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2010/08/30

O mistério de Ground Zero 


Há alguns anos um ensaísta sintetizava as diferenças entre a América e a Europa, ou aquilo que resta da Europa, dizendo que os americanos são de Marte e os europeus são de Vénus.

Não admira que em virtude disso, e da filtragem mediática a que os europeus são submetidos, estes tenham acrescidas dificuldades em descodificar a informação que recebem sobre a América e de compreender a dinâmica da sociedade americana.

Talvez seja difícil ao europeu reduzido e resignado a cidadão dirigido pelo Estado “social” compreender o surgimento de um movimento e de uma campanha contestando a construção de uma mesquita e de um centro islâmico, em Nova York, muito próximo do Ground Zero.

Habituados a “comer e a calar” tudo o que o Estado, através dos seus políticos, lhes impõe, os europeus facilmente cairão na tentação de pensar que tal campanha visa coarctar a liberdade religiosa e de culto dos muçulmanos em Nova York. Nada mais falso.

Não é a liberdade religiosa ou de exibir símbolos religiosos que está em jogo. Na América, ao contrário do que sucede na União Europeia, não há perseguição a véus islâmicos, crucifixos, nem, em geral, à manifestação pública de convicções religiosas. O que está em jogo é o local, pelo simbolismo decorrente dos factos que ali sucederam. O que o movimento contestatário propugna é a construção da mesquita, mas não ali, onde daria para pensar tratar-se de um prémio.

Para os europeus mais facilmente compreenderem o que está em jogo imaginemos que em vez de uma mesquita se ia construir no mesmo local uma igreja, uma igreja católica, sublinho uma igreja católica. Perante a contestação dos grupos do costume com a habitual parafernália mediática, todos os europeus compreenderiam e aceitariam que não era apropriado construir ali uma igreja, e muito menos católica. Pois trata-se de usar a mesma medida.

Curiosamente, junto às Twin Towers existia uma igreja ortodoxa grega que foi destruída e cuja reconstrução não está prevista. Mas isso parece que não escandaliza ninguém.

Uma solução mais equitativa, dentro da magnanimidade que caracteriza a Constituição e a sociedade americanas, seria construir junto ao Ground Zero, além da mesquita, uma igreja ortodoxa, uma católica, uma evangélica e uma sinagoga. Seria um sinal inequívoco de que no Ocidente sabemos que nem todos os muçulmanos são terroristas.

Mas disso parece que ninguém se lembrou.

manuelbras@portugalmail.pt

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