2008/10/27
(In)definições de Cavaco Silva (II)
Manuel Brás
Como já se previa – o Prof. Cavaco Silva é infinitamente mais previsível que a economia, sem necessidade de modelos – deixou passar a lei do divórcio que antes tinha vetado, com um embrulho quase igual, apesar das críticas à lei e das injustiças que prevê no horizonte.
Com esta espécie de solução “salomónica” parece que todos ficaram contentes.
Os “conservadores” porque a lei que vai dar mais uma machadada na coesão social, ao ponto de tornar absurdo que o Estado legisle sobre casamento e divórcio, levou uma bordoada valente, com toda a razão, mas apenas verbal.
Os “progressistas”, porque a lei passou – eles estão-se a borrifar para as observações de Cavaco – e era o que lhes interessava para entrar no caminho que os há-de guiar ao progresso. No próximo governo de Sócrates, em 2009, já virão os casamentos gay e a eutanásia.
É ridículo como esta gente acha que o casamento é uma instituição anacrónica, decadente e em vias de extinção na sociedade “pós-moderna”, mas fica deslumbrada com os casamentos gay. Afinal, o casamento só é mau para os heterossexuais.
Pior que dar uma no cravo e outra na ferradura foi o Prof. Cavaco Silva dizer que as suas críticas e reservas à lei não têm qualquer motivação ideológica. É aqui que vem ao de cima a superioridade moral da esquerda e a inferioridade moral da direita, quando certos políticos têm medo e/ou vergonha do combate pelas suas convicções. Não as sabe defender de forma convincente? Peça ajuda. Fugir do combate ideológico e fingir que não tem convicções não é solução. Se a sua posição não tem motivações ideológicas – isto é, uma ideia de homem, de mundo e de vida – contrárias e inconciliáveis com as facções radicais que dominam o PS, então o que tem?
Será que Cavaco Silva não conhece a ideologia que está por trás da lei que o dobrou?
Porque é que a esquerda passeia com superioridade a sua ideologia e os políticos como o Prof. Cavaco Silva tem medo de invocar as suas convicções?
O combate pela coesão social, assente nas estruturas da sociedade, em primeiro lugar a família, que a podem fortalecer, exige políticos e “actores sociais” bem preparados do ponto de vista intelectual e comunicacional.
O Prof. Cavaco Silva deu um péssimo contributo para a sobrevivência da sociedade portuguesa e um óptimo contributo para a atomizar ainda mais.
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