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2005/07/25

Há Sócrates e Sócrates 


O “Público” de sábado apresentou a pgs. 8 duas citações dum trabalho do filósofo José Gil, na “Visão” de 21.

Escreveu José Gil, segundo a 1ª citação:

“Precisamos, hoje, mais do que nunca, de solidariedade, coesão, laços de respeito mútuo e vontade comum à volta do reconhecimento de uma situação `à beira do abismo´ que nos ameaça a todos.”

Do mesmo trabalho, o “Público” volta logo a seguir a citar o filósofo:

“Se a colectividade nacional não apresenta coesão, é porque os portugueses não gostam uns dos outros. E não gostam uns dos outros porque não gostam de si.”

Lê-se e não se acredita, mesmo admitindo a hipótese remota de as citações serem truncadas e até a de que haja, no original, passagens capazes de alguma coisa amenizarem ou explicarem das terríveis citações transcritas.

Mas quem leu o famosíssimo último livro de José Gil - “Portugal Hoje – O Medo de Existir” – não tem razões para as não considerar perfeitamente integradas no contexto do mesmo.

Não tenho qualquer dúvida, por mim, de que o A. não mudou nada no seu pensamento e sentimentos, a não ser que o seu pessimismo e total desesperança se afiguram agora ainda mais agravados e impiedosos.

Só esperaria que, com tantos livros vendidos, diz-se e lê-se, o A. viesse confessar ter ainda entretanto descoberto uma nova e terrível tara dos Portugueses: a de ingerirem, em doses surpreendentes, como que suicidárias, as drogas masoquistas que tantos intelectuais portugueses lhes proporcionam e vendem, com evidente comprazimento de uns e outros, autores e leitores.

Seria interessante, e talvez tivesse alguma utilidade, que José Gil nos explicasse como pensa que um povo que no seu livro ele qualifica de feito exclusivamente de gente tolhida (ou movida) pelo medo, pela inveja, pela cobardia, pela desmemoriação total, colectiva, do seu presente e do seu passado (que outra coisa não é a nossa alegada incapacidade para a “inscrição”), eu gostaria, todos gostaríamos de saber como poderá um povo assim, de um instante para outro, passar a revelar “solidariedade, coesão, laços de respeito mútuo e vontade comum à volta de uma situação à beira do abismo”.

Que o filósofo nos explique a possibilidade de tal milagre!

Que ele nos diga, a todos nós, que para mais, segundo ele, não gostamos nada uns dos outros, nem cada um ao menos de si próprio, como pode chegar-se a tal “impossível”.

O seu colega Sócrates, não falo do que temos (que esse ficaria ainda mais feliz que eu), repito, o seu colega Sócrates (o mestre de peripatéticos) mandava-lhe um doce, pela certa.

E que honra não seria para si, caríssimo Filósofo!

A.C.R.

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