<$BlogRSDUrl$>

2010/04/22

Quanto custa uma bandeira? 

Manuel Brás

Mão amiga fez chegar um artigo do “Diabo” sobre a questão das bandeiras em Valença do Minho, reflectindo, à luz da História recente, sobre possíveis significados e leituras deste incidente.

Mas a resposta à pergunta não parece ser difícil. Em Valença a bandeira portuguesa actual custa o mesmo que a bandeira espanhola: um médico. O preço porque venderam a bandeira portuguesa foi o mesmo porque compraram a bandeira espanhola. E se eu arranjar um médico americano para Valença, será que põem lá a bandeira americana? Acredito que sim.

Entretanto, as “autoridades” portuguesas (PM, PR, etc…), que fazem? Nestas coisas que mete a Pátria, sempre mudos e a assobiar para o lado, como é costume.

Talvez um dia destes apareça, não a bandeira portuguesa da Monarquia, mas a bandeira espanhola em S. Bento ou em Belém. Será que vão deixar?



Quanto custa uma bandeira?


Creio que a maior parte da população nacional, mesmo entre aqueles que ainda pensam em Portugal como sendo uma Pátria de pleno direito e não como uma mera região administrativa dos Estados Unidos da Europa, não se apercebeu plenamente do risco inerente dos últimos actos, espero que irreflectidos, ocorridos em Valença.

Uma “comissão de utentes” insatisfeitos com o encerramento do Serviço de Atendimento Permanente por parte do governo português decidiu demonstrar o seu descontentamento adquirindo, desconhecemos precisamente onde, mil bandeiras espanholas e hasteá-las por toda a cidade, a começar pela fortaleza local.

E se é certo que compreendemos a legítima indignação da população valenciana, escusado será dizer que os sectores espanhóis mais entusiastas da anexação de Portugal – e como conferencista habitual, quer de entidades de esquerda, quer de direita, nas terras de sua majestade Juan Carlos, estou plenamente a par da transversalidade de tal sentimento – ficaram deliciados com tamanho desprezo para com a nossa independência.

Transversal legado franquista?

Já em 1940 o ditador espanhol, Francisco Franco, pedira ao seu Estado Maior que elaborasse um plano para a invasão de Portugal, estes factos deveriam estar relativamente frescos na mente do público português uma vez que ainda no ano passado foi publicada a obra “A Grande Tentação: Os Planos de Franco Para Invadir Portugal”, da autoria de Manuel Rós Agudo, pela Casa das Letras.

Em diversos órgãos iberistas, na ausência de um termo geopolítico mais correcto – dado que pelo termo iberismo se subentende a posterior existência de uma qualquer federação de nações ibéricas enquanto que na eventualidade de uma anexação passaríamos a ser uma província do Reino de Espanha, logo o termo não é o mais correcto – a euforia não podia ser maior, o periódico Minuto Digital vangloriava-se com a manchete “Portugueses salen a la calle al grito de ¡Viva España!”, que nem me dignarei a traduzir, enquanto que no fórum Hispanismo, frequentado quer por franquistas espanhóis quer por ‘portugueses’ defensores de uma integração no Reino da Espanha, os ânimos estavam em alta com diversos utilizadores a recordar que já nem em Barcelona se assiste a tal fervor ‘patriótico’ espanholista, salvo quando joga a selecção (aparentemente, um mal semelhante ao nosso).

Para os leitores que tenham dúvidas acerca do igual fervor iberista por parte da esquerda espanhola, e deste poder ser de igual modo um legado franquista, gostaria de vos chamar a atenção para uma obra ainda inédita em Portugal, “Yo Tenía Un Camarada”, da autoria de César Alonso de los Rios, publicado pela Áltera em 2007, em cujo esclarecedor trabalho ficamos a par do passado de muitos dos principais intelectuais de esquerda espanhóis, franquistas convictos no anterior regime, socialistas e antifascistas credenciados na actual democracia monárquica.

Conclui-se pois que, no que toca ao entusiasmo de voltar a ver Portugal como mera província do Reino de Espanha, a transversalidade da extrema-esquerda à extrema-direita origina numa mesma escola partilhada no anterior regime é certo, mas também dum desejo recalcado que conta já com algumas centenas de anos.

Espanha avança!

Caso a coisa tivesse morrido por aqui, com a Guarda Nacional Republicana a velar somente para que não se hasteassem bandeiras espanholas nos edifícios públicos, um ultraje punido com dois anos de prisão, não haveriam quaisquer consequências de maior.

Por mais que possamos compreender a legítima indignação da população para com o Estado português pelo encerramento do SAP, tamanho protesto irreflectido – embora dada a quantidade de bandeiras reunidas em tão pouco tempo, o protesto aparente ser o resultado de uma prévia planificação – indicia, aos sectores iberistas dispersos por toda a administração civil e pelas Forças Armadas, uma certa receptividade. Recordo que já em 2006 o resultado de uma sondagem, de acordo com o semanário Sol, demonstrava que 28% dos portugueses, note-se que se trata de mais de um quarto da nossa população, preferiam ser espanhóis.

Acontece que a coisa não morreu por aqui, no passado dia 8 a Lusa anunciou uma preocupante novidade: com base num acordo celebrado entre o governo de José Sócrates e o reino espanhol na Cimeira Ibérica de Zamora, em Janeiro do ano passado, publicado na edição de 19 de Março do Diário da República, uma associação constituída por cinco municípios do Alto Minho e dezasseis municípios galegos, anunciaram que irão avançar com um estudo que possibilite a utilização dos serviços de saúde transfronteiriços.

O alcaide de Tui, do outro lado da fronteira, prestou-se a oferecer aos cidadãos portugueses o usufruto do Centro de Saúde do lado espanhol da fronteira, no qual tampouco é necessário o pagamento de quaisquer taxas moderadoras, tendo inclusive prometido um reforço de médicos e restante pessoal auxiliar.

Suicídio geopolítico?

Fazendo eu parte de uma inclinação geopolítica que defende o correcto reconhecimento da Galiza como nação lusófona com direito a assento na CPLP, estou plenamente consciente que a actual situação desencadeou um risco que nenhum de nós ponderara: a utilização da Galiza como porta de entrada do espanholismo. Não foram bandeiras galegas as hasteadas em Valença, foram bandeiras do Reino de Espanha. Os próprios galegos quando protestam possuem bandeira própria, não hasteiam a bandeira da monarquia espanhola. Como referiu ao JN um turista galego que se encontrava em Valença aparentemente avesso ao protesto dos locais, “por coisa nenhuma poria uma bandeira portuguesa hasteada em casa”.

Caso os valencianos desconheçam porque razões chegaram a tamanho desespero, permitam-me partilhar convosco os resultados das últimas legislativas: PPD/PSD – 37,45% dos votos expressos, PS – 35,17%. E vejamos as anteriores, em 2005: PS – 44,06% dos votos expressos, PPD/PSD – 34,92%.

E fico-me por aqui. Caríssimos conterrâneos, compreendo a vossa indignação, mas não seria mais fácil deixar de votar nos do costume do que renegar a nacionalidade do mais antigo Estado-Nação europeu hasteando um milhar de bandeiras de uma potência estrangeira?

O Diabo
13 de Abril, 2010



manuelbras@portugalmail.pt

Etiquetas:


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional