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2010/02/01

A ética republicana 


Manuel Brás

Já aqui referimos que nada temos de pessoal contra os republicanos, que os há, tal como existem monárquicos, de uma competência, honestidade, profissionalismo e patriotismo a toda a prova. E queria aqui citar, a título de exemplo destas qualidades, o Dr. Artur Santos Silva, que não conheço pessoalmente, mas que me merece o maior respeito e consideração.

Porém, isso não obsta a que se encontrem à volta das celebrações do centenário algumas pretensões de revivalismo histórico verdadeiramente anacrónicas e outras de difícil aceitação.

A primeira delas é a chamada “ética republicana” que pretende fazer a apologia de um singular civismo e dedicação à coisa pública exclusivos de republicanos, como se os republicanos fossem homens diferentes dos outros, seres superiores e iluminados, que nasceram com asas nas costas. Então D. Afonso Henriques, D. Dinis, D. João I, D. Nuno Álvares Pereira, D. João II, D. João IV, D. Luís e D. Carlos, entre muitos outros, não se dedicaram à coisa pública? Ou seriam republicanos? Os assassinatos de D. Carlos e de D. Luís Filipe, vulgo Regicídio, não nos dizem nada sobre a “ética republicana”? Ou será que o Buíça não era republicano?

O reconhecimento dos limites e limitações do republicanismo por parte de pessoas como o Prof. Cavaco Silva ou o Dr. Artur Santos Silva fica-lhes bem e abona em favor das respectivas honestidades intelectuais. O que é difícil de aceitar é a ideia de ter hoje um republicanismo sem confronto e sem conflito social, pois a ideologia que mobilizou as hostes republicanas foi uma ideologia de confronto e de destruição das estruturas sociais e das instituições multisseculares, assumidas por mais de 750 anos de regime monárquico e de vida da Nação. Algumas dessas estruturas e instituições ainda hoje existem, tais como o casamento e a família, as associações profissionais ou as agremiações culturais, os municípios, a Igreja, etc.

Há até legítimas e boas razões para pensar se certas investidas legislativas do governo actual, como o aborto, o divórcio (para os heterossexuais), os “casamentos” e adopções (para os homossexuais) e a eutanásia não fazem parte de uma agenda oculta posta em prática à pressa nos últimos anos para fazer jus a esse combate pela destruição dessas estruturas e instituições da sociedade.

Por fim, as comemorações do centenário encerram uma contradição digna de registo: os republicanos, que sempre juntam a esse nome o apelido de “anti-fascistas”, estão a celebrar também o Estado Novo, o odiado regime a que tanto se dizem ter oposto. Não há hipótese de fuga. Das duas uma: ou assumem o regime do Estado Novo como republicano ou então o que celebram é um “centenário” de pouco mais de 50 anos de regime.

Porém, mais importante que o regime é Portugal, que é hoje um País nas lonas, dirigido há quase 36 anos por um regime fortemente republicano. Será que isto não significa nada? O republicanismo que se senta no poder não tem responsabilidades? Será que é mesmo este republicanismo, esta ética podre que nos governa hoje, aquilo que serve e interessa a Portugal?

Não confundamos Portugal com repúblicas.

Repúblicas, há muitas. Portugal, há só um!

manuelbras@portugalmail.pt

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