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2003/07/16

Nacionalismo e Israel 

Sétima clarificação — Nacionalismo novo para resolver problemas novos e para resolver problemas velhos. Este último aspecto obriga-me a apresentar e discutir já uma questão que é candente, como exemplo cimeiro das tarefas e dificuldades que o novo nacionalismo virá a enfrentar internacionalmente.
É a questão judaica com os seus recentes desenvolvimentos e fundamentalmente em consequência da criação do Estado de Israel, há quase 55 anos.
Pela primeira vez desde há mais de cinquenta anos, o judaísmo mundial apresenta-se, perante a opinião pública universal, numa posição defensiva muito difícil.
Como sempre, também agora a questão judaica não deve ser tratada de âmbito leve. Nem pode, aliás.
Quer queiramos ou gostemos, quer não, o judaísmo mundial está tão poderosa e intimamente imbricado no mundo ocidental, a que pertencemos, que aquilo que lhe fosse fatal poderia ser-nos igualmente fatal e a todo esse mundo.
Os Judeus podem não ter sido os primeiros agentes principais do desencadear da Revolução Francesa. Aliás, só depois de profundas fracturas internas uma importante facção do judaísmo aderiu plenamente aos ideais da revolução, de resto não sem grandes lutas e traumas que ainda sobrevivem. Mas do que não há dúvidas é de terem estado eles entre os principais beneficiários da Revolução Francesa, uma vez que o antigo Regime, por toda a Europa continental, com a excepção da Holanda, e creio que do Estado Vaticano, lhes condicionava fortemente a liberdade de movimentos e os direitos religiosos, sociais e políticos. Com as sucessivas revoluções liberais, filhas da Revolução Francesa, nos diversos Estados europeus, vai-se de modo geral estendendo e alargando o clima de tolerância que por toda a parte consolida o poderio que os Judeus já antes tinham, devido à sua explosão demográfica e pelo seu poder económico, como pelas posições conquistadas nos domínios do saber e das profissões liberais ou da administração pública.
Digamos que, com a Revolução Francesa e suas derivadas, os Judeus passaram a considerar-se à solta.
O poderio crescente daí derivado, com as leis liberais que logo aprendem a largamente usar em seu proveito, cria-lhes porém muitos novos inimigos, entre as populações dominantemente burguesas e populares dos países onde vivem, que se sentem vítimas supostas da tirania económica e social de que acusam os Judeus.
Não admira, por isso, que o séc. XIX venha a assistir à multiplicação das perseguições aos Judeus, com “progroms” sistemáticos mesmo, e até ao acirrar e generalização, em muitos casos, do anti-semitismo militante.
Tal se verifica, por exemplo, em França, mas especialmente nos Impérios e Países da Europa Central e Oriental. A tal ponto que é francamente aceitável considerar o peso que a questão judaica presumivelmente terá tido no desencadear da I Guerra Mundial, a de 1914-18.
A ponto de o Judaísmo mundial se poder considerar um dos grandes vencedores se não mesmo o grande vencedor da Grande Guerra.
Em primeiro lugar porque os grandes Impérios onde os sentimentos populares anti-judaicos eram mais acirrados (o Império Alemão e o Império Austro-Húngaro) saíram do rescaldo da Guerra derrotados e desmembrados; e, em segundo lugar, derrotada também a Turquia na Grande Guerra, os Ingleses abriram caminho à invasão pelos Judeus da Palestina que herdaram do Império Otomano.
Ficou assim possibilitada a concretização dos compromissos da Declaração Balfour assinada em 2 de Novembro de 1917, onde a Grã-Bretanha — logo apoiada pelos EUA — prometia aos sionistas todos os esforços para “o estabelecimento na Palestina do Lar Nacional para o povo judaico”.
Sob protectorado da Palestina, estabelecido pela Sociedade das Nações a favor da Grã-Bretanha, depois da vitória dos Aliados em 1918, os Judeus vão passar a instalar-se livremente como colonos na Palestina, em grande quantidade e ao ritmo dum verdadeiro delírio nacionalista. Preparavam-se assim, a partir do estádio de colónia de facto inglesa, mas povoada de judeus, para verem reconhecido mais tarde, à Palestina, quase completamente judaizada, o estatuto de estado independente. Mas só em 15.11.48, três anos e meio depois de finda a II Guerra Mundial (1939-45) e com a sabida violência que se seguiu contra os naturais palestinianos do território, expulsos do novo Estado de Israel sem dó nem piedade, pela força das armas.
Saiu deste modo bastante frustrada a tentativa de fazer passar a independência da Palestina, a favor dos Judeus, como o primeiro ou um dos primeiros actos do movimento de descolonização que se seguiria à nova vitória dos Aliados numa Guerra Mundial, a 2ª do séc. XX.
Não obstante esse precalço, pode também dizer-se, como da I Guerra Mundial, que os grandes vencedores ou um dos grandes vencedores da Segunda foram igualmente os Judeus.
Certo é que só essa vitória permitiu aos Aliados coroar com êxito e sem oposição no Mundo — senão a dos Árabes e a dos Palestinianos, algo imprevista — trinta e um anos depois da Declaração de Balfour, o processo inteiramente artificioso e altamente violento da criação do Estado de Israel, objectivo perseguido desde havia 50 anos.
Na verdade, mais que artificioso. Pois que se pretendeu insinuar como de descolonização um acto que foi um puro acto do mais meridiano colonialismo, bem à maneira do séc. XIX em África, até com o esmagamento do povo autóctone, os Palestinianos.
A ponto de o modelo inspirador da diplomacia aplicada poder perfeitamente ter sido a criação em 1891 (Conferência de Berlim) do Estado Livre do Congo, fruto exclusivo, ou quase, de pura estratégia de chancelarias convertidas, por altos interesses próprios de todos os participantes, mesmo Portugal, ao genial projecto de Leopoldo II da Bélgica.
No caso de Israel, o génio pessoal que tudo desencadeou modernamente foi o do Judeu Teodoro Herzl, criador pouco tempo a seguir à fundação do Estado Livre do Congo, com o Congresso de Basileia, em 1897, do Movimento Sionista Mundial cujo objectivo era precisamente a criação dum Estado Livre para os Judeus, em Sião ou Palestina, exactamente.
Agora Israel, acossado pelos Palestinianos e pelas forças árabes vindas do Líbano fronteiriço, começa a desesperar, sem encontrar saída para a situação criada ao longo destes anos.
É o Estado de Israel um Estado nacionalista?
Talvez mais que nenhum outro na actualidade.
Mas sofre o seu nacionalismo do pecado original da sua formação, ao surgir do abuso da violência imerecida contra uma nação — a palestiniana —tão legítima como Israel.
E, talvez antes de tudo, por precisamente a sua origem e a violência da sua criação poderem torná-lo um Estado para sempre minado, para sempre em perigo e para sempre fonte de perigos graves para outros Estados — seus vizinhos e não só —, pondo de facto ele próprio a sua própria viabilidade em questão, até ao fim dos tempos.
Pode, com realismo, admitir-se a viabilidade dum Estado que não tem outra saída senão a guerra, permanentemente ameaçando fazer perecer os Estados seus vizinhos?
Trata-se, mais que de um Estado, de um estado patológico que a qualquer momento pode pegar fogo ao mundo.
Podemos nós, os novos nacionalistas, considerar como um dos nossos um Estado agressor assim?
Israel teria, para tanto, de começar por fazer com os Palestinianos e Árabes seus vizinhos regionais um tratado de paz convincente e definitivo.
Sem isso, repito, as situações criadas por Israel ameaçam a todo o momento pegar fogo ao mundo atirando-nos para uma completamente incerta 4ª Guerra Mundial, que temos de evitar, na convicção de que, logo à partida, os EUA os acompanharão e que a própria EU não poderá deixar de segui-los.
Talvez seja uma ilusão.
Israel ganhou a 1ª guerra mundial; ganhou a 2ª também; mas a sua vitória na 3ª — a Guerra Fria — talvez não tenha sido tão clara assim, não obstante as aparências e o facto para muitos indiscutível de Israel ter saído dela, efectivamente, como a 1ª potência à escala mundial.
Parece um exagero e uma cegueira nossa?
Pois que é senão isso, ou seja, uma 1ª potência à escala mundial, aquela que a todo o momento impõe ao Ocidente que se bata por ela no terreno mais movediço de todos, o do Próximo e Médio Oriente, e que exige rendição incondicional às potências suas parceiras de “aliança” — a Alemanha, a França, a Itália, a Grã-Bretanha, a Igreja, etc., etc. — obrigando todos, sem contrapartidas da sua parte, a rogar-lhe perdões históricos e a prestar-lhe contas por tudo e mais alguma coisa?
Não terá Israel esticado demasiado a corda?
Não corre o risco de todos, definitivamente desiludidos, abandonarem Israel à sua sorte?
Para o evitar Israel terá de fazer a paz, avançando com o seu primeiro gesto de humildade e grandeza. Não parece capaz disso.
É que, repito, desta vez a vitória de Israel não foi, apesar das aparências, tão clara assim: porque ficou com o problema da Palestina a enfraquecê-lo cada vez mais e porque os seus actuais inimigos também beneficiaram da vitória da Guerra Fria, também estiverem com os seus vencedores.
Israel sabe, por isso, que se calhar pela primeira vez também, não sei em quantos séculos ou milénios, não têm os seus aliados, resignados ou não, que temer a hipóteses de que Israel se passe para o campo dos outros. Somos, de algum modo, todos reféns um dos outros.
Mas também será verdade que o Judaísmo mundial é um parceiro incontornável.
Não terá que recear a sua possível perda de peso relativo no campo ocidental.
Será sempre tratado com grande dignidade entre os parceiros a que está condenado: Democratas, Cristãos em geral, Católicos em especial, e Nacionalistas.
Só há que insistir: faça Israel o gesto de humildade e grandeza indispensável e terá a compreensão esclarecida de muitos nacionalistas.

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