2006/09/07
O moral do Ocidente
Como viram os espíritos que mais fazem opinião na Europa o recente pico de guerra no Médio Oriente?
As mensagens e comentários que mais circularam pelos media sugerem que os seus autores viram no Hezbollah o mesmo que em Israel. Será rigoroso e objectivo avaliar as duas partes em conflito segundo o mesmo ponto de vista, segundo o mesmo padrão? Será o Hezbollah uma realidade que se pode avaliar da mesma forma que Israel?
Soaram algumas vozes surpreendidas com o facto das famosas Forças de Defesa de Israel e da respectiva Força Aérea não terem liquidado completamente o Hezbollah. Aí está a razão da diferença: enquanto o exército israelita é composto por tropas regulares, com uniforme, com unidades visíveis e bem identificadas, preparadas para a guerra convencional entre exércitos, o Hezbollah não é um exército regular, não tem uniforme distintivo, bem pelo contrário, vive no meio da população, lança rockets do meio de prédios, funciona através da guerrilha, é, ao mesmo tempo, um partido político-ideológico, com uma acção psicossocial que se estende ao sul do Líbano. O Hezbollah está para as cidades, vilas e aldeias do Sul do Líbano como os chamados “movimentos de libertação” estiveram para o mato nas antigas províncias ultramarinas portuguesas. O Hezbollah, mais do que proteger a população libanesa, é protegido por ela. Não admira, por isso, que lhe esteja sumamente grato.
Por todas estas razões, um exército regular não pode facilmente eliminar um movimento terrorista destes. As vitórias de Israel nas guerras dos Seis Dias e do Yom Kippur, bem como em outras incursões no Líbano, mais ou menos duradoiras, foram alcançadas contra exércitos regulares, não contra movimentos terroristas que se escondem no meio da população.
Foi isto que a Europa tardou, e tarda, em compreender: aquilo que torna o Hezbollah uma força especial, desde que foi criada em 1982 por inspiração iraniana. Eles bem sabem que com exércitos regulares não vão lá. Daí que o conceito da guerra tenha mudado. Agora, e cada vez mais desde há 40 anos, a guerra chama-se terrorismo.
Para além da lenta compreensão disto por parte de muitos europeus, acresce o seu baixo moral, a sua incapacidade de perceber que o que está em jogo é uma batalha civilizacional, que exige como resposta um combate cultural e político pela nossa identidade, para evitar que esse combate chegue a outras armas, se ainda for possível. Sinal inequívoco desse baixo moral é a forma como muitos europeus olharam para os mortos da guerra no Médio Oriente, que sintetizaria do seguinte modo: os mortos, de ambos os lados, contam sempre a favor do Hezbollah. Como o Hezbollah sabe que os mortos contam sempre a seu favor, quantos mais melhor. Aliás, eles pelam-se por morrer e por fazer com que os outros morram: eis a diferença.
Por triste que seja, não é de espantar que pensem e que vivam assim. O que é de espantar é que a opinião pública europeia seja levada a cair neste logro. O que é de espantar é a forma como a opinião pública europeia é manipulada para aceitar e apresentar como respeitáveis, líderes políticos tresloucados como Ahmadinejad, Hugo Chávez, Fidel Castro ou Evo Morales.
Manuel Brás
As mensagens e comentários que mais circularam pelos media sugerem que os seus autores viram no Hezbollah o mesmo que em Israel. Será rigoroso e objectivo avaliar as duas partes em conflito segundo o mesmo ponto de vista, segundo o mesmo padrão? Será o Hezbollah uma realidade que se pode avaliar da mesma forma que Israel?
Soaram algumas vozes surpreendidas com o facto das famosas Forças de Defesa de Israel e da respectiva Força Aérea não terem liquidado completamente o Hezbollah. Aí está a razão da diferença: enquanto o exército israelita é composto por tropas regulares, com uniforme, com unidades visíveis e bem identificadas, preparadas para a guerra convencional entre exércitos, o Hezbollah não é um exército regular, não tem uniforme distintivo, bem pelo contrário, vive no meio da população, lança rockets do meio de prédios, funciona através da guerrilha, é, ao mesmo tempo, um partido político-ideológico, com uma acção psicossocial que se estende ao sul do Líbano. O Hezbollah está para as cidades, vilas e aldeias do Sul do Líbano como os chamados “movimentos de libertação” estiveram para o mato nas antigas províncias ultramarinas portuguesas. O Hezbollah, mais do que proteger a população libanesa, é protegido por ela. Não admira, por isso, que lhe esteja sumamente grato.
Por todas estas razões, um exército regular não pode facilmente eliminar um movimento terrorista destes. As vitórias de Israel nas guerras dos Seis Dias e do Yom Kippur, bem como em outras incursões no Líbano, mais ou menos duradoiras, foram alcançadas contra exércitos regulares, não contra movimentos terroristas que se escondem no meio da população.
Foi isto que a Europa tardou, e tarda, em compreender: aquilo que torna o Hezbollah uma força especial, desde que foi criada em 1982 por inspiração iraniana. Eles bem sabem que com exércitos regulares não vão lá. Daí que o conceito da guerra tenha mudado. Agora, e cada vez mais desde há 40 anos, a guerra chama-se terrorismo.
Para além da lenta compreensão disto por parte de muitos europeus, acresce o seu baixo moral, a sua incapacidade de perceber que o que está em jogo é uma batalha civilizacional, que exige como resposta um combate cultural e político pela nossa identidade, para evitar que esse combate chegue a outras armas, se ainda for possível. Sinal inequívoco desse baixo moral é a forma como muitos europeus olharam para os mortos da guerra no Médio Oriente, que sintetizaria do seguinte modo: os mortos, de ambos os lados, contam sempre a favor do Hezbollah. Como o Hezbollah sabe que os mortos contam sempre a seu favor, quantos mais melhor. Aliás, eles pelam-se por morrer e por fazer com que os outros morram: eis a diferença.
Por triste que seja, não é de espantar que pensem e que vivam assim. O que é de espantar é que a opinião pública europeia seja levada a cair neste logro. O que é de espantar é a forma como a opinião pública europeia é manipulada para aceitar e apresentar como respeitáveis, líderes políticos tresloucados como Ahmadinejad, Hugo Chávez, Fidel Castro ou Evo Morales.
Manuel Brás
Etiquetas: Em defesa do Ocidente, Manuel Brás