<$BlogRSDUrl$>

2006/11/06

Futuro do Ocidente e Médio Oriente 

Dizem alguns comentadores e observadores que as eleições intercalares americanas de 7 de Novembro são, mais do que qualquer outra coisa, um referendo à intervenção militar americana no Médio Oriente. Admito que sim. Que neste acto eleitoral alguns americanos usem o voto para manifestar o maior ou menor desagrado com a situação. Não se deve esquecer, porém, que ninguém, por mais poderoso que seja, pode controlar absolutamente, no tempo e no espaço, acções adversas. E neste caso, a guerra tem facetas novas e particularmente difíceis, que já aqui foram recordadas: a guerrilha, acções de organizações terroristas, a presença hostil da Síria e do Irão aos lados.

A presença militar anglo-americana no Iraque, que os governantes iraquianos já pediram para prolongar por mais três anos, o dobro do que as forças ocidentais pretendem, exerce pressão sobre a Síria e o Irão, num momento em que este último multiplica as suas ameaças ao Ocidente e a Israel, que propõe banir do mapa – convém recordar –, seja com testes de mísseis, seja com a possibilidade de desenvolver armas nucleares.

É evidente que as tropas ocidentais não querem, nem podem, permanecer indefinidamente no Médio Oriente, mas de lá só deverão sair quando houver condições mínimas para o país funcionar de forma independente, em paz e segurança.

Eis 5 razões pelas quais uma saída precipitada e repentina do Iraque teria consequências desastrosas para todos, muito mais desastrosas que a própria intervenção em si, na medida em que deitaria tudo a perder:

1) generalização de uma guerra civil no Iraque, com a desintegração do exército iraquiano em facções e milícias hostis

2) a geração de uma catástrofe humanitária, à semelhança da Bósnia e do Kosovo, tendo em conta as tensões étnicas, tribais e religiosas entre os vários grupos sociais

3) o triunfo da al-Qaeda e de outras organizações terroristas, que proclamariam a sua vitória, provando assim que os EUA – e, portanto, o Ocidente – é um tigre de papel

4) o Iraque transformar-se-ia num santuário para o recrutamento e treino de (mais) terroristas e bombistas-suicidas, além de cair, pelo menos a parte xiita, sob o domínio do Irão

5) declínio da produção de petróleo, a principal actividade económica do país: em 2005 produziu 1,9 milhões de barris por dia; em Junho de 2006 estava com uma média de 2,5 milhões de barris por dia

É evidente que podemos apontar aos EUA incoerências na sua política externa ao longo dos últimos 100 anos. São factos e realidades que já aqui foram apontados e que Portugal também sofreu em algum momento da sua História recente. Essa incoerência é fruto da primazia que os americanos dão aos seus interesses em cada instante – está diagnosticada –, ao contrário do que, curiosamente, sucede com os governantes e governos portugueses.

Mas, hoje, do desfecho desta acção também dependemos nós, europeus, porque é também ali que se joga o futuro da segurança na Europa.

Se os democratas tomarem o controlo do Congresso, o que é que vão fazer? Assinar o tratado de rendição e fugir no dia seguinte? É esse o plano democrata? Ou vão fazer o mesmo que os republicanos?

Em qualquer caso, a tarefa parece ser ingrata para os democratas: no primeiro porque assinariam uma derrota numa intervenção cuja iniciativa não foi deles; no segundo porque, após tão duras críticas à política do actual governo, acabariam por fazer exactamente o mesmo para não ter que entregar o Iraque ao Irão.

É isto que os americanos no dia 7 têm que ter em conta, assim como quem está do outro lado da guerra e do terrorismo no Médio Oriente.

De resto, só era interessante saber porque é que os ocidentais só condenam a guerra que a coligação anglo-americana faz ao terrorismo, mas nunca condenam a guerra que o terrorismo todos os dias faz ao Ocidente, seja através da guerrilha, seja através de provocações e de intimidações do Hizbollah, do Irão ou da Coreia do Norte.

Nós temos sempre que pensar que, no combate ao terrorismo, se cedermos eles também cedem. Mas, curiosamente, esse raciocínio nunca é feito ao contrário. Porque será?

Manuel Brás
manuelbras@portugalmail.pt

Etiquetas: ,


This page is powered by Blogger. Isn't yours?

  • Página inicial





  • Google
    Web Aliança Nacional