nível das águas, no aproveitamento dos recursos hídricos ou na maior ou menor proliferação de espécies. Mas isto é uma constante, porque o clima está sempre a mudar, nunca é fixo.
O que fica por provar é a magnitude da influência dos gases com efeito de estufa emitidos por actividades humanas e que é essa pequena parte do total que provoca as catástrofes anunciadas até 2100. E aqui pouco interessa dizer que podem afectar, ou que provavelmente afectam. O que importa é saber quanto.
Porque o que alguns pretendem é ter o poder de influenciar decisões políticas baseadas no que pode acontecer, ou como se isso acontecesse, mesmo que não aconteça. É o esquema do “se não é, podia ser”. É a pretensão de dar um carácter absoluto ao princípio da precaução.
Que é inaceitável.
E se o mesmo princípio se aplicasse dessa forma absoluta noutras áreas?
manuelbras@portugalmail.pt
Rajendra Pachauri, o chairman do IPCC, esteve dia 27 de Abril na Gulbenkian para falar sobre “Alterações Climáticas – o grande desafio ao nosso futuro comum”.
Com as limitações próprias de quem não pôde assistir para além das 19h, sendo que a conferência, marcada para as 18h, começou um quarto de hora depois, eis algumas impressões relevantes recolhidas até esse momento.
Não tinha qualquer expectativa de ver ali apresentado algo de novo no que toca ao discurso oficial do IPCC relativamente ao clima. E, de facto, a expectativa cumpriu-se. O que ali foi apresentado resumiu-se à repetição do “Fourth Assessment Report” (4AR) de 2007.
O que pareceu diferente foi a atitude. Como diria o Louçã, eles estão “cada vez mais mansos”.
Teresa Gouveia, pela parte da Gulbenkian, fez uma introdução prudente e cuidadosa, próxima do realismo, salientando as incertezas, a imprevisibilidade e as controvérsias associadas ao tema das “alterações climáticas”, sem deixar de lado a variabilidade natural.
O Painel de moderadores, constituído do Filipe Duarte Santos, Viriato Soromenho Marques e Vasco Trigo, começou à defesa, através de Viriato Soromenho Marques, dizendo que o IPCC foi alvo de um ataque à credibilidade por uns malandros que entraram no e-mail de reputados cientistas da Climate Research Unit da Universidade de East Anglia, Reino Unido, e de onde retiraram correspondência entre cientistas, supostamente privada e, portanto, confidencial, e, no entanto, extremamente comprometedora, ao ponto de levar, como é de recordar, ao afastamento de Phil Jones. Para de seguida dizer que, afinal, existiram erros que foram prontamente reconhecidos pelo IPCC.
Pergunta-se: se os e-mails não fossem descobertos, o IPCC teria reconhecido os erros? O notável é que não foram revelados os erros cometidos pelos tais cientistas.
Também aqui há sinais de mansidão: ter começado por fazer referência ao climategate. No entanto, outros erros tem o IPCC cometido que no momento da correcção não foram referidos, como os dados relativamente aos gelos dos Himalaias indianos ou à área de território abaixo do nível do mar na Holanda, ambos rectificados pelas instâncias competentes dos respectivos países.
Será possível continuar a considerar o IPCC uma instituição credível?
Pachauri mostrou e comentou gráficos de temperaturas dos últimos 150 anos. Mas não disse se esses gráficos estavam afectados pelos inconvenientes erros dos cientistas do IPCC ou não. Fez referência ao ritmo de subida das temperaturas dos últimos 100 e 50 anos, retirando que nos últimos 50 anos a subida tinha sido mais intensa. Mas, curiosamente, não se lembrou de verificar o que aconteceu nos últimos 15 anos.
De resto, Pachauri limitou-se a referir possíveis impactos que a variabilidade climática necessariamente acarreta na agricultura, em fenómenos naturais e meteorológicos, no nível das águas, no aproveitamento dos recursos hídricos ou na maior ou menor proliferação de espécies. Mas isto é uma constante, porque o clima está sempre a mudar, nunca é fixo.
O que fica por provar é a magnitude da influência dos gases com efeito de estufa emitidos por actividades humanas e que é essa pequena parte do total que provoca as catástrofes anunciadas até 2100. E aqui pouco interessa dizer que podem afectar, ou que provavelmente afectam. O que importa é saber quanto.
Porque o que alguns pretendem é ter o poder de influenciar decisões políticas baseadas no que pode acontecer, ou como se isso acontecesse, mesmo que não aconteça. É o esquema do “se não é, podia ser”. É a pretensão de dar um carácter absoluto ao princípio da precaução.
Que é inaceitável.
E se o mesmo princípio se aplicasse dessa forma absoluta noutras áreas?
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: A ideologia onusiana, Ambiente, Manuel Brás