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2006/09/11

Discutir a direita portuguesa,
Como, se não soubermos o que é ser de direita? (2) 

Tal qual prometi ontem, peço-lhes para reflectirmos sobre este ponto que considerei inerente ao que é ser-se de direita:

“Respeito pela pessoa humana e igualdade fundamental de todos os homens.”

À primeira vista afigura-se incompatível a igualdade de todos os homens com a ideia que há da direita, como criadora e fomentadora das maiores desigualdades entre os seres humanos.

Enfrentar esta questão é um teste decisivo à capacidade e coragem para assumirmos a nossa qualidade de gente de direita.

Temos de aceitar como coisa natural que a direita convive bem com as desigualdades?

É uma realidade que não deve, porém, obscurecer nem o nosso raciocínio nem a nossa serenidade.

A certeza da “igualdade fundamental de todos os homens”, vem a todos nós, em geral, pela educação ou por convicção religiosa e por ambas.

Parte-se do respeito pela dignidade dos ouros homens, que a educação e as religiões geralmente nos incutem, desde pequenos, para a convicção de sermos todos essencialmente iguais, visto todos merecermos o mesmo respeito da parte de todos.

A inversa também é verdade e também se constata.

Nada disso impede que, de facto, cada um de nós lute na vida por fazer conquistas que se traduzem em diferenças de saber, diferenças de criatividade, diferenças de educação, diferenças de relacionamento, diferenças na acumulação de bens, diferenças de competências e de poder ou de poderes, diferenças de projecção social ou mediática, etc., etc..

Tudo diferenças que criam distinções sociais…

Nesta luta de todos por nos assegurarmos alguma forma de sobrevivência ou de reconhecimento pelos outros e de preponderância social – mesmo a dos santos e a dos heróis – um homem de direita jamais aceitaria que, por isso, ele próprio ponha em causa a sua convicção de igualdade essencial dos homens todos.

Isto é, nenhum homem de direita ousará defender ou pretender que os sucessos, nessa luta, lhe proporcionem privilégios perante as leis, ou que as leis referendem e sancionem os possíveis “privilégios” que a sociedade, e só a sociedade, eventualmente assegure aos vencedores.

Embora todos saibamos que as desigualdades sociais são sempre um preço que a sociedade paga pelos progressos que estão em geral na origem dessas desigualdades.

Os grandes avanços das sociedades de todos os tempos residem e vieram residindo, cada vez mais, na sua crescente capacidade – quase sempre – para evitar que essas desigualdades se instalem sem possibilidade de as vencermos e ultrapassarmos.

Sempre guiadas, essas sociedades, não obstante, pela rejeição à partida da ideia de que “propriedade é um roubo”, seja a propriedade como for e do que for.

Ideia defendida pelo socialismo radical, expressão mais acabada daquelas esquerdas dele nascidas, ou pelo socialismo refinadas, que são evidentemente o inimigo natural e fatal da direita e das suas conquistas e progressos, materiais ou imateriais, concretizados ao longo de toda a História da humanidade.

O livre acesso às desigualdades que nos enriquecem é garantido e fomentado pela aceitação e aprofundamento da nossa igualdade fundamental, quaisquer que sejam a nacionalidade e a raça ou a classe social, por exemplo.

Quanto mais iguais, mais diversos.

Quanto mais diversos, mais iguais.

A.C.R.

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